Um prédio de mais de 500 anos assombra uma pequena cidade da Áustria: nele nasceu Adolf Hitler. Agora, o governo austríaco confirma a demolição e a construção de um novo edifício – tudo para tentar pôr um fim à maldição.
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Ah, se o "Führer" soubesse... A frase irônica, dita por aqueles que não eram exatamente fieis seguidores do líder nazista, voltou a ser usada na Áustria depois do anúncio de que a casa natal de Adolf Hitler, em Braunau am Inn, será demolida, e um novo edifício será construído em seu lugar.
A medida foi confirmada pelo ministro do Interior do país, Wolfgang Sobotka, ao jornal austríaco Die Presse. Segundo ele, ela foi recomendada por uma comissão de especialistas. A nova construção deverá abrigar uma organização social ou autoridades locais. "Ela não lembrará a construção original", disse um porta-voz do Ministério do Interior. Com isso, um debate de anos encontra o seu fim.
Local contaminado pelo nazismo
A casa de cerca de 600 metros quadrados é algo como um lugar contaminado pelo nazismo e uma eterna dor de cabeça para a comunidade local. Os fatos: nela nasceu Adolf Hitler, em 20 de abril de 1889, filho da empregada doméstica Klara Pölzl. Ele morou apenas alguns meses na casa de três andares e com janelas gradeadas no piso térreo – ao que parece, porém, o suficiente para amaldiçoar para sempre o imóvel e também a cidade.
Pois os cerca de 17 mil habitantes de Braunau am Inn simplesmente não conseguem se livrar da maldição de ser o local de nascimento de Hitler. Outras cidades têm um passado nazista bem mais pesado, como Nurembergue, onde eram celebrados os grandes encontros do partido nazista. Mas, hoje em dia, quando alguém pensa em Nurembergue, pensa logo no seu famoso mercado de Natal e no tradicional pão de mel. No caso de Braunau am Inn, todos pensam em Hitler.
Em meados de julho, o governo austríaco votou a favor de um projeto de lei que converteria a casa em propriedade do Estado. De forma concreta: a proprietária receberá uma compensação financeira pela desapropriação. A medida tem como justificativa proteger Braunau am Inn das peregrinações de simpatizantes da cena de direita.
Atualmente, o Estado aluga o imóvel, e isso desde o início dos anos 70. O aluguel é de quase 5 mil euros por mês. Até 2011, o edifício era utilizado por uma oficina para pessoas com deficiências. Mas desde então, a casa está vazia. No contrato de locação está expressamente escrito que o edifício não pode ser utilizado em seu "contexto histórico", ou seja, também não como memorial às vítimas do nazismo.
A proprietária da casa tem desempenhado há anos um papel dubioso. Originalmente, ela queria vender o imóvel, mas mudou de ideia depois que surgiram potenciais compradores de motivações politicamente questionáveis. Ela também rejeitou as reformas necessárias, assim como alterações no prédio. Além disso, nunca existiu um consenso sobre como o imóvel deveria ser utilizado no futuro. As ideias iam desde a demolição até a construção de um memorial. Até o Ministério do Interior formar uma comissão especial para finalmente decidir o futuro desse complicado endereço.
A casa amaldiçoada
O culto nazista em torno da casa de nascimento de Hitler é antigo. Já em 1938, imediatamente após a anexação da Áustria ao "Terceiro Reich", Martin Bormann adquiriu o imóvel para o partido nazista. Bormann, braço direito de Hitler no partido NSDAP, fez uso de ameaças de expropriação e pagou 150 mil marcos reais (Reichsmark) pela casa de cerca de 500 anos de idade.
A propriedade foi então declarada patrimônio histórico e deveria ter sido transformada em centro cultural, mas Hitler não tinha interesse em testemunhos de seus primeiros anos. Ele retirou sistematicamente de circulação todas as evidências de suas origens humildes. Em vez disso, resplandecem até hoje as iniciais MB, de Martin Bormann, no portão de ferro da casa.
Nos últimos dias da Segunda Guerra, soldados americanos impediram a demolição da casa por um grupo da infantaria alemã. Desde então, o endereço volta e meia é ponto de encontro de extremistas de direita e um incômodo constante para a cidade e o Estado austríaco.
Retorno à normalidade?
Há tempos os moradores de Braunau am Inn têm reagido com irritação também aos turistas insuspeitos de qualquer ideologia política radical. Em média, cerca de 50 estranhos passam diante da casa todos os dia – alguns deles apenas lançam olhares furtivos em direção à "casa do mal". Outros tiram selfies e depois somem rapidamente. Há ainda os que raspam partes da fachada como uma espécie de souvenir.
