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29 de janeiro de 2006

Simone de Mello29 de janeiro de 2013

A morte do artista coreano levou a Alemanha a rememorar um capítulo importante da história de sua arte contemporânea.

Com a instalação 'Global Groove 2004', Paik remeteu à sua trajetória de precursor do 'zapping'Foto: AP

No começo da década de 1960, uma época em que o televisor preto e branco era uma peça importante nas salas de estar da Alemanha, o artista coreano Nam June Paik já era orgulhoso proprietário de uma câmera de vídeo portátil. "A televisão nos atacou a vida inteira, agora é hora de revidar! Vamos fazer a nossa própria TV", declarava ele na época.

Em 1963, Paik empilhou 12 televisores no jardim da galeria Parnass, em Wuppertal, na Alemanha, permitindo que os visitantes interferissem nas imagens por intermédio de um pedal. Essa instalação, batizada de Exposition of Music – Electronic Television, é considerada o marco inicial da videoarte.

Tudo começou com a música

A história ainda vai mais longe. Na verdade, a videoarte proveio da música, por assim dizer. É que Paik começou sua carreira artística como compositor.

Nascido em 1932 como filho de um rico industrial coreano, Paik abandonou Seul aos 18 anos, após a eclosão da Guerra da Coreia, e se transferiu para Tóquio, onde estudou História da Arte e da Música, concluindo a faculdade com uma tese sobre Arnold Schönberg.

Em 1956, transferiu-se para a Alemanha. Após uma breve passagem pela Universidade de Munique, onde cursou – entre outras coisas ­– uma disciplina de história da arte com o téorico austríaco Hans Sedlmayr sobre "o surgimento das igrejas cristãs", Paik logo passaria a estudar Composição com Wolfgang Kortner, na Escola Superior de Música de Freiburg.

Paik: 'Fin de Siècle II', Whitney Museum of American Art, Nova York, 1989Foto: AP

Stockhausen, Cage e Beuys

Na fase de efervescência da música eletrônica na Alemanha, Paik não tardaria a estabelecer contato com Karlheinz Stockhausen e iniciar experimentos conjuntos no Estúdio de Música Eletrônica da emissora WDR, em Colônia.

O contato decisivo com a música de John Cage se deu em 1958, numa conferência do compositor norte-americano sobre sua Music of Changes, durante os Cursos de Internacionais de Férias de Música Nova, em Darmstadt. Exposto a essas tendências da música contemporânea, Paik desenvolveu sua forma de ativismo musical através do emprego de ruídos aleatórios na composição com sons clássicos.

Karlheinz Stockhausen, 1999Foto: B. Friedrich

Agora sabemos que umas latas de conserva batendo contra o asfalto valem mais que a Nona Sinfonia", declarava Paik, artista que não tardaria a destruir violinos ou desmontar pianos no palco. Em 1959, apresentou sua Hommage a John Cage na Galeria 22, em Düsseldorf, uma peça em que usava rádio e gravações como fonte de ruídos e o som de um piano tombando como evento sonoro.

Fluxus e documenta

Foi em Düsseldorf, e também em Wiesbaden, que Paik participaria das primeiras ações do Fluxus na Alemanha. Por intermédio do mentor do movimento, o lituano George Maciunas, Paik conheceria Joseph Beuys em 1961, com o qual se manteria ligado até a morte deste.

Nam June Paik: 'Technology'Foto: AP

Em parceria com Beuys, faria o hapenning 24 horas (1965), em Düsseldorf, onde propagava a vingança contra a televisão, com uma videocâmera na mão. Paik também lecionou na Academia de Artes de Düsseldorf, onde Beuys era professor de Escultura Monumental.

Ambos se apresentaram juntos em Tóquio, no concerto Koyotte III, em 1984, dois anos antes da morte do artista alemão, homenageado postumamente por Paik no tríptico Beuys Voice, durante a documenta de 1987.

Precursor da internet e do zapping

O artista coreano, em grave estado de saúde desde o derrame que sofrera em 1996, faleceu aos 73 anos, no dia 29 de janeiro de 2006, em seu apartamento em Nova York, cidade onde foi enterrado.

Joseph Beuys, 1980Foto: AP

Na época, a opinião pública alemã dedicou grande atenção ao fato, resgatando a história comum do artista que viria a se tornar um dos expoentes da interação crítica entre arte e mídia.

O jornal Süddeutsche Zeitung enfocou o pioneirismo de Paik, que antecipou de forma quase profética a internet – ao propor em 1974,­ durante a documenta 6, a criação de uma "superautoestrada eletrônica" –  assim como o zapping (passeio frenético pelos canais de televisão) e a cultura MTV através de sua impressionante instalação Global Groove, de 1973.

O diário Frankfurter Rundschau destacou o engajamento social de Paik em democratizar a arte e transformá-la em um meio de comunicação de massa, como a televisão. O suíço Neue Zürcher Zeitung enfatizou o interesse do artista pela tecnologia, delineando sua trajetória desde os experimentos iniciais propositalmente low tech e posteriormente bastante complexos do ponto de vista técnico, como a elaborada instalação Modulation in Sync, exposta no Guggenheim de Nova York, em 2000.

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