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HistóriaEuropa

814: Morre Carlos Magno, imperador do Sacro Império Romano

Birgit Görtz / Roselaine WandscheerPublicado 29 de janeiro de 2014Última atualização 28 de janeiro de 2021

Primeiro europeu, bárbaro, guerreiro cristão: muitos adjetivos são associados a Carlos Magno, que morreu em 28 de janeiro de 814. Mas o que ficou de seu governo?

Karl der Grosse Macht Kunst Schätze Ausstellung in Aachen Oktogon
Foto: Domkapitel Aachen Foto: Ann Münchow

Antes de Carlos Magno, a Europa Ocidental era uma região desolada, um ponto em branco no mapa, atrasada tanto nos aspectos civilizatório quanto cultural, em relação ao que havia sido alcançado pelos povos na Antiguidade. E justamente por isso o legado de Carlos Magno, que morreu em 28 de janeiro de 814, é tão impressionante.

Ao morrer em seu castelo favorito, o palácio imperial de Aachen, ele havia conseguido formar um império unindo povos antes em guerra, impulsionado a economia, montado uma administração eficaz e lançado uma ofensiva pela educação. Em 814, Carlos Magno reinava sobre um território que se estendia do Mar do Norte à região dos Abruzos (Itália), do Rio Elba até o Ebro, do Lago Balaton (Hungria) até a Bretanha. Tão importante quanto a unidade territorial lhe era a união política interna.

Mais perguntas do que respostas

Quem era esse homem que conseguiu o aparentemente impossível? Pouco se sabe sobre sua vida pessoal. A data da morte é conhecida, mas não quando ele nasceu. Em sua aclamada biografia sobre Carlos Magno, o pesquisador alemão Johannes Fried aponta como data "muito provável" o dia 2 de abril de 748. Onde, não se sabe.

Outro escritor alemão, Stefan Weinfurter, que escreveu um livro por ocasião dos 1.200 anos da morte do rei dos francos, lembra que muitos locais se vangloriam terem sido o berço do grande governante.

É possível que ele tenha nascido na abadia beneditina de Prüm, na região alemã de Eifel; ou em Düren, perto de Aachen; ou ainda em Quierzy, no norte da França. O que se sabe ao certo é que seus pais eram Berta de Laon e Pepino, o Breve, este nascido em Saint-Denis, perto de Paris, e desde 751 rei dos francos.

Mas quem eram os francos? Alemães, franceses? Nem um nem outro, ou ambos ao mesmo tempo. A área de domínio carolíngio (a dinastia de Carlos Magno) ficava entre as cidades de Aachen, na hoje Alemanha, e Metz, hoje território francês. O avô de Carlos Magno havia conseguido congregar as duas principais partes do Reino Franco: a Nêustria, no oeste, que se estendia de Paris a Soissons, de Tours a Nantes; e a Austrásia, no leste, em forma de quadrilátero, ligando Tournai, Colônia, Metz e Fulda.

O reino era uma colorida mistura multiétnica, com tradições e normas próprias: "Havia os romanos, os visigodos, os alamanos, os bávaros, e assim por diante, conta Weinfurter.

Catedral de Aachen guarda restos mortais de Carlos MagnoFoto: picture-alliance/dpa

Em busca de um elo unificador

Carlos Magno assumiu o trono aos 20 anos de idade. Sua missão foi formar um império a partir de uma colcha de retalhos. "Não foi fácil para ele impor fundamentos que fossem obrigatórios para todos. Essa base foram leis que forneceram normas e valores para garantir a ordem na sociedade", explica Weinfurter. Segundo o historiador, o êxito de Carlos Magno se deve ao conceito de supremacia da unificação.

O objetivo era introduzir padrões vinculativos e normas legais em todo o reino franco. "Essa unificação introduziu medidas padrão e a uniformização da moeda, gerando de certa forma uma área de moeda única." O denário de prata criado por Carlos Magno é, portanto, uma espécie de precursor do euro.

"Para melhorar o sistema de comunicação, ele desenvolveu uma rede de mensageiros. Em poucos dias, um mensageiro podia superar longas distâncias", acrescenta Weinfurter.

Carlos Magno organizou a Igreja e o império, criou um exército eficiente e impulsionou uma campanha de educação em massa. Seu sonho era a educação obrigatória para todos, incluindo meninas. "A ligação entre política, ciência e educação era tão forte na época que cientistas hoje acham que nunca mais houve na Europa uma ofensiva como aquela".

Ele não conseguiu implementar todas as suas ideias, mas ao menos concretizou seu sonho pouco a pouco. "Ele ambicionava uma espécie de reino de Deus na Terra. As pessoas no seu reino eram "o povo de Deus" e somente sua ordem conduzia à 'salvação das almas'".

Isso se baseava em De Civitate Dei (A Cidade de Deus), a obra preferida de Carlos Magno, escrita no século 5º. Nela, Santo Agostinho descreve o mundo, dividido entre o dos homens (o mundo terreno) e o dos céus (o mundo espiritual). "Este livro pode ser considerado um guia da política de Carlos Magno", diz Weinfurter.

Luzes e sombras

"Carlos Magno era uma pessoa de grande estatura, mais alto que seus contemporâneos", escreve o historiador John Fried. E ele não era condescendente com seus adversários. Em apenas dois de seus 46 anos de governo não promoveu uma guerra. Muitas vezes elas até mesmo aconteciam em várias frentes. A guerra contra os saxões é considerada a mais sangrenta de sua vida. Motivada por disputas de fronteiras, começou em 772 e durou 33 anos. Humilhados, os saxões foram convertidos à força ao cristianismo.

Um rei cruel, mas ao mesmo tempo religioso. O Natal do ano 800 ele passou em Roma, com o papa Leão 3º. Existem várias versões sobre o que aconteceu realmente naquele 25 de dezembro, em que o papa acabou coroando o rei franco como imperador do Sacro Império Romano, investindo-o da suprema autoridade temporal sobre os povos cristãos do Ocidente.

A realidade é que "ele já era tratado como um imperador pelos que lhe estavam próximos", explica Stefan Weinfurter.

Também os conflitos que se sucederam com o imperador bizantino, que se via como o único sucessor legítimo do Império Romano, foram solucionados através de meios diplomáticos e militares por Carlos Magno.

Carlos Magno foi um governante "bom" ou "ruim"? Qual o saldo de seu governo? "Em cada época esta questão tem uma resposta diferente", diz Weinfurter. Logo depois de sua morte, ele foi um imperador altamente reverenciado por alguns. "Para outros, ele era um vilão com escapadas sexuais que o levaram ao limbo do inferno."

Também Napoleão e o regime nazista usaram seu nome. Mas de formas distintas: "Como um pai de uma Europa germânica e, por outro lado, como o assassino dos saxões. São essas as imagens – boa e má – que acompanham Carlos Magno, diz o historiador.

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