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A campanha de Trump em 10 momentos decisivos

6 de novembro de 2024

Atentado, condenação criminal, debates com Biden e Kamala, comentários preconceituosos e teorias conspiratórias. Como foi o bem-sucedido caminho de Trump de volta à Casa Branca.

Atentado contra Trump
A foto icônica da campanha de Trump: republicano fez gesto desafiador após ser alvo de tiros durante comícioFoto: Evan Vucci/AP Photo/picture alliance

Donald Trump foi eleito novamente presidente dos Estados Unidos após projeções divulgadas nesta quarta-feira (06/11) apontarem que ele derrotou de maneira decisiva sua rival democrata Kamala Harris, ao superar a marca de 270 votos no Colégio Eleitoral do país.

O resultado também encerrou um ciclo de campanha marcado por tensões e reviravoltas, incluindo a desistência da candidatura do atual presidente Joe Biden e duas tentativas de assassinato contra Trump.

Relembre dez momentos da campanha de Trump à Presidência em 2024:

Primárias, julgamento e condenação criminal

Donald Trump iniciou 2024 se lançando nas eleições primárias do Partido Republicano, organizadas para definir o candidato oficial do partido à Presidência. Uma série de desafiantes se apresentou, na esperança de que os problemas na Justiça de Trump e o desgaste sofrido pelo republicano nos seus anos fora da Casa Branca abrissem caminho para alternativas. No entanto, Trump manteve o favoritismo durante toda a disputa. Em março, ele assegurou a indicação.

A eleição se desenhava como uma repetição do duelo entre o republicano e o democrata Joe Biden.

Em abril, foi a vez de Trump passar a enfrentar um julgamento que envolvia 34 acusações relacionadas ao pagamento de suborno para uma ex-atriz pornô em 2016. Seria o primeiro julgamento criminal da história da Justiça americana contra um ex-presidente. Em maio, ele foi condenado - outra marca histórica para um ex-presidente. Apesar da condenação, Trump disse que não pretendia desistir da candidatura.

Trump em tribunal de Nova York durante seu julgamento em maioFoto: Steven Hirsch/Pool/REUTERS

Debate contra Biden como gatilho para substituição do democrata

No fim de junho, Trump enfrentou Biden no primeiro debate televisivo da campanha. O encontro se revelou um pesadelo para os democratas, fazendo emergir temores relacionados à idade do presidente (81 anos). 

Biden pareceu confuso, vacilante, cansado e incoerente.  "Eu realmente não entendi o que ele disse no final da frase, e acho que ele também não sabe o que ele disse", disse Trump no debate, depois que o democrata proferiu uma reposta confusa sobre o tema da imigração. Trump, no entanto, evitou explorar demasiadamente o desempenho de Biden no embate, deixando que as imagens falassem por si.

Com o pânico instalado no Partido Democrata, membros da legenda começaram a pressionar o presidente para que ele abandonasse a corrida e abrisse caminho para um substituto. Biden ainda se agarrou à candidatura por pouco mais de três semanas, mas em julho anunciou que estava se retirando da disputa. Biden acabaria endossando sua vice-presidente, Kamala Harris, para sucedê-lo na disputa.

Desempenho de Biden no debate em junho provocou pânico entre democratasFoto: Yuri Gripas/abaca/picture alliance

Tentativa de assassinato e foto icônica

No momento mais dramático de toda a campanha, em julho, Trump sobreviveu a uma tentativa de assassinato durante um comício na cidade de Butler, no estado da Pensilvânia. O republicano sofreu ferimentos na orelha direita, após ser alvejado por um homem armado com fuzil de assalto que estava em um telhado a poucas centenas de metros. O atirador acabou sendo morto por forças de segurança.

Rapidamente, membros do Serviço Secreto se jogaram em cima de Trump para protegê-lo. Enquanto era retirado do local, Trump ergueu o punho para cima, num gesto desafiador, e murmurou a palavra "lutem!", provocando um coro de gritos de "USA! USA!" na multidão de apoiadores. Uma fotografia que capturou o momento rapidamente se tornou uma das imagens mais marcantes da campanha.

