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História

1994: Treuhand encerra atividades

Henrik Böhme (gh)

No dia 31 de dezembro de 1994, sem festa nem pompa, Birgit Breuel desparafusou a placa da porta da Treuhandanstalt, encerrando as atividades da mais poderosa e controvertida empresa pública da Alemanha reunificada.

Sede ficava na Leipziger Strasse em BerlimFoto: dpa

Em quatro anos e meio, essa sociedade fiduciária transformara a ex-República Democrática Alemã (RDA) num imenso balcão de negócios, na maior campanha de privatizações da história.

A holding estatal Treuhandanstalt (também chamada Instituto Treuhand) foi criada ainda antes da unificação política da Alemanha, em agosto de 1990, com os votos dos primeiros e únicos parlamentares da RDA eleitos democraticamente. Sua tarefa inédita era administrar, liquidar e privatizar o que antes era "patrimônio do povo" (14 mil empresas e imóveis) e transformar a "economia planificada" alemã-oriental numa economia social de mercado.

Mas o aspecto "social" acabou sendo esmagado pelo martelo dos leilões e a Treuhand transformou-se em bode expiatório da herança deixada pela Alemanha Oriental: uma economia sucateada e altas taxas de desemprego.

Privatização a toque de caixa

Privatizar a economia da RDA foi muito fácil nos setores de hotelaria, gastronomia e entretenimento. Os supermercados estatais também foram rapidamente arrematados por conglomerados alemães ocidentais. O maior problema foi vender estatais envolvidas em desastres ecológicos – como um complexo petroquímico – ou que dependiam exclusivamente das exportações para a União Soviética, caso da indústria naval.

O processo de privatização, no entanto, era socialmente explosivo. Prova disso foi que o primeiro presidente da Treuhand, Detlev Karsten Rohwedder, permaneceu apenas um ano no cargo, sendo assassinado por terroristas em agosto de 1991.

Sua sucessora, Birgit Breuel, adotou o seguinte princípio: "Privativar rápido é a melhor maneira de sanear. A privatização traz algo que o saneamento jamais poderia proporcionar: capital, engajamento e gerenciamento empresarial, know-how comercial e tecnológico, produtos competitivos e experiência de mercado".

A privatização a toque de caixa revoltou, sobretudo, o "proletariado" ameaçado de desemprego. O número de funcionários ligados às estatais administradas pela Treuhand foi reduzido de quatro milhões para 1,5 milhão.

Mão de obra excedente e infraestrutura superada

No auge de suas atividades, a Treuhand chegou a ter quatro mil "colaboradores". Dona de toda a economia da ex-RDA, a direção da holding era responsável também por investimentos, infraestrutura, colheitas e, em milhares de casos, pela sobrevivência ou não de empresas que estavam à beira da falência por excesso de mão de obra.

Para absorver pelo menos em parte o impacto social da derrocada da economia comunista, consumada com a unificação monetária, a Treuhand exigia dos compradores de empresas sob seus cuidados a garantia de manterem, por certo tempo, um grande número de empregos.

Outro critério decisivo nos leilões foi o volume de investimentos em tecnologia prometido pelos compradores, já que a ex-RDA não passava de um museu industrial, com produtividade comparável a um país do Terceiro Mundo.

A Treuhand atuou de forma descentralizada, com uma sede em Berlim e 15 escritórios nos chamados novos estados alemães (o Leste do atual país). Ao encerrar suas atividades, em 1994, contabilizou nada menos do que 85 mil contratos fechados e compromissos de investimentos no montante de 200 bilhões de marcos.

Aproximadamente 6.500 empresas tinham sido total ou parcialmente privatizadas. Cerca de 7.600 empresas originaram-se, entre 1990 e 1994, do desmembramento de conglomerados estatais. A Treuhand também devolveu cerca de 4.300 empresas a seus antigos proprietários e acumulou uma dívida de 275 bilhões de marcos. Mesmo assim, segundo os analistas, nunca existiu uma alternativa para a maior holding da história da economia.

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