1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Aílton, de bem com a vida

Marcio Weichert13 de maio de 2004

Sua sexta temporada na Bundesliga é a mais feliz da carreira. DW-WORLD conversou com o campeão e artilheiro sobre seu auge profissional e outros assuntos.

Atacante brasileiro comemora seu primeiro título na AlemanhaFoto: AP

O atacante brasileiro Aílton foi a grande estrela do Campeonato Alemão que se encerra em duas rodadas, no dia 22. O ex-jogador do Guarani de Campinas marcou até agora 27 gols em sua sexta temporada na Alemanha, mais de um terço da soma do Werder Bremen. Além de levar o clube antecipadamente a seu quarto título nacional, o paraibano virou uma página na história do Werder, como recordista de gols.

Mas não foi só por seus gols que Aílton se destacou na temporada. Ao longo dela, o brasileiro foi combustível para inúmeras polêmicas na imprensa alemã. Foi cogitado para a Seleção Alemã, depois quase assumiu a cidadania do Qatar para defender a seleção deste emirado árabe (foi bloqueado pela Fifa, que mudou imediatamente as regras para convocação).

Assinou da noite para o dia um contrato para trocar o Werder Bremen pelo Schalke a partir da próxima temporada e, há poucas semanas, ofendeu seus futuros fãs com considerações sobre a cidade de Gelsenkirchen, para onde terá de se mudar.

Agora, com a bandeja da Bundesliga já assegurada e o troféu de artilheiro praticamente nas mãos, Aílton espera coroar a temporada com a conquista também da Copa da Alemanha (DFB-Pokal). A final será dia 29, em Berlim, contra o Alemannia Aachen, da segunda divisão.

DW-WORLD conversou com Aílton sobre o auge de sua carreira.

A descoberta do sabor de ser campeão

O Campeonato Alemão costuma ser dominado pelo Bayern de Munique. Qual a sensação de ser campeão alemão e, em particular, com uma vitória, no último sábado, sobre o Bayern (3 a 1) e em Munique?

A sensação é a melhor possível. Somente agora estou sabendo que sabor tem ser campeão, principalmente ganhando do Bayern, em Munique, o bicho-papão da Bundesliga.

Você chorou bastante em campo...

É muita emoção, o primeiro título importante em minha carreira. Naquele momento pude colocar para fora tudo aquilo que estava sentindo e acabou em lágrimas, lágrimas de felicidade. Eu gostaria de poder chorar sempre dessa maneira.

Ainda por cima você vai terminar a temporada como o maior artilheiro da história do Werder Bremen num campeonato, após ter superado Rudi Völler há duas rodadas, e dificilmente deixará de ser o artilheiro da temporada. O que isto significa para você?

Muito. É mais uma vitória do Aílton. Ficar na história do Werder Bremen é para mim uma satisfação muito grande.

Essa comparação direta com Rudi Völler tem para você algum valor especial?

Ser comparado com grandes jogadores é sempre bom; com Rudi Völler é o máximo.

Para completar, o Werder é franco favorito na final da Copa da Alemanha. Você algum dia imaginou ou sonhou com uma temporada tão bem-sucedida?

Eu sonhava, mas a cada ano ficava mais difícil. Deus atendeu as minhas preces e fez com que a gente pudesse ser campeão da Bundesliga e, possivelmente, também da Copa da Alemanha, com todo respeito ao Alemannia Aachen, pois será um jogo muito difícil.

Que razões levaram o Aílton a virar uma máquina de gols nesta temporada? (continua)

Aílton festeja seu 27º gol, na vitória de 3 a 1 sobre o Bayern de Munique, que deu o título ao Werder BremenFoto: AP

Que razões levaram o Aílton a virar uma máquina de gols nesta temporada?

Muita humildade e trabalho. O atacante tem de visar sempre ser o artilheiro. Aqui na Alemanha cheguei perto em dois anos e desta vez tenho vantagem de quatro gols sobre o Makaay (do Bayern de Munique) e não vou deixar escapar.

Após uma temporada assim, como você se sente tendo de deixar o Werder exatamente em seu auge no clube?

Fiz um contrato com o Schalke muito cedo... Mas eu saio do Werder Bremen deixando minha marca, como artilheiro e campeão. Será uma saída muito maravilhosa e espero que o clube continue assim.

Recentemente, você fez declarações desanimadas sobre Gelsenkirchen e a perspectiva de seu novo clube ficar de fora dos campeonatos europeus. Você está arrependido de ter assinado com o Schalke, ter de deixar Bremen, de que você tanto gosta, e ainda por cima não jogar a Liga dos Campeões?

Não. Dificilmente me arrependo daquilo que faço. Bremen vai continuar em seu lugar e, quando estiver de folga, poderei visitar os amigos. E acredito muito na equipe do Schalke. Podemos chegar onde o Werder Bremen também chegou.

O Schalke vai classificar-se apenas para a UI-Cup. Você acredita que o time vai assim obter ainda uma vaga na Copa da Uefa?

