1994: Restaurado o funicular de Kitzsteinhorn
Novembro de 2000. Nos Alpes, começava a temporada de esqui. A maior área de esportes de inverno da Áustria, onde sempre há neve em abundância, estende-se em torno do pico de Kitzsteinhorn, de 3200 metros de altura.
A geleira assegura a possibilidade de esquiar durante o ano inteiro. Também em 2000, o diretor do Departamento de Turismo de Kaprun contava com um número crescente de visitantes. Mas tudo foi diferente do que se planejava.
Quando o funicular do Kitzsteinhorn começou a circular, na manhã de 11 de novembro, já havia um grande movimento na estação ao pé da montanha. Inúmeros grupos de esquiadores disputavam os lugares no primeiro comboio que subiria a montanha nesse dia.
Quando as portas do Gletscherdrache (Dragão da Geleira) – esse o nome do trem – foram fechadas, pontualmente, às 8.30 horas, cerca de 180 pessoas, com os respectivos equipamentos de esqui, apertavam-se dentro dos vagões.
A subida começou lentamente, e a velocidade foi aumentando pouco a pouco para cerca de 10 metros por segundo. A viagem até a estação final no alto da montanha tem uma duração prevista de apenas nove minutos. Após um pequeno trecho a céu aberto, o trem entra num túnel – a maior parte dos quatro quilômetros do percurso é subterrânea.
Obra de prestígio da engenharia austríaca
Na metade do caminho, existe um desvio para o cruzamento dos trens – o que sobe e o que desce. Como em muitos outros teleféricos, também no funicular do Kitzsteinhorn existem dois comboios: um desce a montanha ao mesmo tempo em que o outro sobe. Eles rodam sobre trilhos, como uma ferrovia comum, mas estão presos a cabos de aço.
Como de costume nos últimos 26 anos, também essa viagem transcorreu sem incidentes. Quando as portas dos vagões foram abertas, na estação do alto da montanha, os esquiadores empurraram-se, impacientes, para fora. Com a mesma impaciência, outros turistas esperavam, na estação do vale, a sua vez de entrar nos vagões que os levariam ao topo da montanha.
Fazia apenas dois meses que os concessionários do funicular do Kitzsteinhorn tinham mandado fazer uma inspeção completa nas instalações. Todos os motores funcionavam perfeitamente; apesar da sua idade, o teleférico estava em perfeitas condições. A ferrovia funicular tinha sido inaugurada em março de 1974. Na época, era tida como uma obra-prima da técnica e foi festejada como uma obra de prestígio da engenharia austríaca.
Afinal, era o teleférico mais extenso e também o primeiro que circulava a maior parte do seu percurso dentro de um túnel. E com um ângulo de subida de 45 graus. Os comboios eram puxados por um cabo de aço de cinco centímetros de diâmetro, um motor com potência de 3200 cavalos-vapor movia as polias, garantindo uma viagem rápida. Segundo a inspeção de rotina, tudo estava em perfeita ordem.
E, por que se preocupar? Afinal, a instalação tinha sido inteiramente restaurada seis anos antes, sendo reaberta a 9 de julho de 1994. Os dois comboios – batizados de Gletscherdrache e Kitzsteingams (Camurça de Kitzstein) – eram novos, tendo sido postos em operação naquela época. Foram construídos de material leve e, quase exclusivamente, de material não-inflamável.
Inspeção sem resultados
Quando os técnicos em segurança da organização TÜV fizeram a inspeção do funicular, não se constatou qualquer tipo de irregularidade. Por volta das 9.00 horas, o Kitzsteingams começou a subida, inteiramente lotado. Era a segunda viagem para o alto da montanha nesse dia.
Os 165 passageiros só têm pouco tempo para apreciar a paisagem das montanhas, antes que o trem entre no túnel. Pouco depois, começou o desastre: o teleférico parou, o túnel encheu-se de fumaça e de chamas. Os passageiros tentaram abrir as portas dos vagões, mas não conseguiram.
Só posteriormente é que se ficou sabendo que as portas não podiam ser abertas do lado de dentro dos vagões, por questão de segurança. Mesmo os golpes mais desesperados contra os vidros das janelas não conseguiram quebrá-los: os vidros de acrílico eram praticamente indestrutíveis, revelou-se depois. Entre os passageiros, espalhou-se o pânico. Foram poucos os que conseguiram abrir um rombo nas vidraças, de tamanho suficiente para escapar.
Desses, a maioria fugiu para o alto do túnel, correndo do foco do incêndio, que se localizava no vagão inferior. Para eles, a fuga foi em vão. A corrente térmica ascendente fez do túnel uma espécie de chaminé, alimentando ainda mais o fogo. A fumaça tóxica do plástico queimado envolveu os que tentavam fugir montanha acima: eles ficaram inconscientes em poucos minutos e não escaparam das chamas.
Os passageiros que desceram a montanha, passando ao lado do foco do incêndio, puderam salvar-se: apenas 12 pessoas sobreviveram ao terrível acidente do Kitzsteinhorn. Tanto o Kitzsteingams como o Gletscherdrache, que também ficara bloqueado no túnel, queimaram inteiramente.
Caso se tivesse pensado em melhores medidas de segurança, durante a construção do teleférico em 1974 ou na sua restauração em 1994, um número maior de pessoas teria sobrevivido ao acidente. Não havia áreas de refúgio, nem túnel paralelo de salvamento.
O teleférico, que fora apresentado na sua inauguração como o primeiro “metrô de montanha” do mundo e que era tido como um objeto de prestígio, transformou-se numa desgraça para uma das mais belas regiões de esportes de inverno da Áustria.