A casa causa constrangimento não só para os moradores, mas também para muitos turistas, que inventam desculpas para perguntar pelo endereço. Os moradores de Braunau am Inn já estão acostumados a ouvir alguém se passar por professor de história somente para dar um ar de legitimidade profissional a sua curiosidade.
Se no local da casa haverá uma estação de bombeiros, um centro comunitário, uma escola ou qualquer outra instituição ainda está completamente indefinido. A única coisa certa no momento é a vontade de tirar a aura de maldade do prédio e fazer com que a normalidade retorne ao local. Se isso de fato vai acontecer, é questionável, pois a imprensa de todo o mundo vai continuar acompanhando o destino do endereço onde Hitler nasceu, para desespero dos moradores de Braunau am Inn.
Cronologia da Segunda Guerra Mundial
Em 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia, sob ordens de Hitler. A guerra que então começava duraria até 8 de maio de 1945, deixando um saldo até hoje sem paralelo de morte e destruição.
Foto: U.S. Army Air Forces/AP/picture alliance
1939
No dia 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia sob ordens de Adolf Hitler – supostamente em represália a atentados poloneses, embora isso tenha sido uma mentira de guerra. No dia 3 de setembro, França e Reino Unido, que eram aliadas da Polônia, declararam guerra à Alemanha, mas não intervieram logo no conflito.
1939
A Polônia mal pôde oferecer resistência às bem equipadas tropas alemãs – em cinco semanas, os soldados poloneses foram derrotados. No dia 17 de setembro, o Exército Vermelho ocupou o leste da Polônia – em conformidade com um acordo secreto fechado entre o Império Alemão e a União Soviética apenas uma semana antes da invasão.
Foto: AP
1940
Em abril de 1940, a Alemanha invadiu a Dinamarca e usou o país como base até a Noruega. De lá vinham as matérias-primas vitais para a indústria bélica alemã. No intuito de interromper o fornecimento desses produtos, o Reino Unido enviou soldados ao território norueguês. Porém, em junho, os aliados capitularam na Noruega. Nesse meio tempo, a Campanha Ocidental já havia começado.
1940
Durante oito meses, soldados alemães e franceses se enfrentaram no oeste, protegidos por trincheiras. Até que, em 10 de maio, a Alemanha atacou Holanda, Luxemburgo e Bélgica, que estavam neutros. Esses territórios foram ocupados em poucos dias e, assim, os alemães contornaram a defesa francesa.
Foto: picture alliance/akg-images
1940
Os alemães pegaram as tropas francesas de surpresa e avançaram rapidamente até Paris, que foi ocupada em meados de junho. No dia 22, a França se rendeu e foi dividida: uma parte ocupada pela Alemanha de Hitler e a outra, a "França de Vichy", administrada por um governo fantoche de influência nazista e sob a liderança do general Pétain.
Foto: ullstein bild/SZ Photo
1940
Hitler decide voltar suas ambições para o Reino Unido. Seus bombardeios transformaram cidades como Coventry em cinzas e ruínas. Ao mesmo tempo, aviões de caça travavam uma batalha aérea sobre o Canal da Mancha, entre o norte da França e o sul da Inglaterra. Os britânicos venceram e, na primavera europeia de 1941, a ofensiva alemã estava consideravelmente enfraquecida.
Foto: Getty Images
1941
Após a derrota na "Batalha aérea pela Inglaterra", Hitler se voltou para o sul e posteriormente para o leste. Ele mandou invadir o norte da África, os Bálcãs e a União Soviética. Enquanto isso, outros Estados entravam na liga das Potências do Eixo, formada por Alemanha, Itália e Japão.
1941
Na primavera europeia, depois de ter abandonado novamente o Pacto Tripartite, Hitler mandou invadir a Iugoslávia. Nem a Grécia, onde unidades inglesas estavam estacionadas, foi poupada pelas Forças Armadas alemãs. Até então, uma das maiores operações aeroterrestres tinha sido o ataque de paraquedistas alemães a Creta em maio de 1941.
Foto: picture-alliance/akg-images
1941
O ataque dos alemães à União Soviética no dia 22 de junho de 1941 ficou conhecido como Operação Barbarossa. Nas palavras da propaganda alemã, o objetivo da campanha de invasão da União Soviética era uma "ampliação do espaço vital no Oriente". Na verdade, tratava-se de uma campanha de extermínio, na qual os soldados alemães cometeram uma série de crimes de guerra.
