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A agonia da escolha entre conservadores e trabalhistas

Barbara Wesel de Londres, ca
11 de dezembro de 2019

Britânicos vão às urnas pela quarta vez em quatro anos, numa eleição vista como um divisor de águas no Reino Unido. Com Johnson e Corbyn disputando um eleitorado já fatigado, pleito tentará romper o impasse do Brexit.

Boris Johnson, primeiro-ministro britânico
Apesar de vazios, slogans de Boris Johnson encontram muitos ouvidosFoto: Getty Images/WPA/B. Stansall

O primeiro-ministro Boris Johnson e o líder trabalhista Jeremy Corbyn lutam até o último minuto para conquistar eleitores antes das eleições gerais desta quinta-feira (12/12) no Reino Unido.

Na reta final, o conservador Johnson visitou principalmente distritos eleitorais com estreita maioria trabalhista que votaram a favor do Brexit. Ele se encontra numa missão de convencer cidadãos de lugares como Dewsbury, em West Yorkshire.

Corbyn, por outro lado, tem feito campanha no chamado "red wall" (muro vermelho), bastiões de seu Partido Trabalhista nas regiões de Midlands, no centro do país, e no norte, e busca conquistar jovens eleitores em cidades universitárias como Bristol.

A vantagem dos conservadores nas pesquisas de opinião, que se apresentou estável por semanas, encolheu nos últimos dias, o que levou a uma nervosa agitação no partido governista.

Segundo analistas, cerca de um quinto dos eleitores ainda está indeciso pouco antes do pleito. Nunca a afiliação partidária foi tão fluida; e a frustração generalizada, tão alta. "Desliguei-me de alguma forma; para ser honesto, não estou mais concentrado nisso" – a resposta de um transeunte no centro de Londres é representativa de muitos.

A batalha do sistema de saúde

A foto de Jack, um menino de 4 anos com suspeita de pneumonia que teve que se deitar no chão de um hospital em Leeds porque não havia leito livre para ele, deixou Boris Johnson numa situação embaraçosa na última segunda-feira.

Durante uma entrevista, um repórter lhe mostrou a foto no celular. Mas, em vez de se desculpar pela situação, o primeiro-ministro colocou sem rodeios o telefone no bolso. Somente quando foi pressionado a responder, ele admitiu que a imagem era "terrível".

Após dez anos de governos conservadores e duras medidas de austeridade econômica, o Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla em inglês) está à beira do colapso. Os tempos de espera nas salas de emergência são infindáveis; faltam leitos, funcionários e equipamentos. Os conservadores prometeram melhorias, afirmando que iriam construir 40 novos hospitais e contratar dezenas de milhares de enfermeiras e médicos.

O fato foi checado pela imprensa britânica, e logo veio à tona que o investimento prometido nem mesmo compensaria os cortes anteriores; os novos prédios são apenas reformas; e os médicos necessários simplesmente não estão ali. Nesse ponto, os conservadores têm um problema de credibilidade.

Além disso, há a disputa em torno dos possíveis planos de privatização do sistema de saúde, se o Reino Unido vier a concluir um acordo comercial com os Estados Unidos após o Brexit. Muitos britânicos acham isso tão ameaçador que o presidente americano, Donald Trump, disse à margem da cúpula da Otan que não quer o NHS nem se ele for oferecido "numa bandeja de prata".

Aqui, o Partido Trabalhista está claramente à frente: é nele que os eleitores confiam mais em termos de saúde pública. O partido de Corbyn promete gastar 4% a mais que os conservadores anualmente com assistência médica e outros bilhões adicionais em gastos sociais  – mas nem Corbyn nem Johnson sabem de onde viria o dinheiro extra.

Atitude de Jeremy Corbyn, líder dos trabalhistas, perante o Brexit é um fracassoFoto: Reuters/A. Yates

Tudo gira em torno do Brexit

Embora para muitos britânicos o sistema de saúde possa ser crucial para a escolha eleitoral, muito leva a crer que desta vez tudo gira em torno do Brexit. Na campanha eleitoral, o Partido Trabalhista não conseguiu avançar com temas como injustiça social, escolas em dificuldade ou sistemas ferroviários sobrecarregados. E a atitude confusa de Corbyn em relação ao Brexit – primeiro propondo renegociar com a União Europeia (UE) e depois falando em convocar um segundo referendo – é um fracasso.

