Em 5 de fevereiro de 2018, fim da separação física da cidade completa mesmo tempo que sua existência. Berlim reunificada ainda guarda resquícios do Muro, mas divisão está quase completamente superada.
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Berlim comemora nesta segunda-feira (05/02) uma data histórica: 28 anos, 2 meses e 26 dias da queda do Muro. Você deve estar se perguntando por que esse aniversário quebrado é tão importante? É que a data coincide exatamente com o período que o Muro dividiu a capital alemã: 28 anos, 2 meses e 26 dias.
Ou seja, nesta segunda-feira, o fim da divisão física da cidade completa o mesmo tempo que a sua existência. Por isso, esta data coincidente está sendo chamada de Dia do Círculo (Zirkeltag) pela imprensa local. Palestras e uma exposição fotográfica no Memorial do Muro de Berlim marcam esse aniversário um pouco diferente de um dos episódios mais emblemáticas da história berlinense.
Erguido em 13 de agosto de 1961, o Muro impedia a fuga de cidadãos da República Democrática Alemã (RDA) para a Alemanha Ocidental. Até esta data, a RDA já havia perdido um sexto de sua população. Embora a segurança na fronteira entre as duas Alemanhas estivesse "resolvida" pelo regime comunista, em Berlim ainda era possível, sem muito esforço, fazer a travessia para o lado capitalista. Afinal, a cidade era dividida entre dois Estados e não tinha uma clara fronteira física.
Assim, para acabar com a evasão, do dia para a noite uma cerca de arame farpado restringiu a movimentação dos moradores. Aos poucos, o arame foi sendo trocado por blocos de concreto e abrindo espaço para a "faixa da morte", como essa região composta por diversas barreiras de muros, cercas e torres de observação na fronteira entre a parte ocidental e oriental era conhecida na Alemanha Ocidental. Nessa faixa era proibida a circulação de pessoas e nem é preciso dizer por que ela ganhou esse apelido.
Nos 28 anos, 2 meses e 26 dias em que dividiu a cidade, o Muro foi constantemente aperfeiçoado e mesmo assim não evitou completamente a fuga de cidadãos da RDA. Mais de 70 túneis foram construídos ao longo da fronteira. As tentativas de fuga também custaram vidas. Pelo menos 140 pessoas foram mortas tentando atravessar para o outro lado.
O Muro determinou ainda o desenvolvimento da cidade, pois cada lado tomou um rumo diferente até 9 de novembro de 1989, quando a divisão física veio abaixo. Pouco tempo depois, as Alemanhas e as Berlins voltaram a ser uma só.
Hoje, 28 anos, 2 meses e 26 dias após a queda do Muro, poucas coisas ainda lembram essa divisão. Resquícios do Muro restam em pouquíssimos pontos da cidade. A sua área mais extensa, a East Side Gallerie, com 1,3 quilômetro de extensão, perdeu alguns metros nos últimos anos devido à construção de empreendimentos imobiliários e continua ameaçada por investidores que desejam construir na faixa de terra localizada entre o rio Spree e essa lembrança da Guerra Fria.
O tempo foi ainda unindo a cidade arquitetonicamente. Edifícios em péssimo estado de conservação, localizados no antigo lado oriental, foram restaurados. Prédios modernos foram construídos em ambas as Berlins, o bonde que só passa na RDA avançou para o lado ocidental, e a "faixa da morte" mais larga dentro da cidade, a Potsdamer Platz, transformou-se num grande centro comercial povoado de arranha-céus.
Poucas marcas desta divisão permanecem, como as típicas construções habitacionais da União Soviética, conhecidas como Plattenbau, nos bairros Marzahn ou Lichtenberg, a imponente avenida Karl Marx Allee e a tradicional rua de compras Kurfürstendamm, apelidada de Ku'damm pra facilitar a pronúncia. Ou ainda os pares de instituições e atrações, localizadas uma em cada lado da antiga cidade: os dois zoológicos, as duas bibliotecas estaduais, as duas óperas.
Quase três décadas após sua queda, o Muro foi substituído por uma marcação no chão para evitar seu esquecimento e deu origem a uma ciclovia de 160 quilômetros. E para aqueles que acham que não há nada novo para se descobrir nesta história, o Muro continua surpreendendo. Recentemente foi anunciada a descoberta de uma parte esquecida durante a demolição e de um antigo túnel de fuga.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
O Muro de Berlim, uma história em fotografias
A 13 de agosto de 1961, guardas da Alemanha Oriental começaram a fechar com arame farpado e concreto a fronteira que separava as partes oriental e ocidental de Berlim, bem como Berlim Ocidental da Alemanha Oriental.
