Afirmação equivocada é amplamente divulgada nas redes. Apesar de não ameaçar reserva de oxigênio do planeta, devastação da Floresta Amazônica pode ter consequências desastrosas para o clima global e a biodiversidade.
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Um equívoco amplamente divulgado: "A Amazônia – o pulmão do planeta que produz 20% do nosso oxigênio – arde em chamas", escreveu o presidente francês, Emmanuel Macron, em sua conta no Twitter. O jogador Cristiano Ronaldo também endossou a afirmação de que a floresta na América do Sul seria responsável pela produção de 20% do oxigênio global.
A Amazônia é, de fato, um ecossistema importante para todo o mundo, mas chamá-la de pulmão do planeta é equivocado. A suposição de que faltaria oxigênio no mundo devido às queimadas da floresta não é correta, afirma Niklas Höhne, professor da Universidade de Wageningen, na Holanda, especialista em redução de gases do efeito estufa. Os incêndios, porém, são perigosos para o clima.
Florestas, incluindo a Amazônica, absorvem dióxido de carbono (CO2) da atmosfera e, através da fotossíntese, convertem esse CO2 em moléculas de açúcar ou glicose, que se espalham pela planta, e em oxigênio, que é devolvido à atmosfera. À noite não há liberação de oxigênio, mas apenas de CO2 através da respiração das plantas. No balanço, mais CO2 é consumido do que produzido, porque ele é armazenado pela floresta.
Por ser um sistema complexo com muitas plantas e micróbios, a Amazônia produz menos oxigênio do que, por exemplo, campos, como os pampas e savanas. Ao mesmo tempo, florestas e solos absorvem dióxido de carbono, embora os oceanos armazenem uma quantidade maior.
"As florestas e os solos absorvem em todo o mundo cerca de um terço das emissões de CO2 produzidas por humanos, sendo a Amazônia responsável por um sexto desse montante, ou seja, a Amazônia absorve 5% das emissões provocadas pela ação humana", afirma Höhne, que integra também o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Segundo uma análise do Instituto de Pesquisa sobre o Impacto Climático de Potsdam (PIK), a Floresta Amazônica armazena em sua biomassa e solo entre 290 bilhões e 440 bilhões de toneladas de CO2, ou seja, entre 290 e 440 gigatoneladas, por isso é tão importante para o clima da Terra.
Apesar de não impactar na quantidade de oxigênio, a situação é alarmante. Höhne ressalta que a destruição da floresta tem efeitos devastadores. "O desmatamento transformou a Amazônia num grande emissor de CO2. As emissões chegam a até uma ou duas gigatoneladas de CO2 por ano. Isso é muito se considerado que as emissões de gases do efeito estufa global são cerca de 50 gigatoneladas", acrescenta.
De acordo com a especialista em Amazônia do PIK, Kirstin Thonike, 20% dos 5,3 milhões de quilômetros quadrados da floresta já foram desmatados. Essa área é maior do que toda a União Europeia (UE), que possui 4,4 milhões de quilômetros quadrados. "Essa perda levou a um aquecimento de 0,8 °C e 0,9 °C na região, além de aumentar o período da seca", afirma Thonike.
Os incêndios são devastadores para a biodiversidade e para os moradores da região, incluindo os povos indígenas.
De acordo com Höhne, se a Amazônia continuar sendo desmatada, pode-se chegar a um limite irreversível, causando uma mudança em todo o clima da região que será irreparável. O especialista teme que ocorra uma diminuição significativa na quantidade de chuvas e que a Região Amazônica seque. "Assim, não é só a Amazônia que está em perigo, mas também todo o abastecimento de água da região, incluindo a cidade de São Paulo, onde vivem cerca de 20 milhões de pessoas", ressalta.
"Começa a chover cada vez mais tarde no outono. Se continuar assim, resultará em uma extinção em larga escala. A quantidade de carbono liberada nesse processo seria tão grande que afetaria diretamente o clima", destaca Thonike. A essa altura, então, os efeitos da devastação da floresta seriam sentidos em todo o mundo.
A Floresta Amazônica enfrenta suas piores queimadas em anos. As chamas deixam rastro de destruição na região e geram comoção internacional. Imagens revelam a proporção assustadora da tragédia.
