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História

2009: Enterro dos restos mortais de vítimas de Srebrenica

Chuck Penfold11 de julho de 2020

Em 11 de julho de 2009, foram enterrados os restos mortais de 500 vítimas do massacre de Srebrenica, na Sérvia. Mais de 20 mil pessoas participaram do funeral, lembrando o assassinato em massa ocorrido em 1995.

Foto: picture-alliance/dpa

Aproximadamente 8 mil homens e meninos muçulmanos foram mortos em Srebrenica, na Bósnia e Herzegovina, por membros do Exército sérvio-bósnio sob o comando de Ratko Mladic, bem como por unidades sérvias irregulares. Posteriormente, Mladic seria indiciado por crimes de guerra.

Em 11 de julho de 2009, na presença de 20 mil pessoas, mais de 500 vítimas foram enterradas, depois de seus restos mortais terem sido identificados, em investigações realizadas no decorrer do ano anterior. O processo de reconhecimento foi extremamente penoso, envolvendo corpos mutilados e valas comuns cheias de cadáveres, testes de DNA e a procura desesperada por parentes, na esperança de que tivessem pelo menos um mínimo de consolo, mesmo 14 anos após a tragédia.

"O genocídio foi tão terrível. É difícil encontrar palavras para descrever o que ocorreu", diz Zumra Sehomerovic, membro de um dos grupos formados depois da guerra, com a missão de que os mortos de 1995 sejam dignamente enterrados. "O pior genocídio depois da Segunda Guerra Mundial foi cometido diante dos olhos do mundo inteiro. Todo o mundo podia observar como eles foram levados, mortos e então jogados em valas comuns", recorda Zumra.

Manifestação lembra massacre de SrebrenicaFoto: DW

Base que se transformou em memorial

O local do massacre é hoje o Memorial e Cemitério Srebrenica-Potocari. Parte do lugar é um antigo depósito de mercadorias, que em 1995 fazia parte de uma base para aproximadamente 400 soldados holandeses em missão de paz. Eles estacionaram ali depois que, em 1993, as Nações Unidas haviam declarado Srebrenica "área segura".

Hoje o local abriga uma exposição com retratos de algumas e pequenas biografias das vítimas, em inglês e no idioma bósnio. Os visitantes podem também assistir a um documentário sobre o massacre.

Amra Begic não precisa de um filme para se lembrar do que ocorreu ali. Ela vive todos os dias com suas lembranças, tendo perdido o pai e o avô no massacre. As testemunhas descrevem como, depois de atirar nas vítimas, os assassinos manipulavam os corpos para conferir se as vítimas estavam realmente mortas. Caso contrário, disparavam mais uma vez, mirando a cabeça. Foi dessa forma que o pai de Begic morreu.

"Quando acabaram a identificação do corpo de meu pai, disseram que ele havia sido morto com uma bala na cabeça. O pior de tudo é que fiquei pensando no sofrimento adicional dele, por ter vivido esses cinco minutos a mais", diz Begic.

Esforços de identificação

Aproximadamente 8 mil homens foram mortos na cidade em 1995Foto: DW

A Comissão Internacional de Pessoas Perdidas na Bósnia e Herzegovina trabalhou continuamente na identificação de restos mortais das vítimas da guerra que assolou o país entre 1992 e 1995. Nos arredores da cidade de Tuzla, a tentativa era identificar corpos que um dia foram transportados das valas comuns originais para o que se chamou de "valas comuns secundárias".

Devido ao maquinário usado para o transporte, vários desses cadáveres foram mutilados. Em alguns casos, partes do corpo de uma vítima acabaram sendo jogadas em valas distintas. Para identificar as vítimas, os investigadores inseriram seus dados genéticos em computadores, a fim de compará-los com de familiares.

É comum apenas partes dos corpos poderem ser identificadas com certeza. À família é dada então a opção de enterrar os restos mortais desta forma ou esperar mais, na esperança de futuros achados.

Falta de explicação

Muitos familiares ainda se questionam por que, naquele momento, uma área designada pelas Nações Unidas como "segura", não o era, de fato. Como os 400 soldados holandeses da missão de paz da ONU não puderam impedir um massacre em massa como esse?

"Eles não fizeram nada. Se alguém sabe por que eles não fizeram nada, então que nos explique. É muito difícil viver com isso tudo. De certa forma, ainda continuamos em 1995", diz Begic.

O Acordo de Dayton, que pôs fim à guerra da Bósnia em fins de 1995, estabeleceu que a cidade faria parte da República Sérvia, uma das entidades políticas pertencentes à Bósnia e Herzegovina.

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