Publicado 9 de novembro de 2017Última atualização 9 de novembro de 2023
Data é a mais relevante da história recente alemã. As lembranças vão da alegria ao horror, passando pelo fim da monarquia, pela perseguição aos judeus e pela queda do Muro de Berlim.
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Um dos acontecimentos que marcou o mundo num 9 de novembro foi a queda do Muro de Berlim. Menos de um ano depois, no dia 3 de outubro de 1990, a Alemanha estava reunificada, depois de 41 anos de separação.
Com o fim da República Democrática Alemã (RDA), o bloco comunista desaparecia de vez do mapa político da Europa. O conflito entre o Ocidente e Oriente, marcado pela Guerra Fria e tão determinante para a história do continente, chegava ao fim no 9 de novembro de 1989.
Fim da monarquia
O calendário histórico alemão aponta ainda outros acontecimentos de suma importância para a história do país no 9 de novembro: em 1918, o social-democrata Philipp Scheidemann proclamou de uma varanda do Reichstag, em Berlim, a primeira república do país.
"Trabalhadores e soldados, estejam conscientes da importância histórica deste dia. Aconteceu o inacreditável. Um trabalho enorme e cuja amplitude é de difícil avaliação nos espera. Tudo para o povo, tudo por meio do povo! Nada que desonre o movimento trabalhista pode acontecer. Sejam unidos, fiéis e cientes de suas obrigações! O velho e podre – a monarquia – ruiu. Viva o novo, viva a república alemã", anunciou Scheidemann, selando o fim da monarquia sob o imperador Guilherme 2°.
A jovem democracia alemã enfrentou tempos difíceis desde o início. Foi também no dia 9 de novembro de 1923 que o Partido Nacional-Socialista organizou uma tentativa de golpe em Munique, o "Putsch da Cervejaria", sob o comando de Adolf Hitler, que dez anos mais tarde chegaria ao poder e levaria o mundo à Segunda Guerra Mundial.
Sinagogas e lojas em chamas
O caminho para a catástrofe passava pela eliminação gradual dos direitos civis dos judeus na Alemanha, o que culminaria no extermínio sistemático, a partir de 1942. Ainda antes do início da Segunda Guerra Mundial, no dia 9 de novembro de 1938, sinagogas foram incendiadas em todo o império alemão e estabelecimentos comerciais judeus foram saqueados.
Aproximadamente 100 judeus foram mortos e 26 mil foram levados para campos de concentração na noite do 9 para o 10 de novembro. O pogrom (massacre genocida organizado) foi chamado cinicamente pelos nazistas de "Noite dos Cristais", tendo servido como uma espécie de prenúncio do Holocausto.
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O fim de uma era
Mais de meio século depois, no 9 de novembro de 1989, caía o Muro de Berlim, para o espanto da população nas então duas Alemanhas – Ocidental e Oriental. Na República Democrática Alemã (RDA), de regime comunista, estavam, há alguns meses, acontecendo protestos populares contra o partido único, o SED. Milhares de alemães-orientais haviam fugido do país pela Hungria ou por outros países do Leste Europeu, onde pediam asilo político nas embaixadas da Alemanha Ocidental.
A pressão para dar uma maior liberdade de viagem aos habitantes da RDA aumentava a cada dia. Mesmo assim, ninguém contava realmente com o que viria a acontecer: quando, numa entrevista coletiva para a imprensa internacional, um representante do governo comunista anunciou que era permitido viajar para fora do país, ninguém mais segurou a população.
A população acorreu para "pular o Muro" na Berlim ainda dividida. A euforia literalmente não tinha mais fronteiras. "Primeiro deixaram alguns passar, depois abriram o portão. E agora pode passar todo mundo, sem documento, sem controle, sem nada. Não tenho nem minha carteira de identidade comigo", declarou um cidadão da Alemanha Oriental, na noite que pôs fim a uma era.
Pela quarta vez, a história alemã era escrita num dia 9 de novembro – dessa vez, um registro de alegria, apesar de todas as dificuldades que se seguiram à Reunificação das duas Alemanhas.