É muito cedo para falar. O time tem de se preparar para isso. A UI-Cup faz parte da agenda do Schalke e temos que encarar como se fosse a Bundesliga.

O sonho de jogar numa seleção não morreu

Faltou pouco para Aílton passar a jogar pela bandeira do Qatar

Mudando de assunto, agora que a poeira sobre o convite para jogar pelo Qatar assentou, como você analisa a polêmica?

Acho que houve uma falha das pessoas que estavam organizando para eu jogar no Qatar. Saiu muito na imprensa e isso atrapalhou. Ainda sonho em poder jogar numa seleção e espero ainda poder realizar isso com a Seleção Brasileira.

Ainda vamos falar da Seleção Brasileira, queria antes saber de você se defender uma seleção nacional é uma questão meramente profissional ou de identificação com o país?

Jogar na Seleção Brasileira não se trata de apenas jogar numa equipe. Por trás tem toda uma nação, reconhecimento. É muito diferente que ser um grande jogador para uma cidade.

E no caso do Qatar?

Seria mais pela chance de poder jogar numa seleção e as Eliminatórias da Copa do Mundo.

Ou seja, um desejo profissional...

Sim.

Mas você acha correto jogar numa seleção nacional apenas por razões profissionais e não por uma identificação com a nação que ela representa?

O mundo hoje tem sempre novas regras. A seleção da Itália tem jogador argentino que se naturalizou italiano. A Alemanha tem jogador que se naturalizou alemão. Tem acontecido de tudo nas principais seleções do mundo. Não veria problema algum de eu ir jogar pelo Qatar. Mas claro que seria inaceitável se o Qatar comprasse 11 jogadores. Mas dois ou três, toda seleção deveria ter o direito.

Bem, você não foi para o Qatar. Você tem esperança de jogar na Seleção Brasileira? Houve algum contato?

Só tenho esperança. Contato não houve. Espero que o treinador possa parar um pouco e refletir sobre o que aconteceu na Bundesliga e com o Aílton.

Você já tentou tomar a iniciativa de um contato?

Não sou este tipo de jogador. Você tem de chamar atenção do treinador da Seleção dentro de campo. Sem essa de empresário, de mandar recado, de pedir para ligar. Vou ficar aqui fazendo meus gols. Hoje não só o Brasil mas o mundo todo sabe quem é o Aílton na Bundesliga. É o bastante para chamar a atenção de um treinador.

Vamos encerrando com uma série de perguntinhas rápidas. Quem é o melhor atacante da Bundesliga? (continua)

Alemanha não vai longe na Eurocopa

Vamos encerrando com uma série de perguntinhas rápidas. Quem é o melhor atacante da Bundesliga?

(Risos...)

E sem ser o Aílton?

O Roy Makaay.

Ou seja, você mede a qualidade de um atacante pela quantidade de gols que marca...

Atacante tem que fazer gol. Se não faz gol, não é atacante.

Para Aílton, Oliver Kahn já foi o melhor goleiro... agora ele não sabe mais quem éFoto: AP

Em qual goleiro é mais difícil fazer gol?

Um goleiro em que eu sempre dificuldade de fazer gol era exatamente o Oliver Kahn, mas agora não sei mais... (N.R.: Na vitória de 3 a 1, Aílton fez um gol)

Qual zagueiro da Bundesliga é o mais chato?

Aquele croata do Bayern, que não jogou desta vez contra nós, como ele se chama mesmo? Nico... Nico Kovac.

E o melhor zagueiro?

Nesta temporada fico com meus companheiros Ismaël e Krstajic.

Tirando seus colegas do Werder Bremen e os futuros do Schalke, ao lado de quem você ainda gostaria de jogar?

Cláudio Pizarro (N.R.: ex-colega de Aílton em Bremen e atualmente no Bayern de Munique).

De novo ele?

Exato.

Ele foi melhor parceiro do que o francês Micoud?

Não, mas você me pediu para não incluir os colegas do Werder. Jogar com o Micoud é fantástico. Sem dúvida alguma ele é o melhor meio-campista da Bundesliga no momento.

E como você vê as chances da Alemanha na Eurocopa?

Poucas.

Passa da primeira fase?

Pode ser, mas não vai longe. Não acredito que chegue às semifinais.

Qual o problema da Seleção Alemã?

(Risos...) Muitos. A seleção no último jogo (N.R.: derrota de 5 a 1 para a Romênia) não teve defesa, nem meio-de-campo, nem ataque. Tem de melhorar em todos os sentidos.

Tá faltando jogador ou técnico?

Acho que jogador...

O Oliver Kahn declarou alguns meses atrás que ele inveja os jogadores brasileiros que, quando são chamados para a Seleção, vão até machucados para vestir a camisa nacional, e insinuou que os alemães fazem corpo mole. Você acha que está aí o problema da Seleção Alemã?

Sim, ele está certo...

Pular a seção Mais sobre este assunto