Aqui, Johnson ganha pontos com seu slogan sobre "concluir o Brexit" – mesmo que ele prometa muita coisa que provavelmente não poderá cumprir: por exemplo, que ele não solicitará em 2020 uma extensão do período de transição para a saída da UE e que ele facilmente fechará um acordo de livre-comércio com o bloco europeu em 11 meses.

Não apenas os negociadores em Bruxelas duvidam disso, mas também seus próprios especialistas. Johnson afirma ainda que o regime de fronteira proposto para a Irlanda do Norte não trará novos controles – o oposto é mais verdadeiro.

Mas esses detalhes, assim como pequenas e grandes inverdades ao longo do caminho, parecem não ter nenhuma importância. "Acabaremos com a incerteza", promete Johnson, "implementaremos o que você votou" e "queremos seguir em frente" são seus slogans padrão. E eles são ouvidos, porque mesmo entre os que votaram pela permanência na UE, ou seja, que rejeitaram o Brexit, muitos acreditam que agora a questão deva ser finalmente encerrada.

Em recente propaganda de televisão, os estrategistas conservadores jogam de maneira inteligente com esse sentimento. No fundo, ouvem-se músicas natalinas, e Johnson segura, com um sorriso sedutor, diferentes cartazes para uma eleitora: "Com um pouco de sorte [...] finalizaremos o Brexit [...] se o Parlamento não o parar novamente [...] ou o outro cara vencer." A cena se baseia no popular filme Simplesmente amor.

Uma candidata trabalhista se queixa de que os conservadores roubaram sua ideia e que ela havia usado a cena para sua própria campanha em novembro passado. Mas numa campanha eleitoral cheia de notícias falsas, tais considerações não importam há muito tempo.

As fraquezas dos candidatos

Boris Johnson tem um problema com mulheres. Ele não responde a perguntas sobre o número de filhos, e suas traições conjugais de longa data são bem conhecidas. O último caso conhecido, com a empresária Jennifer Arcuri, reflete uma vida amorosa repleta de crises e aventuras.

Outras evidências de atitudes machistas, no entanto, são ainda mais claras: na câmara baixa do Parlamento britânico, ele descartou como "besteira" as queixas de uma deputada sobre campanhas de ódio nas mídias sociais, e denegriu suas opositoras como "garotas esforçadas". O instituto de pesquisas de opinião YouGov constatou que apenas 38% das mulheres aprovam Johnson, ante 46% dos homens.

Jeremy Corbyn, por outro lado, tem um problema com seu eleitorado judeu. Dois terços dos eleitores judeus, que votavam há décadas no Partido Trabalhista, querem agora escolher outro partido. O motivo: uma discussão crescente sobre antissemitismo na legenda.

O problema surgiu desde que, sob a liderança de Corbyn, o partido deu uma forte guinada à esquerda. No final da campanha eleitoral, o líder da sigla fez um tímido pedido de desculpas – tarde demais. Além disso, Corbyn é considerado fraco, antipatriótico e pouco afeito à tomada de decisões.

E, finalmente, há uma lacuna entre gerações: a maioria das pessoas abaixo de 40 anos vota principalmente no Partido Trabalhista, e a partir dos 40 anos, mais nos conservadores. Cerca de 900 mil jovens eleitores se recadastraram desta vez – dois terços deles querem um segundo referendo sobre o Brexit, e seus temas são clima e migração.

Mas os trabalhistas se beneficiarão de uma "onda juvenil"? O sistema eleitoral majoritário britânico é notoriamente imprevisível, porque, no final, 50 votos num distrito eleitoral podem ser decisivos para um resultado. "O vencedor leva tudo", diz-se por aqui. E no caminho da vitória, ainda está Boris Johnson.

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