Os Pogroms de Novembro, conhecidos como "Noite dos Cristais"
Em 9 e 10 de novembro de 1938, o Terceiro Reich lançou um pogrom antijudaico de características medievais. A "Noite dos Cristais" entrou para a história como um exemplo da barbárie nazista.
Foto: gemeinfrei
O que ocorreu entre 9 e 10 de novembro de 1938?
Ataques antissemitas, liderados por paramilitares da SA, foram lançados por toda a Alemanha nazista. Sinagogas como esta, na cidade de Chemnitz, no leste do país, e outros estabelecimentos de propriedade de judeus foram destruídos. Judeus foram sujeitados à humilhação pública e presos. Pelo menos 91 deles – mas provavelmente muitos mais – foram mortos.
Foto: picture alliance
Por trás do nome
A violência contra os judeus alemães observada nas ruas de todo o país é conhecida por uma série de nomes. Em Berlim, costuma-se referir-se a ela como "Kristallnacht", ou, em português, "Noite dos Cristais". Atualmente, porém, é mais comum entre os alemães falar na "Noite do Pogrom" ou nos "Pogroms de Novembro".
Foto: Getty Images
O que desencadeou o pogrom?
O estopim do episódio foi o assassinato do diplomata alemão Ernst vom Rath, em Paris, por um adolescente judeu polonês chamado Herschel Grynszpan. Não se sabe ao certo se ele sobreviveu ao regime nazista ou se morreu em algum campo de concentração.
Foto: picture-alliance/Imagno/Schostal Archiv
Como a violência realmente começou?
Após a morte de von Rath, Adolf Hitler deu uma permissão verbal ao Ministro da Propaganda, Josef Goebbels, para lançar o pogrom. A violência já havia eclodido em alguns lugares. Os paramilitares da SS foram instruídos a permitir "apenas medidas que não impliquem nenhum perigo para vidas e propriedades alemãs".
Foto: dpa/everettcollection
A violência foi uma expressão de raiva popular?
Não. Essa foi a versão oficial do partido nazista, mas ninguém acreditou nela. Referências constantes a "operações" e "medidas" indicam claramente que a violência foi um ato de Estado. Não está claro o que a população alemã achou do episódio. Há evidências de desaprovação popular – embora o fato de o casal à esquerda da foto estar rindo também dizer muito.
Foto: Bundesarchiv, Bild 146-1970-083-42/CC-BY-SA
O que os nazistas esperavam obter com a violência?
Conforme a ideologia racista do partido, os nazistas queriam intimidar os judeus para que estes deixassem a Alemanha. Com esse intuito, judeus eram frequentemente exibidos de forma humilhante pelas ruas, como nesta imagem. Seus algozes também tinham motivações econômicas: judeus fugindo do Terceiro Reich tinham que pagar "taxas de emigração", e suas propriedades eram confiscadas com frequência.
Foto: gemeinfrei
O pogrom alcançou o seu propósito?
Após o episódio, os judeus não podiam mais nutrir qualquer ilusão sobre as intenções dos nazistas, e aqueles que tiveram a chance, fugiram. Mas a agressão aberta caiu mal na imprensa internacional e contrariou muitos alemães que defendiam a ordem. Foi assim que surgiram medidas mais burocráticas, como a exigência de que os judeus usassem estrelas de David amarelas visíveis em suas roupas.
Foto: gemeinfrei
Qual foi o resultado imediato?
Depois do pogrom, a liderança nazista instituiu uma série de medidas antijudaicas, inclusive – não sem um certo cinismo – uma taxa para ajudar a pagar pelos danos de 9 a 10 de novembro de 1939. Hermann Göring, o segundo homem mais poderoso do Terceiro Reich na época, notoriamente observou: "Eu não gostaria de ser judeu na Alemanha".
Foto: AP
O que os Pogroms de Novembro representaram para a história?
Em 1938, ainda faltavam dois anos para o início do Holocausto. Mas há uma clara linha de continuidade desde o pogrom até o assassinato em massa de judeus europeus, na qual a liderança nazista continuaria a desenvolver e aprimorar seu ódio antissemita. Nas palavras de um historiador contemporâneo, o pogrom foi um "prelúdio do genocídio".