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História

1998: Grupo terrorista alemão RAF anuncia dissolução

Johannes Beck

Em 20 de abril de 1998, o grupo terrorista alemão Fração do Exército Vermelho (RAF) anunciou sua dissolução. As raízes da organização estavam no movimento estudantil de 1968 e nos protestos contra a Guerra do Vietnã.

Rote Armee Fraktion RAF
Carta em que RAF anuncia sua dissoluçãoFoto: picture-alliance/dpa/T. Brakemeier

"No dia 14 de maio de 1970, havia surgido a partir de uma ação libertária a Fração do Exército Vermelho (RAF). Hoje pusemos um ponto final no nosso projeto. A guerrilha urbana na forma da RAF, agora, é história. 'Nós' – que estivemos organizados na RAF até o fim – tomamos essa decisão conjuntamente. A partir de agora, somos ex-militantes da RAF. O fim desse projeto mostra que não conseguimos nos impor por esse caminho. Mas nada se opõe à necessidade e legitimação da revolta."

Com esta carta enviada à agência de notícias Reuters, o grupo guerrilheiro urbano Fração do Exército Vermelho (RAF, sigla para Rote Armee Fraktion, nome do grupo em alemão), responsável por sangrentas ações terroristas na Alemanha entre os anos 1970 e 1980, anunciou sua dissolução no dia 20 de abril de 1998. A organização de extrema esquerda, fundada por Andreas Baader e Ulrike Meinhof, gerou desconfiança até mesmo ao encerrar, oficialmente, suas atividades. Numa mensagem semelhante, a RAF já havia anunciado a suspensão dos atentados em 1992.

Origem no movimento estudantil

A RAF foi, ao longo de quase três décadas, o movimento terrorista mais temido na Alemanha. Pelos menos 50 pessoas – entre militares americanos, políticos e empresários – foram mortas pela organização. O grupo originou-se do movimento estudantil de 1968. Naquele ano, Andreas Baader e Gudrun Ensslin incendiaram dois estabelecimentos comerciais em Frankfurt, em protesto à guerra no Vietnã. Condenados a dois anos de prisão, foram soltos em 1969. No ano seguinte, Baader – novamente preso – foi libertado por um comando liderado pela jornalista Ulrike Meinhof. Aí nasceu a RAF.

Nos meses seguintes, seus militantes foram treinados por terroristas palestinos na Jordânia. Ideologicamente, baseavam-se na guerrilha urbana da América do Sul, inspirada em Che Guevara. Os primeiros alvos de seus atentados à bomba foram o conservador grupo editorial Springer, de Hamburgo, e a sede das Forças Armadas americanas na Europa, em Heidelberg. Com isso, a RAF queria torpedear o sistema de economia de mercado e democracia liberal da Alemanha Ocidental.

Sequestro de avião

Em junho de 1972, o grupo sofreu o primeiro revés: todos os seus líderes foram presos. No entanto, a RAF sobreviveu. No auge de suas atividades, em 1977, assassinou o procurador-geral da República, Siegfried Buback, o diretor-presidente do Dresdner Bank, Jürgen Ponto, e o presidente da Confederação das Associações de Empregadores Alemães (BDA), Hanns-Martin Schleyer. Além disso, sequestrou um avião de passageiros da Lufthansa para a Somália, para forçar a libertação de seus militantes. Fracassado o sequestro, Baader, Ensslin e Jan Carl Raspe se suicidaram em suas celas. Ulrike Meinhof já havia se enforcado um ano antes.

Em 1968, Thorwald Proll, Horst Söhnlein, Andreas Baader e Gudrun Ensslin foram julgados em FrankfurtFoto: picture-alliance/dpa

O poder público reagiu ao terrorismo com métodos de investigação mais rigorosos. Em todos os postos de correios da Alemanha foram afixadas ordens de captura de terroristas. O Parlamento alemão aprovou várias leis controvertidas, como o perdão a terroristas arrependidos que denunciassem membros da RAF e o isolamento completo dos guerrilheiros presos. Além disso, foram ampliados os mandados de busca e apreensão e a obrigatoriedade do registro domiciliar, e foram introduzidas carteiras de identidade não falsificáveis.

Nos anos 80, a RAF entrou em declínio. Vários terroristas "arrependidos" sumiram na clandestinidade, na então Alemanha Oriental. Protegidos pela Stasi, o serviço secreto do país sob regime comunista, mantiveram-se escondidos até a reunificação alemã, executando atentados isolados. Em 1989, a RAF assassinou o diretor-presidente do Deutsche Bank, Alfred Herrhausen, e, dois anos mais tarde, Detlef Rohwedder, presidente da holding estatal Treuhandanstalt, encarregada de privatizar a economia da ex-Alemanha Oriental.

Não se sabe ao certo se esses dois atentados foram de autoria da RAF. Em março de 1993, o grupo ainda explodiu uma penitenciária, às vésperas da inauguração em Weiterstadt (Hessen). 

No total, 26 membros da RAF foram condenados à prisão perpétua. As petições de perdão causaram muitos debates entre a opinião pública alemã sobre como lidar com ex-terroristas. Em junho de 2011, Birgit Hogefeld foi a última ex-membro a ser libertada da prisão.

 

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