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A busca desesperada da Alemanha por professores

Nancy Isenson rk
4 de setembro de 2018

Faltam cerca de 40 mil docentes nas escolas alemãs, e cenário pode se agravar nos próximos anos. Uma controversa solução seria permitir que pessoas sem formação na área se tornem educadores.

Menina sentada à mesa em sala de aula, atrás de três outros alunos, levanta a mão para responder a pergunta de professora, ao fundo
Aumento da natalidade no país e influxo de refugiados são apontados como algumas das causas para falta de professoresFoto: imago/photothek/F. Gaertner

"Há trinta anos, não temos um quadro tão dramático de falta de professores na Alemanha", afirma Heinz-Peter Meidinger, presidente da Associação Alemã de Professores (DL, na sigla em alemão). "No total, faltam 40 mil professores", revelou.

As vagas estão sendo preenchidas temporariamente por novatos, aposentados ou estudantes – ou, simplesmente, continuam desocupadas.

"O início do ano letivo em vários estados mostrou que nosso país corre o risco de se encaminhar, gradualmente, para uma situação de emergência na área da educação", afirmou, no fim de agosto Volker Kauder, líder da União Democrata Cristã (CDU) no Parlamento alemão e um dos confidentes mais próximos da chanceler federal Angela Merkel.

O problema é resultado de muitos fatores: aumento da natalidade no país, amplo influxo de refugiados, uma geração de professores se aposentando, falta de investimento em educação e barreiras que complicam a entrada em programas de treinamento de docentes nas universidades.

As escolas mais afetadas são aquelas onde os salários dos professores são os mais baixos: as do ensino fundamental, do ensino técnico e instituições voltadas para crianças com deficiências no aprendizado. Escolas municipais nos bairros mais pobres da capital, Berlim, e em áreas rurais são as que mais têm dificuldades para atrair novos professores.

Quebrando o padrão

Alguns estados estão tentando solucionar a falta de professores dando permissão para dar aula a pessoas sem diploma de professor. A Renânia do Norte-Vestfália – o Estado federado mais populoso da Alemanha –, por exemplo, está recrutando universitários recém-formados com experiência profissional para receber treinamento em escolas para se tornarem professores. Depois de dois anos de prática e teoria, eles deverão ter a qualificação necessária para dar aulas.

A medida é controversa num país onde vendedores, garçons e comerciantes podem levar anos para obter diplomas em suas respectivas profissões. Existe até uma palavra específica para aqueles que adotam uma trajetória profissional não convencional: Quereinsteiger, ou "pessoas que entram pelo lado", em tradução livre.

Em 2013, os 16 secretários estaduais da Educação do país concordaram que os Quereinsteiger poderiam ser um último recurso para tapar buracos temporariamente. Mas essas pessoas estão se tornando uma solução de longo prazo para a escassez de educadores, segundo afirmou o presidente da Associação para o Ensino e a Educação (VBE, na sigla em alemão), Udo Beckmann. Em entrevista ao canal público de televisão ZDF, ele pediu regulamentos padronizados de treinamento para os novatos.

No ano passado, cerca de 4.400 pessoas que se qualificaram para o cargo de professor por um desses programas foram contratadas para preencher algumas das 34.300 novas vagas em todo o país. O maior número de pessoas que mudaram de profissão foi registrado em Berlim (1.270), na Saxônia (1.100) e na Renânia do Norte-Vestfália (800).

Berlim e Saxônia estão entre os estados mais desesperados atrás de professores, mas também são os locais onde educadores contam com a menor segurança em relação ao trabalho. Na maior parte dos outros estados, professores são funcionários públicos com contratos permanentes e benefícios atraentes.

Obstáculos de mais, vagas de menos

Houve quem tenha zombado da ideia de contratar professores entre pessoas que buscam novas carreiras. "Estou muito preocupado com a qualidade do ensino", afirmou Kauder, apesar de reconhecer que os Quereinsteiger merecem reconhecimento por quererem trabalhar com crianças.

Especialistas como o professor de Educação Jörg Ramseger argumentam que pessoas que se tornam professores sem adotar o caminho tradicional não têm tempo de considerar se têm ou não aptidão para a profissão.

Até recentemente, curso de pedagogia era ministrado apenas em universidades na AlemanhaFoto: picture alliance/dpa/J.Stratenschulte

"Na universidade, os estudantes têm cinco anos para aprender como crianças pequenas pensam e aprendem e como desenvolver ambientes modernos de aprendizado", disse Ramseger ao diário Tagesspiegel. "Durante seus estudos e estágios, os estudantes podem examinar e avaliar se realmente querem e são capazes de ensinar crianças pequenas", continuou.

O caminho tradicional para se formar professor demanda bastante dos estudantes. Quem se forma no ensino médio precisa apresentar notas quase perfeitas em várias matérias para ser aceito em programas de formação de professores nas universidades, que duram entre sete e oito anos.

Críticos dessa tradição, como o especialista em Educação Peter Struck, da Universidade de Hamburgo, afirmam que há muitos obstáculos e, ao mesmo tempo, escassez de vagas para os programas de formação – o que resulta num número insuficiente de formandos.

"A qualidade de um professor não tem nada a ver com suas notas", disse ao semanário alemão Die Zeit. "Em Passau, graduandos do ensino médio precisam completar um estágio de várias semanas numa escola antes do primeiro semestre na universidade. Depois, um facilitador diz a eles se eles têm ou não aptidão para a profissão de professor. Todos os que ainda estiverem interessados nessa altura deveriam ser aceitos", opina.

Segundo um estudo recente da Fundação Bertelsmann, 105 mil professores teriam de ser contratados até 2025 para atender às necessidades das escolas fundamentais alemãs. No entanto, no máximo 70 mil formados em universidades deverão começar a trabalhar até essa data. Se as estimativas estiverem corretas, os Quereinsteiger podem se tornar ainda mais comuns.

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