Foto: AP
RDA é hoje pura nostalgia
Diante do Museu de Checkpoint Charlie e fantasiado de guarda de fronteira da RDA, o berlinense Wolfgang Kolditz carimba – com um carimbo postal original da Alemanha comunista – os cartões e lembranças comprados pelos turistas, dez anos após a queda do Muro. Naquele local esteve o mais famoso posto de controle, conhecido em todo o mundo através de inúmeros filmes sobre espionagem e a Guerra Fria.
Foto: AP
Onde foi?
Hoje, pouco resta da histórica muralha que separou dois Estados alemães por tanto tempo.
Foto: DW
Os 'pica-paus' do Muro
Depois do dia 9 de novembro de 1989 foi apenas uma questão de meses até que o Muro desaparecesse inteiramente da paisagem de Berlim. Ficaram famosos na época os chamados 'pica-paus' do Muro: berlinenses e turistas que, armados de martelo e cunha, arrancaram pedaços da muralha para guardar de lembrança. Por muito tempo, lojas de suvenires em Berlim ofereceram lascas de concreto com um duvidoso 'certificado de autenticidade'.
Foto: AP
A dança sobre o Muro
No dia 10 de novembro de 1989, berlinenses orientais e ocidentais confraternizaram-se com uma verdadeira dança sobre o Muro, que deixara de ser uma barreira desde a noite anterior. Ao fundo, o Portão de Brandemburgo – o símbolo de Berlim. Com as fronteiras abertas, milhares de cidadãos alemães orientais viajaram imediatamente à parte ocidental da Alemanha, para fazer compras, visitar parentes e amigos ou simplesmente para satisfazer a curiosidade pessoal.
Foto: AP
A confusão histórica
Durante uma entrevista coletiva no dia 9 de novembro de 1989, o jornalista e membro do politburo do SED – Partido Socialista Unificado – Günter Schabowski, interpretou erroneamente um comunicado oficial do governo da Alemanha Oriental, anunciando a abertura das fronteiras entre as duas partes da Alemanha. Poucas horas depois, a pressão popular fez com que a guarda de fronteiras da RDA abrisse o Muro de Berlim.
Foto: dpa
O fim de uma carreira
Poucas semanas após as festividades comemorativas do 40º aniversário da República Democrática Alemã, o chefe de Estado e de partido Erich Honecker foi destituído de todas as suas funções. A pressão dos protestos populares e as fugas em massa da RDA fizeram com que os comunistas mais jovens ainda tentassem salvar o regime, depondo a liderança conservadora. A rebelião palaciana não trouxe o efeito desejado: os protestos continuaram, culminando com a queda do Muro de Berlim.
Foto: dpa
A festa final
Com a presença do convidado especial – o chefe de Estado e de partido da União Soviética, Mikhail Gorbachev – foi comemorado no dia 7 de outubro de 1989 o 40º aniversário da República Democrática Alemã. Para irritação da liderança comunista da RDA, Gorbachev advertiu para a urgência de reformas no país.
Foto: dpa
Plataforma para pichações
Em toda a sua extensão, o Muro de Berlim tornou-se uma plataforma de pichações no lado ocidental. Com lemas políticos ou meros desenhos, milhares de berlinenses e de turistas lançaram mão dos aerossóis para deixar uma mensagem colorida sobre o concreto. Como a profecia que se vê na foto: 'Berlim ficará livre do Muro'.
Foto: AP
Propaganda dos dois lados
Em outubro de 1964, foi posto um cartaz (à esq.) no lado oriental de Berlim com os dizeres: 'Acordos sobre salvo-condutos são melhores que provocações'. Poucos dias depois, foi afixada nas proximidades a resposta ocidental: 'O Muro continuará sendo uma provocação, mesmo com salvo-condutos!'.
Foto: AP
A fuga com um balão
Na noite de 16 para 17 de setembro de 1979, duas famílias da Alemanha Oriental lograram uma fuga sensacional. Os casais Strelzik e Wetzel, com seus quatro filhos em idade entre dois e 15 anos, conseguiram cruzar a fronteira em direção à Alemanha Federal a bordo de um balão de ar quente, que eles próprios construíram às escondidas, durante meses de trabalho. O balão pousou de madrugada em Naila, na Baviera, sem chamar a atenção dos guardas de fronteira.