Foto: Getty Images
1942
No começo, o Exército Vermelho apresentou pouca resistência. Aos poucos, no entanto, o avanço das tropas alemãs chegou a um impasse na Rússia. Fortes perdas e rotas inseguras de abastecimento enfraqueceram o ataque alemão. Hitler dominava quase toda a Europa, parte do norte da África e da União Soviética. Mas no ano de 1942 houve uma virada.
1942
A Itália havia entrado na guerra em junho de 1940, como aliada da Alemanha, e atacado tropas britânicas no norte da África. Na primavera de 1941, Hitler enviou o Afrikakorps como reforço. Por muito tempo, os britânicos recuaram – até a segunda Batalha de El Alamein, no outono de 1942. Ali a situação mudou, e os alemães bateram em retirada. O Afrikakorps se rendeu no dia 13 de maio de 1943.
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1942
Atrás do fronte leste, o regime de Hitler construiu campos de extermínio, como Auschwitz-Birkenau. Mais de seis milhões de pessoas foram vítimas do fanatismo racial dos nazistas. Elas foram fuziladas, mortas com gás, morreram de fome ou de doenças. Milhares de soldados alemães e da SS estiveram envolvidos nestes crimes contra a humanidade.
Foto: Yad Vashem Photo Archives
1943
Já em seu quarto ano, a guerra sofreu uma virada. No leste, o Exército Vermelho partiu para o contra-ataque. Vindos do sul, os aliados desembarcaram na Itália. A Alemanha e seus parceiros do Eixo começaram a perder terreno.
1943
Stalingrado virou o símbolo da virada. Desde julho de 1942, o Sexto Exército alemão tentava capturar a cidade russa. Em fevereiro, quando os comandantes desistiram da luta inútil, cerca de 700 mil pessoas já haviam morrido nesta única batalha – na maioria soldados do Exército Vermelho. Essa derrota abalou a moral de muitos alemães.
Foto: picture-alliance/dpa
1943
Após a rendição das tropas alemãs e italianas na África, o caminho ficou livre para que os Aliados lutassem contra as potências do Eixo no continente europeu. No dia 10 de julho, aconteceu o desembarque na Sicília. No grupo dos Aliados estavam também os Estados Unidos, a quem Hitler havia declarado guerra em 1941.
Foto: picture alliance/akg
1943
Em setembro, os Aliados desembarcaram na Península Itálica. O governo em Roma acertou um armistício com os Aliados, o que levou Hitler a ocupar a Itália. Enquanto os Aliados travavam uma lenta batalha no sul, as tropas de Hitler espalhavam medo pelo resto do país.
No leste, o Exército Vermelho expulsou os invasores cada vez mais para longe da Alemanha. Iugoslávia, Romênia, Bulgária, Polônia... uma nação após a outra caía nas mãos dos soviéticos. Os Aliados ocidentais intensificaram a ofensiva e desembarcaram na França, primeiramente no norte e logo em seguida no sul.
1944
Nas primeiras horas da manhã do dia 6 de junho, as tropas de Estados Unidos,Reino Unido, Canadá e outros países desembarcaram nas praias da Normandia, no norte da França. A liderança militar alemã tinha previsto que haveria um desembarque – mas um pouco mais a leste. Os Aliados ocidentais puderam expandir a penetração nas fileiras inimigas e forçar a rendição de Hitler a partir do oeste.
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1944
No dia 15 de agosto, os Aliados deram início a mais um contra-ataque no sul da França e desembarcaram na Provença. As tropas no norte e no sul avançaram rapidamente e, no dia 25 de agosto, Paris foi libertada da ocupação alemã. No final de outubro, Aachen se tornou a primeira grande cidade alemã a ser ocupada pelos Aliados.
Foto: Getty Images
1944
No inverno europeu de 1944/45, as Forças Armadas alemãs reuniram suas tropas no oeste e passaram para a contra-ofensiva em Ardenne. Mas, após contratempos no oeste, os Aliados puderam vencer a resistência e avançar inexoravelmente até o "Grande Império Alemão" – a partir do leste e do oeste.
Foto: imago/United Archives
1945
No dia 8 de maio de 1945, os nazistas se renderam incondicionalmente. Para escapar da captura, Hitler se suicidou com um tiro no dia 30 de abril. Após seis anos de guerra, grande parte da Europa estava sob entulhos. Quase 50 milhões de pessoas morreram no continente durante a Segunda Guerra Mundial. Em maio de 1945, o marechal de campo Wilhelm Keitel assinava a ratificação da rendição em Berlim.