"A índole de Trump fez crescer meu empenho", diz Comey
Lewis Sanders md
21 de junho de 2018
Em entrevista exclusiva à DW, ex-diretor do FBI fala sobre os maiores desafios de sua carreira e diz que se sentiria um "covarde" se decidisse se afastar do FBI após a chegada de Trump à Casa Branca.
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O ex-diretor do FBI James Comey afirmou nesta quarta-feira (20/06), em entrevista exclusiva à DW, que, apesar de sua carreira como autoridade de segurança, ele não faz a "inferência mais sombria" sobre as negativas veementes do presidente americano, Donald Trump, em relação a um suposto conluio com Moscou.
"O fato de alguém agir dessa maneira não significa necessariamente que ele é culpado de alguma coisa", disse Comey ao programa Conflict Zone, da DW. "Pode ser apenas o hábito do presidente de atacar, atacar, atacar quando se sente ameaçado. Mas eu não sei o que é, honestamente."
Quando questionado se sentiu que poderia ficar "contaminado" ao permanecer no governo Trump, Comey disse que, embora houvesse potencial para isso, ele pensou ser seu "dever" permanecer no cargo.
"A índole do presidente realmente aumentou meu empenho em permanecer no meu papel e servir e proteger o FBI e o povo americano", ressaltou Comey. "Eu sabia que ia ser difícil. Eu sabia que ia haver todo tipo de situações difíceis, mas achei que seria um covarde se me afastasse daquilo num momento em que eu deveria estar liderando uma organização que é, por espírito e cultura, independente."
Comey foi nomeado em 2013 pelo então presidente dos EUA, Barack Obama, para chefiar o FBI, a principal agência federal de segurança dos EUA.
Ele ganhou notoriedade em 2016, quando anunciou que o FBI não havia encontrado evidência alguma de intenção criminosa de Hillary Clinton, quando ela usou um servidor de e-mail privado durante seu período como secretária de Estado.
Clinton acabou culpando Comey pela derrota dela nas urnas por o chefe do FBI ter enviado uma carta aos legisladores americanos 11 dias antes da eleição presidencial, informando que a agência havia encontrado novos e-mails considerados "pertinentes à investigação". Mais tarde, ele disse que não foi descoberta evidência alguma que pudesse incriminar Clinton.
Em maio de 2017, Trump demitiu Comey, medida que foi criticada como uma potencial tentativa de prejudicar uma investigação sobre suposto conluio russo com a campanha eleitoral de Trump. Críticos o acusam de prejudicar a credibilidade do FBI, o que ele negou.
A entrevista de Comey ao programa Conflict Zone, da DW, vai ao ar na próxima semana. Nela, o ex-diretor do FBI fala sobre esses e outros desafios.
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Trechos de "Fogo e Fúria", o livro sobre os bastidores da Casa Branca de Trump
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Trechos já publicados do livro do jornalista americano Michael Wolff "Fogo e Fúria: por dentro da Casa Branca de Trump" revelam o que acontece nos bastidores do centro do poder nos EUA, da busca por segurança em hambúrgueres aos sonhos presidenciais de Ivanka Trump.
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"O verdadeiro inimigo, segundo Bannon, era a China. A China seria a primeira frente numa nova Guerra Fria. A China é tudo. Nada mais importa. Se não lidarmos direito com a China, não vamos lidar direito com nada. Tudo é muito simples. A China está onde a Alemanha nazista estava em 1929 e 1930. Os chineses, como os alemães, são as pessoas mais racionais do mundo, até deixarem de ser."
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"Perder era ganhar"
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