Foto: picture-alliance/dpa/AP/E. Peres
Amazônia em chamas
Uma fumaça espessa cobre grande parte da Região Amazônica. A dimensão do avanço da destruição da floresta é melhor percebida de cima. Paredes enormes de fogo consomem grandes áreas verdes e dão o tom da evolução da catástrofe ambiental.
Foto: Imago Images/Agencia EFE/J. Alves
Bombeiros em ação contínua
Apesar dos troncos de árvores queimados, o fogo continua sua destruição. Milhares de bombeiros colocam sua vida em risco para tentar conter as chamas. Aparentemente, seus esforços não são suficientes, e o avanço das queimadas chamou a atenção do mundo para a Amazônia.
Foto: picture-alliance/dpa/AP/E. Peres
Fumaça chega a regiões distantes
Em 19 de agosto, a fumaça das queimadas chegou até São Paulo, contribuindo para o fenômeno que transformou o dia em noite na cidade. A nuvem de fumaça atraiu a atenção do Brasil e do mundo para a situação na Amazônia. Essa fumaça também foi percebida no Peru e recentemente no Uruguai.
A inércia do governo brasileiro diante do avanço das chamas levou a comunidade internacional a pressionar o presidente Jair Bolsonaro a tomar medidas para combater as queimadas. Solicitado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, o tema foi debatido na cúpula do G7. Depois disso, Bolsonaro fez um pronunciamento anunciando o uso das Forças Armadas nos esforços contra o fogo.
Foto: Youtube/TV BrasilGov
Aumento no número de queimadas
Numa corrida contra o tempo, vários estados da região declararam situação de emergência e pediram ao governo federal o envio de militares. As estatísticas não são nada animadoras. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de janeiro a 18 de agosto as queimadas aumentaram 82% em comparação com o mesmo período do ano passado. Foram registrados quase 72 mil focos de incêndio.
No dia seguinte ao anúncio de Bolsonaro, os primeiro militares entraram em ação contra o fogo em Rondônia. O governo disse que disponibilizou 44 mil militares para combater os incêndios que estão devastando a Amazônia.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Brazil Ministry of Defense
Catástrofe causada por humanos
Grandes incêndios não são uma exceção em países sul-americanos. Eles são frequentes durante o período de seca. No entanto, também são causados pela ação humana. Ambientalistas dizem que o recente aumento no número de queimadas é responsabilidade de agricultores, que através do fogo pretendem ganhar terras para o pasto.
Foto: picture-alliance/dpa/AP/L. Correa
Infraestrutura em perigo
Os incêndios não são um risco apenas em florestas distantes. A foto tirada na região de Cuiabá, no Mato Grosso, mostra a proximidade das chamas a locais habitados. Na beira da rodovia 070, que liga o Brasil à vizinha Bolívia, as chamas resplandecem de forma ameaçadora aos veículos que passam por ali.
Foto: picture-alliance/dpa/AP/a. Penner
Protestos contra o governo Bolsonaro
Brasileiros foram às ruas em várias cidades do país para protestar contra as políticas ambientais do governo Bolsonaro. Em várias ocasiões, o presidente defendeu o desenvolvimento econômico da Amazônia e chegou a propor a seu homólogo americano, Donald Trump, a exploração conjunta da região.
Foto: Imago Images/Agencia EFE/M. Sayao
Preocupação mundial
As atitudes do governo brasileiro em relação ao meio ambiente e ao avanço do desmatamento e das queimadas na Amazônia provocaram também dezenas de manifestações em frente às representações diplomáticas do Brasil em várias cidades europeias e sul-americanas. A maioria dos atos foi convocada pelo movimento Extinction Rebellion (Rebelião da Extinção).
Foto: DW/C. Neher
Ajuda internacional
Devido à magnitude dos incêndios, o Brasil recebeu apoio da comunidade internacional. O G7 ofereceu 20 milhões de dólares ao país. A oferta, porém, foi recusada por Bolsonaro. O Reino Unido disponibilizou 10 milhões de libras para o combate às queimadas, e Israel prometeu o envio de um avião equipado para essa finalidade.