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A Bauhaus e a favela

Soraia Vilela1 de abril de 2003

Três anos após o início de um projeto da Fundação Bauhaus Dessau no Rio de Janeiro, a urbanização da favela do Jacarezinho torna-se tema de exposição, exibida a partir de 2 de abril na embaixada do Brasil em Berlim.

Início das primeiras construções do projeto Célula Urbana na Favela do JacarezinhoFoto: Dietmar Starke/

Baixada há muito a poeira levantada pelos jornais brasileiros com a presença de uma equipe de 15 especialistas da Fundação Bauhaus Dessau na favela do Jacarezinho, em março de 2000, o projeto Célula Urbana volta ao centro das atenções. Desta vez, fora do país. A partir desta quarta-feira (2), a embaixada do Brasil em Berlim expõe ao público alemão as peculiaridades de um projeto arquitetônico que tenta recuperar o espaço urbano da favela, tirando dali o rótulo de bolsão de pobreza em troca do selo qualidade de vida.

Qualidade urbana -

Sob a perspectiva européia do que é "qualidade urbana", a favela está muito à frente do que qualquer conglomerado estéril de arranha-céus aos moldes Barra da Tijuca. Para Omar Akbar, diretor da Fundação Bauhaus Dessau, "a estrutura mista" é o grande trunfo da favela. "Prestação de serviços, trabalhadores autônomos, residências. Essa é a grande qualidade urbana. A organização arquitetônica e do espaço, apesar de muito densa, é composta por prédios de no máximo dois andares, o que provoca uma boa ventilação, respeitando assim as condições climáticas", analisa Akbar.

Além da estrutura orgânica presente na arquitetura da favela do Jacarezinho, por onde passaram alguns especialistas da Fundação Bauhaus Dessau no decorrer dos últimos dois anos, "a vitalidade" é outro ponto que chega a provocar inveja se comparado à rigidez do Velho Continente. "Trata-se de uma forma de convívio social que não se encontra mais na Europa", afirma Rainer Weisbach, um dos arquitetos envolvidos no projeto, ao observar que, pela falta de espaço interno, as atividades sociais na favela acabam acontecendo ao ar livre, fora das casas.

Maquete do projeto da Fundação Bauhaus Dessau para a Favela do JacarezinhoFoto: Dietmar Starke

As ruelas, desprezadas pelas cabeças do establishment no asfalto, são vistas pela equipe de arquitetos alemães como um dos pontos mais importantes a serem preservados. "A primeira associação que fiz ao chegar ao Jacarezinho foi a de uma cidade medieval, como se conhece na Itália, Espanha ou nos Bálcãs. Cidades que se quer preservar, obviamente. Na favela do Jacarezinho, não tive a impressão que os problemas vêm da má qualidade das construções, mas sim da densidade populacional. São quase 60 mil pessoas vivendo em um espaço extremamente reduzido", acredita Weisbach.

Lados menos nobres -

A preocupação com o papel social a ser exercido pela arquitetura encaixa-se na tradição da Escola Bauhaus, fundada em 1919 por Martin Gropius. Em um colóquio a ser realizado no próximo 8 de abril na embaixada brasileira em Berlim, procura-se, de certa forma, dar continuidade ao discurso iniciado por Gropius nos anos 20. Para Akbar, "será importante, acima de tudo, poder colocar a favela mais uma vez como tema. Trata-se de um dos principais pontos de discussão do mundo, pois 1,5 bilhão de pessoas vivem em tais formas de habitação. Acho muito importante que instituições de grande porte se ocupem não apenas com o lado nobre da arquitetura".

Em entrevista exclusiva à DW-WORLD (clique no link abaixo), Akbar reage às críticas de que a Fundação Bauhaus Dessau estaria intervindo em excesso em projetos arquitetônicos, deixando de lado sua função primordial de museu. Além disso, o afegão naturalizado alemão, que dirige a fundação sucessora da mais lendária escola de arquitetura e design do Ocidente, discorre sobre as qualidades do Brasil como laboratório para jovens arquitetos e ressalta as vantagens do "olhar do estranho" no desenvolvimento de projetos como o Célula Urbana.

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