1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
História

2006: Morte do compositor György Ligeti

1 de janeiro de 1970

Em 12 de junho de 2006 falece em Viena o compositor austro-romeno. Pertencente à geração de Berio, Boulez e Stockhausen, ele criou uma obra rica em influências, do impressionismo às técnicas orientais e africanas.

Sem mensagens ideológicas por trás das notasFoto: AP

György Ligeti já não pôde receber pessoalmente o Prêmio de Música de Frankfurt em 2005. Seu estado de saúde não lhe permitiu viajar de Hamburgo ao rio Meno, para participar da homenagem ao conjunto de sua obra.

Apesar da doença e de algumas operações, o compositor de 83 anos, considerado motor da vanguarda musical, continuou ativo até o último momento. Sempre conquistou grande admiração com sua contínua busca de uma nova linguagem musical. György Ligeti faleceu em 12 de junho de 2006, em Viena.

O chanceler federal da Áustria, Wolfgang Schüssel, o honrou como "um grande austríaco no mundo da música do século 20". Ligeti haveria criado "marcos da história da música", tendo "grande influência sobre as gerações mais jovens". Nascido na atual Romênia, o compositor naturalizara-se austríaco em 1967, e vivia em Hamburgo há mais de três décadas.

Ouvinte dos Beatles

Para o diretor da Escola Superior de Música e Teatro de Hamburgo, Elmar Lampson, Ligeti foi "um entre os maiores renovadores da música de nosso tempo". Através dele, a história da música e o repertório "passaram por uma inacreditável expansão das possibilidades de expressão musicais e técnicas", observou.

Ainda jovem integrante do grupo de vanguarda de Colônia, em torno de Boulez, Stockhausen e Nono, ele chamou atenção pela primeira vez nos anos 60, com a peça para orquestra Apparitions.

Fragmento da partitura de 'Concert Românesc' para orquestraFoto: Schott Musik International Mainz

Desde então, suas obras sempre estiveram presentes nos festivais internacionais e nas grandes salas de concerto. A atividade de professor e teórico da música, contudo, ele já tinha encerrado há tempo. "Você é eleito em academias e grêmios, mas isso não adianta nada para o próprio trabalho artístico", justificou seu afastamento do meio teórico musical.

Amigo da pop art e fã dos Beatles, Ligeti é um dos compositores contemporâneos mais executados. O diretor Stanley Kubrick incluiu obras de Ligeti em suas trilhas sonoras, em parte sem a permissão do compositor: Lux aeterna para coro a 16 vozes, Atmosphères para orquestra (2001 – uma odisséia no espaço), Lontano para orquestra (O iluminado) e Musica ricercata, para piano (De olhos bem fechados).

Radical misturador de cores

Nos primeiros anos de sua carreira, o "renovador" foi convidado por inúmeras universidades internacionais, de Estocolmo a Stanford, apreciado como engenhoso analista da música moderna. De 1973 a 1989, lecionou Composição em Hamburgo.

Partindo do estudo crítico da música serial, Ligeti criou seu próprio princípio da klangflächenkomposition. Esta se emancipa de categorias tradicionais como melodia e harmonia, trabalhando de forma quase plástica com os timbres, numa arquitetura de "superfícies sonoras".

O segundo elemento determinante de sua criação musical era a micropolifonia, com seu minucioso entrelaçamento de vozes, que se "dissolvem" no todo. Através de inusitadas combinações de voz e instrumentos, o compositor cria um mundo sonoro absolutamente peculiar. Um crítico o descreveu, certa vez, como "radical misturador de cores": "Nenhuma dissonância soa mais bela do que as de Ligeti".

Da vanguarda ao pós-modernismo

Execução do 'Poème symphonique' no Festival Risor dé músca de câmaraFoto: Liv Ovland

Ligeti, nascido em 28 de maio de 1923 na Transilvânia, na atual Romênia, fugiu em 1956 para Viena, após a rebelião popular húngara, e desde então viveu entre a capital austríaca e Hamburgo. Cinco anos depois, o compositor de 38 anos teve grande êxito com sua peça para orquestra Atmosphères, durante o Festival de Música Nova de Donaueschingen. Em 1962, seu Poème symphonique para 100 metrônomos atraiu a atenção geral.

Nos anos 70, Ligeti começou a retornar à tradição, harmonia e ritmo, em busca de um caminho próprio entre vanguarda e pós-modernismo. Esta virada levou os críticos a acusarem-no de trair a vanguarda ou o ironizarem como "novo romântico". Sua música se tornou mais transparente, mas as obras dos anos 80 e 90 se mantiveram fiéis a uma técnica composicional complexa.

Política fora da música

Em 1997 Ligeti preparou uma nova versão de sua ópera Le Grand Macabre (1978) para o Festival de Salzburgo. A montagem levou a um conflito com o diretor Peter Sellars. Apesar do sucesso da estréia, o compositor declarou ter se sentido "traído" pelo diretor, acusando-o de falsificação e "subversão semântica".

Ligeti não dava valor a música politizada e mensagens ideológicas por trás das notas. Mas sempre se manifestou com veemência em debates públicos. Ele criticou a fusão das duas Academias das Artes de Berlim, após a queda do Muro. E taxou o compositor Stockhausen de "megalomaníaco", quando este qualificou os atentados de 11 de setembro de 2001 como "a maior obra de arte que já houve".

Em outubro de 2001, aderiu ao apelo do compositor popular Wolf Biermann de não apoiar o PDS, sucessor do partido socialista da antiga Alemanha Oriental, nas eleições de Berlim. György Ligeti passou seus últimos anos, no entanto, relativamente afastado da vida pública, em sua residência de Hamburgo. (av/sm)

Pular a seção Mais sobre este assunto
Pular a seção Manchete

Manchete

Pular a seção Outros temas em destaque