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A ascensão dos nacionalistas na Alemanha

Jefferson Chase rw
25 de setembro de 2017

Fundado há menos de cinco anos com discurso eurocético, movimento AfD sacudiu a política alemã ao adotar discurso antimigração, tirar votos de principais partidos e entrar no Parlamento. Saiba mais sobre a legenda.

Jörg Meuthen, Alexander Gauland e Alice Weidel, da AfD
Jörg Meuthen, Alexander Gauland e Alice Weidel, da AfDFoto: Reuters/F. Bensch

Anti-imigração

A Alternativa para a Alemanha (AfD), tornou-se acima de tudo um partido anti-imigração. A série de êxitos nas eleições locais em 2016 foi causada em grande parte pela política de Angela Merkel de acolhimento aos refugiados, particularmente da Síria e de outros países do mundo árabe, que superou 1,5 milhão de migrantes na Alemanha desde 2015.

A AfD quer fechar as fronteiras da União Europeia (EU), instituir rigorosos controles de identidade ao longo dos limites nacionais da Alemanha e criar acampamentos de refugiados no exterior para evitar que migrantes cheguem à Alemanha. O partido pretende deportar imediatamente qualquer pessoa cujo pedido de refúgio seja rejeitado e fornecer incentivos financeiros para os estrangeiros retornarem a seus países de origem.

A AfD acredita que os poucos migrantes que têm permissão para permanecer no país têm o dever de se integrar plenamente na sociedade alemã. O partido enfatiza a primazia do idioma alemão, a cultura tradicional alemã e rejeita a ideia de que o islamismo faça parte da sociedade alemã.

Anti-UE

Quando foi criada, em 2013, o principal impulso da AfD foi a oposição ao resgate financeiro dos países endividados na União Europeia, como a Grécia. Na época, seu porta-voz Bernd Lucke a descreveu como "novo tipo de partido, que não é de direita nem de esquerda".

Na eleição federal de 2013, a Alternativa para a Alemanha não conseguiu os 5% dos votos necessários para obter representação no Bundestag em Berlim. Mas na votação ao Parlamento Europeu, em 2014, conquistou 7,1% dos votos. Esse foi o primeiro grande sucesso eleitoral do partido, que rejeita a ideia de "Estados Unidos da Europa", gostaria que cada país voltasse a ter mais força na entidade e favorece o abandono da moeda euro.

Populismo de direita

Apesar de alegar que não tem uma origem partidária, a AfD desenvolveu-se de movimento a partido com um espectro político à direita da conservadora CDU/CSU da chanceler federal Angela Merkel. A AfD encontra repercussão tanto entre extremistas de direita como entre pessoas insatisfeitas com sua situação. Alguns especialistas falam até em uma "radicalização do centro".

O partido é particularmente popular no território da antiga Alemanha Oriental, que passou muito tempo sob domínio soviético. Estudos sugerem que a AfD tenha absorvido eleitores de todos os partidos estabelecidos na Alemanha, e atualmente possui mais de 23 mil membros. Muitos analistas veem a ascensão do partido como parte da mesma tendência internacional populista que levou à aprovação do Brexit no Reino Unido e a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos.

Mudança no cenário político

Ao conquistar 12,6% dos votos na eleição nacional deste domingo (24/09), segundo resultados ainda não consolidados, a AfD ganha 94 mandatos e é a primeira bancada nacionalista populista de direita a ocupar o Bundestag na história do pós-Guerra. Além disso, provavelmente será a segunda maior força de oposição no Parlamento alemão, atrás dos social-democratas, que já anunciaram não pretender negociar uma coalizão de governo com Angela Merkel.

Presença nos estados alemães

A AfD conquistou mandatos nos legislativos de 13 dos 16 estados alemães, incluindo todos os do território correspondente à antiga Alemanha Oriental. Na eleição federal deste domingo, segundo resultados preliminares, foi a legenda mais votada na Saxônia e a segunda mais votada na Turíngia.

Novo partido extremista?

Segundo sua plataforma oficial, o partido apoia a democracia direta, a separação dos poderes do Estado e as regras da lei e da ordem, mas, ao longo de sua breve história, os críticos acusaram seus membros de promover ideias e usar linguagem neonazista.

Segundo eles, o partido segue uma estratégia de rupturas intencionais de tabus antinazistas, na tentativa de atrair extremistas de direita. Em janeiro último, por exemplo, o membro do partido Björn Höcke disse que o Memorial do Holocausto de Berlim, é um "monumento da vergonha".

O ganho de força pela AfD coincidiu com o declínio de partidos de extrema direita como o NPD. No entanto, o Ministério do Interior da Alemanha não considera a AfD inconstitucional. Segundo o ministro Thomas de Maizière, a AfD não pode ser mantida sob constante vigilância pela Agência de Proteção da Constituição por não ser um partido extremista.

Assuntos de família

A AfD também se vê como defensora do modelo tradicional de família, é contra o aborto e critica formas alternativas de vida. Além disso, favorece uma série de medidas que aumentariam o apoio financeiro do Estado às famílias tradicionais.

Nomes no partido

A AfD foi fundada em abril de 2013 em Berlim. Entre os nomes de destaque estão Bernd Lucke, Frauke Petry, Bernd Höcke, Alexander Gauland, Jörg Meuthen e Alice Weidel.

Rachas internos

Nos seus pouco mais de quatro anos de existência, a AfD foi marcada por querelas internas pela hierarquia. Os fundadores do partido que defendiam uma orientação relativamente moderada foram marginalizados ou compelidos a sair do partido.

Petry (esq.) anunciou que não pretende participar da bancada da Afd no BundestagFoto: picture-alliance/AP Photo/M. Schreiber

Um exemplo foi convenção de 4 de julho de 2015, em que Frauke Petry e Jörg Meuthen foram eleitos para a liderança do partido, destituindo o eurocético e antigo ídolo da AfD Bernd Lucke. Mas a tensão é constante entre os que defendem uma ideologia mais pragmática e os defensores da linha dura.

O racha na legenda foi exposto poucos dias antes do congresso nacional que escolheria os candidatos para liderar a campanha às eleições legislativas. A copresidente Petry anunciou que não estaria disponível para o cargo. E, nesta segunda-feira, um dia após a eleição em que obteve um mandato direto de seu distrito eleitoral, ela anunciou não querer fazer parte da bancada do partido no Bundestag. Ao optar por não representar nenhuma bancada, ela sela o racha no partido.

Relacionamento difícil com o Pegida

Frequentemente a AfD é confundida com o movimento anti-imigração Pegida (sigla em alemão para "Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente"), que regularmente realiza manifestações de protesto em Dresden. Embora haja uma sobreposição considerável em termos de atitudes políticas e apoiantes, o Pegida não é um partido.

Em maio de 2016, a liderança nacional do partido decidiu que os membros da AfD não deveriam aparecer nos eventos da Pegida e vice-versa – uma posição criticada pelos membros da ala direita do partido.

Relação com a imprensa

Da mesma forma como Donald Trump ou o líder do Brexit, Nigel Farage, as lideranças da AfD são hostis à maior parte da mídia. A legenda quer a eliminação das taxas compulsórias para o financiamento das emissoras públicas de rádio e televisão na Alemanha. Jornalistas costumam ser excluídos dos eventos do partido.

Os repórteres que ligam para a assessoria de imprensa do partido geralmente ouvem uma mensagem pré-gravada pedindo "Tente novamente mais tarde".