Foto: dpa
Um túnel por baixo do Muro
No final de 1963, um grupo reunido pelo ator Wolfgang Fuchs, do qual fazia parte o estudante Klaus-Michael von Keussler (foto), iniciou a construção de um túnel sob o Muro de Berlim. Durante dez meses foi escavado um subterrâneo de 145 metros de extensão, 80 centímetros de altura e numa profundidade de até 12 metros. Nos dias 3 e 4 de outubro de 1964, um total de 57 pessoas conseguiu fugir da RDA, antes que a polícia descobrisse e fechasse o túnel, no dia seguinte.
Foto: dpa
A última oportunidade
No dia em que foi iniciada a divisão de Berlim, o domingo 13 de agosto de 1961, e nos dias subsequentes registraram-se cenas dramáticas como a da foto. Uma mulher tenta saltar da janela de uma casa do lado oriental para fugir para a parte ocidental de Berlim. Um policial tenta puxá-la de volta, enquanto berlinenses ocidentais procuram apoiá-la na fuga, que acaba obtendo êxito. Nas semanas seguintes, esta casa – como outras na linha fronteiriça – foi demolida, abrindo espaço para a construção do Muro.
Foto: dpa
A morte junto ao Muro
Cenas espetaculares de fuga acompanharam o Muro de Berlim em toda a sua história. Algumas com final feliz, outras com um desfecho trágico. A primeira vítima fatal foi o jovem Peter Fechter, em 17 de agosto de 1962. Atingido pelos disparos da guarda de fronteiras da RDA, Fechter agonizou durante 50 minutos na chamada 'terra de ninguém', falecendo pouco depois de ser recolhido pela polícia alemã oriental.
Foto: AP
Hora da opção
No dia 15 de agosto de 1961, o soldado alemão-oriental Conrad Schumann foi destacado para controlar a linha divisória na rua Bernauer, marcada por arames farpados, pois o Muro ainda não estava pronto. Schumann jogou fora o fuzil e pulou sobre o arame farpado, passando para o lado ocidental. A cena foi fotografada por jornalistas que acompanhavam o desenrolar dos acontecimentos em Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/R.Jensen
Pedra sobre pedra
Depois do fechamento das ruas de Berlim, selando a divisão da cidade a partir de 13 de agosto de 1961, o governo comunista da Alemanha Oriental ordenou a construção do Muro. Vigiados de perto pelos soldados do chamado Exército Popular Nacional (NVA), os operários demoliram os prédios localizados na linha divisória, construindo uma muralha e um campo minado em seu lugar.
Foto: AP
O símbolo isolado
O símbolo arquitetônico de Berlim, o Portão de Brandemburgo, ficou inteiramente isolado com a construção do Muro. O acesso a ele só era possível a partir do lado oriental da cidade, ficando reservado às autoridades policiais, militares e aos próceres do regime comunista. Hoje, a área circunvizinha do Portão de Brandemburgo é novamente uma das mais movimentadas e freqüentadas da capital alemã.
Foto: AP
Kennedy visita o Muro
Em junho de 1963, quase dois anos depois da construção do Muro, o presidente norte-americano John F. Kennedy visitou Berlim para informar-se sobre a divisão da cidade. Acompanhado pelo então prefeito Willy Brandt (ao centro) e pelo chanceler federal alemão Konrad Adenauer (à direita), Kennedy foi aclamado pela população de Berlim Ocidental.
Foto: AP
Uma fortaleza
Partes do Muro de Berlim tinham o aspecto de uma verdadeira fortaleza: com pista para o transporte de soldados e guarita para controlar as ocorrências nos dois lados da linha divisória. Além da muralha, uma 'terra de ninguém' com campo minado e cerca de arame farpado impedia o acesso ao Muro, no lado oriental.
Foto: AP
Tanques cara a cara
Nas semanas que se seguiram à construção do Muro de Berlim, a Guerra Fria atingiu um dos seus momentos mais dramáticos. A tensão entre os EUA e a União Soviética podia ser vista claramente no posto de controle da rua Friedrich, o chamado Checkpoint Charlie, no centro de Berlim: tanques americanos e soviéticos permaneceram durante dias, frente a frente, à espera de um comando de ação militar.
Foto: AP
O idealizador do Muro
Ninguém desejava uma muralha de pedra e concreto armado mais do que Walter Ulbricht, o chefe de Estado da República Democrática Alemã (RDA). Ele precisava dela para impedir o êxodo de milhares de pessoas para o outro Estado alemão, a República Federal da Alemanha. A União Soviética não apoiou com muita convicção a 'muralha antifascista' de Ulbricht. Não obstante, a fronteira de 155 quilômetros cercando Berlim Ocidental sedimentou a divisão alemã durante 28 anos.