2005: Morre papa João Paulo 2º
2 de abril de 2020"A missão da Igreja muda com o tempo...". Esta foi a opinião defendida com insistência pelo papa João Paulo 2º durante toda sua vida. Nascido em Wadowice, Polônia, em 18 de maio de 1920, Karol Józef Wojtyła conduziu a Igreja Católica com sua autoridade durante mais de 26 anos. Vítima de mal de Parkinson e de debilitação extrema, ele faleceu após seu quadro clínico ter se agravado, com o comprometimento das funções renais e cardio-respiratórias.
Em 16 de outubro de 1978, após a súbita morte de João Paulo 1º, foi eleito papa no segundo conclave do ano, depois que os italianos não conseguiram apresentar um candidato próprio. João Paulo 2º foi o primeiro papa não italiano em mais de 450 anos (desde Adriano 6º). Ele convencera os cardeais participantes do conclave com seu carisma, sua inteligência e também com sua saúde de ferro. Afinal, seu antecessor morrera após 33 dias no cargo.
Adaptação ao espírito da época
O perfil atual da Igreja Católica Apostólica Romana tem a marca do papa João Paulo 2º, mas remonta também às discussões sobre o chamado "espírito da época", que já batera às portas da instituição antes da eleição de Karol Wojtyła.
No Concílio Vaticano 2º, de 1962 a 1965, a Igreja Católica decidiu se modernizar: aboliu a missa em latim, valorizou o papel dos leigos e bispos e propôs uma direção colegiada. Essa "abertura para o mundo" teve seus efeitos colaterais: teólogos questionaram a validade dos dogmas, católicos passaram a ignorar a proibição dos métodos anticoncepcionais artificiais e, na América Latina, padres e religiosos aliaram-se aos marxistas.
Moral restritiva
Mas antes de João Paulo 2º subir ao trono de São Pedro, a Santa Sé iniciara uma fase de restauração, que atingiu seu auge com a Encíclica Humanae Vitae, popularmente conhecida como a "encíclica das pílulas", por proibir as práticas contraceptivas. João Paulo 2º deu continuidade a esta linha moral restritiva, exatamente nas questões da sexualidade e dos anticoncepcionais.
Sua definição de relação sexual restringia-se a "um ato matrimonial com a finalidade de gerar filhos". "Deixem o amor conjugal frutificar-se nos filhos que Deus lhes quer dar", escreveu. Tachada de anacrônica, essa orientação gerou muitas críticas, principalmente nas sociedades industrializadas ocidentais, inclusive no interior da própria Igreja.
Mea culpa pelos pecados da Igreja
Em outros campos, porém, João Paulo 2º soube interpretar de forma visionária os sinais dos tempos, de modo que escreveu mais páginas da história mundial do que qualquer de seus antecessores. Seu grande reconhecimento de culpa pelos pecados cometidos pela Igreja foi avaliado como um acontecimento do século.
Ele buscou o diálogo ecumênico e foi o primeiro papa a visitar uma sinagoga e uma mesquita. Ao exigir o respeito às religiões mundiais, prestou um grande serviço à paz. Suas reuniões de cúpula da paz com líderes religiosos de todo o mundo na cidade italiana de Assis foram marcos na história da religião e da civilização. Ele foi um incansável defensor da paz, condenando a guerra, a repressão, a violação dos direitos humanos e as restrições à liberdade.
Karol Wojtyła insistiu com toda consequência em sua crítica ao estilo de vida materialista. "No Leste, os regimes ateístas deixaram para trás desertos espirituais, enquanto no Ocidente é preciso enfrentar o perigo do consumismo excessivo, que ameaça sufocar os princípios morais da sociedade", disse.
Ainda que as opiniões sobre João Paulo 2º sempre tenham sido divergentes, num ponto há consenso: ele entra para a história como o papa dos superlativos. Foi um sucessor de São Pedro carismático, visionário e com uma enorme força de vontade. Nas palavras de um escritor italiano, ele "foi um bem grande entre os grandes desta Terra". Por essas e outras razões, o sucessor de João Paulo 2º, o alemão Joseph Ratzinger, Bento 16, teve um legado bastante difícil.
Papa no Brasil
Das inúmeras viagens internacionais de João Paulo 2º, quatro destinaram-se ao Brasil. A primeira foi em junho de 1980, quando, durante uma estada de 12 dias, o Papa pronunciou 51 discursos. Em sua mensagem de chegada ao país, disse que "começava a realizar um sonho longamente acalentado": "Eu desejava por diferentes motivos conhecer esta terra".
Em junho de 1982, a permanência de Karol Wojtyła ao Brasil foi de apenas dois dias. Em 1991, a visita pastoral durou dez dias, com 31 discursos. A sua última visita, em 1997, foi marcada pelo 2º Encontro Mundial do Papa com as Famílias, realizado no Rio de Janeiro.
Num de seus discursos, expressou "sua estima e afeto a duas categorias de pessoas do Brasil": os povos indígenas, que segundo o papa "contribuíram, com sua cultura, injetando na cultura brasileira um profundo senso da família, de respeito aos antepassados, de intimidade e de afeto doméstico"; e aos afro-brasileiros, "pela presença notável na história e na formação cultural do país".