Cerca de dois meses depois, agentes do Serviço Secreto impediram que um segundo atirador emboscasse Trump enquanto o republicano jogava golfe na Flórida.

O apoio de Elon Musk

O bilionário Elon Musk nunca escondeu seu alinhamento ideológico com Trump, mas nesta campanha declarou abertamente seu apoio à eleição do republicano, na esteira da tentativa de assassinato em julho.

Musk acabou direcionando milhões de dólares para a campanha, chegando a liderar esforços locais para conquistar votos, especialmente no estado da Pensilvânia. Alguns desses esforços chegaram a levantar acusações de compra de votos.

O Departamento de Justiça dos EUA emitiu em outubro um alerta formal sobre a legalidade de um sorteio diário de US$ 1 milhão para eleitores em estados decisivos que assinassem uma petição promovida por Musk, supostamente em apoio à liberdade de expressão e ao direito de portar armas.

No mesmo mês, Musk ainda subiu ao palco com Trump num comício organizado no mesmo local em que o republicano havia sido alvo da tentativa de assassinato em julho.

Durante a campanha, Trump também lançou a ideia de que poderia indicar Musk para fazer parte do seu gabinete de governo como uma espécie de "secretário de corte de custos".

Elon Musk ao lado de Trump durante comício em Butler, local que foi palco da tentativa de assassinato contra o republicanoFoto: Jim Watson/AFP

Convenção republicana e escolha de vice

Dias após a tentativa de assassinato na Pensilvânia, Trump subiu ao palco da Convenção Nacional Republicana para formalizar a aceitação da sua candidatura.

O encontro explicitou a unidade do partido em torno de Trump, demonstrando mais uma vez a fusão entre os republicanos e o trumpismo e o controle que o ex-presidente conseguiu manter sobre o partido.

Por alguns dias após a tentativa de assassinato, Trump chegou a ensaiar um personagem moderado que pregava união, mas na convenção ele voltou a ser o mesmo de sempre, atacando adversários políticos, espalhando teorias conspiratórias e atacando imigrantes. Ele afirmou, por exemplo, que os democratas estavam "destruindo o país" e descreveu a entrada de imigrantes nos EUA como uma "invasão".

Ainda na convenção, Trump escolheu o senador J.D. Vance como vice. Inicialmente, o vice se envolveu uma série de controvérsias desgastantes. No entanto, Vance se recuperou, especialmente após um bom desempenho num debate com o vice de Kamala, Tim Walz.

Trump, com um curativo na orelha após sofrer atentado, e seu vice J.D. Vance durante a convenção republicanaFoto: Paul Sancya/AP Photo/picture alliance

"Eles estão comendo os pets" e debate com Kamala

Trump travou apenas um debate com a vice-presidente Kamala Harris após ela substituir o presidente Joe Biden na disputa.

À época, analistas apontaram que o republicano claramente perdeu o embate para a democrata. Como resultado, Trump se recusou a participar de um novo encontro.

Ao longo do debate, Kamala pressionou Trump em questões espinhosas para o republicano, como aborto, e irritou Trump quando afirmou que "líderes mundiais" estavam "rindo" do seu adversário. Na troca de farpas, Trump chamou a adversária de "marxista". Kamala, por sua vez, lembrou que Trump é um criminoso condenado e o chamou de "extremista".

No momento mais infame da noite, Trump espalhou uma história sem base factual de que imigrantes haitianos estariam capturando e comendo animais de estimação numa cidade do estado de Ohio. "Em Springfield, eles [imigrantes] estão comendo os cachorros. Eles estão comendo os gatos. Comendo os pets das pessoas que moram lá", disse Trump.

Trump e Kamala Harris no único debate televisivo travado entre os dois rivaisFoto: Alex Brandon/AP Photo/picture alliance

Porto Rico e o comício no Madison Square Garden

Trump realizou seu último comício de campanha em Nova York, no que foi visto foi como uma provocação e um sinal de confiança. Apesar de ser a cidade natal de Trump, Nova York também é um bastião democrata.

