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HistóriaEuropa

1999: Otan ataca Iugoslávia

Frank Gerstenberg

Na noite de 24 de março de 1999, um míssil teleguiado da Otan atingiu Belgrado. Ataque ocorreu em nome de intervenção humanitária, sem mandato da ONU, transgredindo o direito internacional, com participação alemã.

Visão panorâmica de cidade sob bombardeio, céu vermelho
Bombas da Otan sobre Belgrado, em 18/04/1999Foto: picture-alliance/dpa

A explosão de um míssil teleguiado da Otan em Belgrado, em 24 de março de 1999, marcou a eclosão de uma nova guerra nos Bálcãs – a quarta em dez anos de governo de Slobodan Milosevic, mas a primeira que os sérvios sentiriam na pele.

Foi também o primeiro conflito iniciado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em toda sua história. Os ataques ocorreram em nome de uma intervenção humanitária, sem mandato das Nações Unidas (transgredindo o direito internacional), com a participação alemã.

A TV estatal sérvia falou de um "ato de agressão" da Otan, e só noticiou o bombardeio a instalações militares com uma hora de atraso. Gerhard Schröder, chanceler federal alemão na época, defendeu os ataques aéreos como último recurso.

Fracassadas as negociações de paz de Rambouillet, França, as tentativas de intermediação do diplomata americano Richard Holbrooke e diante da escalada da violência sérvia contra os kosovares sob o manto da "limpeza étnica", o então secretário-geral da Otan, Javier Solana, ordenou os ataques, no dia 23 de março, em Bruxelas.

Refugiados do Kosovo, em foto de 11704/1999Foto: picture-alliance/dpa

À espera de um sinal de Milosevic

Num pronunciamento em rede nacional de televisão, na noite de 24 de março, Schröder alegou que "a violência foi a última alternativa", ressaltando a determinação da Otan de cessar o genocídio no Kosovo e exigiu a rendição de Belgrado. "O fim imediato dos ataques depende unicamente de um sinal claro de Milosevic", acrescentou o então ministro alemão da Defesa, Rudolf Scharping.

Os objetivos expressos da aliança militar ocidental eram conter a catástrofe humanitária no Kosovo e derrubar Milosevic, o que causou protestos do presidente russo Boris Ieltsin. O que aconteceu de 24 de março até o fim da guerra, em 9 de junho, permaneceu tão obscuro quanto a guerra do Golfo Pérsico, oito anos antes.

Jornalistas ocidentais e representantes de organizações internacionais foram expulsos do país. Meios de comunicação críticos, como a rádio B92 de Belgrado, foram proibidos. Durante os bombardeios, a Sérvia e o Kosovo afundaram num poço de desinformação.

A Otan não conseguiu impedir nem conter a catástrofe humanitária. Pelo contrário, provocou gigantescos campos de refugiados. Centenas de milhares de kosovares de etnia albanesa que escaparam dos massacres sérvios fugiram para a Macedônia, Albânia e Montenegro, países sem condições de recebê-los.

Base aérea americana em Tirana, Albânia, em 13/04/1999, durante os ataques da Otan à IugosláviaFoto: epa AFP Coex/dpa/picture-alliance

Estacionamento da força de paz

Após 79 dias de conflitos e 37 mil ataques de aviões de caça, em 3 de junho de 1999 o presidente da Finlândia, Martti Ahtisaari, convenceu Milosevic a retirar as tropas sérvias e permitir o estacionamento de uma força internacional de paz em Kosovo.

O Acordo de Kumanovo significou o fim dos bombardeios e a capitulação de Milosevic. Se ele tivesse assinado o tratado de paz de Rambouillet, teria preservado a integridade territorial e 2.500 soldados sérvios teriam permanecido no Kosovo. Assim, eles tiveram que dar lugar a 28 mil soldados da força de paz.

Segundo estimativas do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), a guerra no Kosovo causou a expulsão de 1,5 milhão de albaneses-kosovares e 150 mil ciganos. Calcula-se que 10 mil albaneses e 7 mil sérvios tenham morrido no conflito. Metade das casas foi destruída, e 100 mil dos 180 mil albaneses-kosovares fugiram da região.