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2023 deve ser o ano mais quente em milênios, diz órgão da UE

9 de novembro de 2023

Serviço de monitoramento climático da União Europeia prevê que este será o mais quente dos últimos 125 mil anos. Outubro também quebrou recordes, superando a marca anterior em 0,4 ºC.

Garoto caminha sobre rio seco na Síria
Garoto caminha sobre rio seco na Síria, que enfrenta a pior seca dos últimos anos; mudanças climáticas têm penalizado pessoas e ecossistemas por todo o mundoFoto: Rami Alsayed/NurPhoto/picture alliance

O mês de outubro foi o mais quente já registrado e, com isso, já é "praticamente certo" que o ano de 2023 entrará para a história como o mais quente dos últimos 125 mil anos, afirmou nesta quarta-feira (08/11) o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S), órgão da União Europeia (UE).

Até então, o outubro mais quente havia sido registrado em 2019. Desta vez, a temperatura média no mês ficou 0,4º C acima do recorde anterior, e 1,7º C acima da média no período pré-industrial – já o ano de 2023 está, segundo o Copernicus, 1,43º C acima dessa marca.

No Brasil, enquanto a seca este ano transformou paisagens exuberantes como a da Amazônia de uma forma nunca antes vista – com rios registrando níveis baixos históricos e a morte dos icônicos botos cor-de-rosa –, outras áreas no Sul e Sudeste do país continuaram a experimentar um volume de chuvas anormal, que causou prejuízos à região.

Morte de botos cor-de-rosa no Amazonas chocou pesquisadoresFoto: Bruno Kelly/REUTERS

No mundo, partes dos Estados Unidos e do México também enfrentaram seca severa em outubro, enquanto outras áreas do globo sofreram o impacto de tempestades e ciclones avassaladores, segundo o CS3.

Por que as temperaturas subiram tanto?

As temperaturas dos mares também atingiram um patamar recorde para o mês, algo que cientistas associam ao aquecimento global, e que contribuiu para a formação de tempestades mais violentas.

O calor foi turbinado ainda pela emissão continuada de carbono, fruto de atividades humanas, e o ressurgimento do  El Niño, evento cíclico que aquece a superfície das águas do Oceano Pacífico Equatorial. O fenômeno deve durar pelo menos até abril do ano que vem, segundo as previsões da Organização Mundial de Meteorologia. E como os efeitos do El Niño costumam se desenvolver por completo no segundo ano, cientistas creem que 2024 vá ser ainda mais quente.

Diretora do Copernicus, Samantha Burgess ressaltou que outubro de 2023 foi precedido por quatro meses de quebras seguidas dos recordes de calor.

Com esse quadro, o Copernicus diz que agora é "praticamente certo" que 2023 será o ano mais quente em milênios, superando 2016 – outro ano de El Niño. Na comparação com o mesmo período de 2016, a média de temperatura de janeiro a outubro neste ano foi 0,1º C mais alta.

"A maioria dos anos de El Niño agora são recordistas, porque o calor global adicional do El Niño se soma ao aumento constante do aquecimento causado pelo homem", afirmou à agência Reuters Michael Mann, cientista climático da Universidade de Pennsylvania, nos Estados Unidos.

A base de dados do Copernicus vai até o ano de 1940. Burgess, porém, explica que os cálculos do órgão europeu se baseiam em informações do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), órgão das Nações Unidas que analisa núcleos de gelo, troncos de árvores e depósitos de coral.

"Quando combinamos nossos dados com os do IPCC, podemos dizer que este é o ano mais quente dos últimos 125 mil anos", disse a pesquisadora do Copernicus.

Cientistas climáticos têm alertado sobre a necessidade urgente de agir para cortar emissões de carbono.

Em novembro, líderes mundiais devem se reunir em mais uma conferência do clima, a COP 28, a ser sediada em Dubai, tendo como pano de fundo o recorde global de emissões de carbono, registrado em 2022.

"O senso de urgência por ações climáticas ambiciosas na COP 28 nunca foi tão alto", disse Burgess.

Pelo Acordo de Paris, firmado em 2016, líderes mundiais haviam se comprometido a diminuir o ritmo do aquecimento global, restringindo-o a 1,5º C até o final deste século. Mas no ritmo atual, o planeta deve aquecer 2,4º C até lá.

ra/rk (DW, Reuters, ots)

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