O encontro, no entanto, acabou sendo ofuscado por uma série de comentários ofensivos protagonizados por oradores que participaram do evento. O principal insulto partiu do comediante Tony Hinchcliffe, que chamou o território americano de Porto Rico de "uma ilha flutuante de lixo". A fala chegou a irritar até mesmo membros do Partido Republicano, que temeram uma reação negativa entre eleitores latinos.

Dois dias depois, no entanto, Trump defendeu que o comício foi um "um verdadeiro festival de amor".

Trump e sua mulher, Melania, durante o infame comício no Madison Square Garden na reta final da campanhaFoto: Evan Vucci/AP Photo/picture alliance

Campanha tenta humanizar Trump e explorar fala de Biden

Nos dias que imediatamente antecederam a votação, o bilionário Trump surgiu trabalhando num restaurante da rede McDonald's no estado da Pensilvânia. numa ação de campanha. Na interação com os clientes no drive-thru, ouviu de uma brasileira residente nos EUA: "Sr. Presidente, por favor não deixe os Estados Unidos virarem o Brasil, meu país natal".

Após servir clientes na lanchonete, foi a vez de Trump se "fantasiar" de lixeiro e andar em um caminhão de lixo durante um evento de campanha. A jornalistas, o ex-presidente disse que o veículo era uma homenagem a Kamala Harris e Joe Biden. A iniciativa ocorreu após Biden fazer críticas aos apoiadores do republicano e, numa fala interpretada nesse sentido, sugerir que eles seriam "lixo". A fala de Biden havia sido justamente uma tentativa de criticar a piada preconceituosa sobre Porto Rico, mas o episódio repercutiu mal e Kamala se distanciou do comentário.

O bilionário Trump "trabalhando" num McDonald's durante uma ação de campanhaFoto: Doug Mills-Pool/Getty Images

Trump intensifica falsa narrativa de fraude na reta final

Na reta final da campanha, Trump reforçou sua estratégia de espalhar teorias conspiratórias sobre supostas fraudes, aumentando o receio de que ele poderia a se recusar a aceitar o resultado do pleito caso saísse derrotado na disputa contra a democrata Kamala Harris.

Em um comício dois dias antes do pleito, por exemplo, Trump plantou a ideia entre os seus apoiadores de que os resultados só seriam legítimos se forem divulgados até as 23h de terça-feira – uma possibilidade inviável por uma série de questões técnicas.

Na noite da eleição, Trump ainda espalhou, sempre sem provas, que havia "muitas conversas sobre fraudes massivas na Filadélfia", a maior cidade do estado da Pensilvânia, considerado crucial na eleição e cujas pesquisas apontavam inicialmente uma disputa acirrada entre o republicano e Kamala.

Vitória sobre Kamala

Na manhã de 6 de novembro, Trump foi eleito novamente presidente dos Estados Unidos, protagonizando um retorno dramático e triunfal à Casa Branca quase quatro anos após deixar Washington nas cordas, na esteira de uma tentativa de golpe que culminou na invasão do Capitólio.

O republicano derrotou de maneira decisiva sua rival Kamala Harris ao superar a marca de 270 votos no Colégio Eleitoral dos Estados Unidos. E, em contraste com sua vitória anterior, em 2016, Trump ainda ficou à frente de Kamala no voto popular.

Apoiadores de Trump acompanhando apuraçãoFoto: Ronda Churchill/AFP/Getty Images

"Fizemos história. É uma vitória política que nosso país nunca viu antes. Deus poupou minha vida por uma razão e essa razão foi para salvar nosso país", disse Trump em um discurso após conquistar vários estados-chave na disputa.

Ao final da votação, Trump também havia desafiado consensos. Seu maior e mais significativo grupo de eleitores continuou a ser o de homens brancos. Mas, apesar da misoginia, ele conquistou 44% do voto das mulheres. Apesar do episódio envolvendo a "piada" sobre Porto Rico e a linguagem xenofóbica, Trump levou 45% do voto latino. Entre jovens de 18 a 29 anos, levou 42% do voto.