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"A Alemanha não vai mais comprar a Amazônia", diz Bolsonaro

11 de agosto de 2019

Presidente diz que Brasil "não precisa" de dinheiro alemão para preservar a floresta. Fala ocorre após Berlim anunciar suspensão de repasse de R$ 155 milhões a projetos de proteção por causa de aumento do desmatamento.

Jair Bolsonaro ao lado de congressistas
Bolsonaro vem antagonizando com a Alemanha e outros países europeus que demonstram preocupação com a política ambiental do governo brasileiroFoto: Reuters/A. Machado

O presidente Jair Bolsonaro tratou com desprezo neste domingo (11/08) a decisão do governo alemão de suspender o financiamento de projetos para a proteção da Amazônia por causa do aumento do desmatamento da floresta.

No sábado, a ministra do Meio Ambiente da Alemanha, Svenja Schulze, disse em entrevista ao jornal Tagesspiegel que o país europeu vai congelar investimentos de 35 milhões de euros (cerca de 155 milhões de reais) que seriam destinados a diferentes projetos de proteção ambiental no Brasil.

Questionado por jornalistas sobre a suspensão dos repasses, Bolsonaro disse que "O Brasil não precisa disso".

"Ela [Alemanha] não vai mais comprar a Amazônia, vai deixar de comprar a prestações a Amazônia. Pode fazer bom uso dessa grana. O Brasil não precisa disso", disse o presidente.

Ao ser questionado se o congelamento dos valores não teria impacto na imagem do Brasil no exterior, Bolsonaro respondeu: "A imagem do Brasil? Você acha que grandes países estão interessados na imagem do Brasil ou em se apoderar do Brasil?"

Desde a posse de Bolsonaro, em janeiro, o governo alemão e outros países europeus, como França e Noruega, têm demonstrado preocupação com a forma como Brasília passou a tratar a proteção ambiental e a explosão nos níveis de desmatamento no Brasil.

Na semana passada, dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) confirmaram o aumento significativo no desmatamento da Floresta Amazônica. Em julho deste ano, a devastação do bioma cresceu 278% em relação ao mesmo mês de 2018.

Segundo o Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real (Deter), em julho, 2.254,9 quilômetros quadrados de floresta foram devastados.

Um grande aumento do desmatamento já havia sido apontado em junho, quando a devastação da floresta cresceu 88% em relação ao mesmo mês de 2018. A divulgação desses dados causou uma crise entre o Inpe e o governo Bolsonaro, que culminou com a demissão do presidente do instituto.

Na entrevista em que anunciou o congelamento dos repasses, a ministra alemã Svenja Schulze levantou dúvidas em relação ao comprometimento do governo Bolsonaro em reduzir o desmatamento.

"A política do governo brasileiro na Região Amazônica deixa dúvidas se ainda se persegue uma redução consequente das taxas de desmatamento", declarou a ministra ao jornal alemão, apontando que somente quando houver clareza, a cooperação de projetos poderá continuar.

Para conter o desmatamento florestal, a Alemanha também apoia o Fundo Amazônia, no qual o Ministério alemão da Cooperação Econômica já injetou 55 milhões de euros (por volta de 245 milhões de reais)

Com um volume de quase 800 milhões de euros (por volta de 3,5 bilhões de reais), a maior parcela do Fundo Amazônia é financiada pela Noruega e, uma pequena parte dele, pela Alemanha.

Recentemente, tanto o governo alemão quanto a Noruega reclamaram dos planos do ministro do Meio Ambiente do Brasil, Ricardo Salles, de promover mudanças na gestão do fundo.

Em maio, embaixadores dos dois países, que são os maiores doadores do fundo, admitiram a possibilidade de que o programa venha a ser extinto caso o impasse persista.

Tanto a Alemanha quanto a Noruega mostraram contrariedade com a extinção pelo governo Bolsonaro de dois comitês responsáveis pela gestão do fundo.

Antes disso, os governos alemão e norueguês já haviam rejeitado publicamente a proposta de Brasília de usar parte dos recursos do fundo para indenizar proprietários que vivem em áreas incluídas em unidades de conservação da Amazônia, o que hoje não é permitido. Os europeus também rejeitaram as insinuações do governo brasileiro de que há indícios de irregularidades em contratos do fundo.

Durante a reunião de cúpula do G20, no Japão, em junho, Bolsonaro e integrantes do seu governo também já haviam antagonizado com a Alemanha e outros países europeus que mostraram preocupação com a política ambiental brasileira. Na ocasião, Bolsonaro disse que "os alemães têm a aprender" com os brasileiros e disse que não aceitaria ser "advertido por outros países".

Já o general Augusto Heleno, titular do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), reagiu de maneira mais exaltada às manifestações do governo alemão e francês.  "Estes países que criticam? Vão procurar a sua turma", disse o ministro. Ele ainda acusou os europeus de derrubarem suas próprias florestas e insinuou que países da Europa cobiçam as riquezas naturais brasileiras.

JPS/ots

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