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A CDU de Merkel é de esquerda?

8 de março de 2018

Ascensão da AfD deu munição aos críticos internos que acusam chanceler federal de ter deslocado CDU para a esquerda. Para eles, é hora de uma guinada à direita. Merkel e seus aliados, porém, rejeitam essa interpretação.

Angela Merkel
Merkel sempre defendeu que o lugar da CDU é no centro do espectro político alemãoFoto: picture alliance/dpa/B. von Jutrczenka

Uma acusação recorrente à chanceler federal Angela Merkel, feita por correligionários, é que ela conduziu o seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), para a esquerda do espectro político alemão.

Os críticos internos apontam para decisões polêmicas da chanceler, como o casamento homossexual, o programado fim da energia nuclear e a abertura das fronteiras para os refugiados, para embasar sua tese.

Leia também: O novo conservadorismo verde na Alemanha

Outros argumentam que o surgimento de um partido à direita da CDU, no caso a Alternativa para a Alemanha (AfD), só pôde acontecer porque a CDU se moveu para a esquerda, deixando espaço vago e eleitores insatisfeitos à direita.

Também as duas coalizões de governo com o Partido Social-Democrata teriam ajudado a diluir o perfil conservador da CDU. E há ainda aqueles que veem na própria Merkel uma social-democrata disfarçada.

A consequência lógica dessa análise é: a CDU deve dar uma guinada à direita para reforçar seu perfil conservador, voltar a ser o que era e assim recuperar os eleitores perdidos para a AfD.

Essa posição é defendida pela ala direita do partido e – com ainda mais ênfase – pelo partido conservador da Baviera, a União Social Cristã (CSU), que forma uma bancada parlamentar única com a CDU.

Mas Merkel e seus aliados internos rejeitam categoricamente essa interpretação. Eles colocam as dificuldades eleitorais enfrentadas pelo partido na conta dos desafios externos surgidos nos últimos anos, como a crise dos refugiados e a crise econômica e financeira no sul da Europa. Merkel sempre defendeu que o lugar da CDU é no centro do espectro político alemão.

O vice-presidente Armin Laschet foi ainda mais longe e rejeitou reduzir o partido a um perfil conservador. "O objetivo da CDU não pode ser reunir tudo aquilo que se encontra à direita da esquerda política", declarou Laschet ao jornal Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung.

Para não deixar dúvidas sobre o que pretendia dizer, Laschet foi ainda mais claro: "A essência da União Democrata Cristã não é o conservadorismo, mas colocar a concepção cristã de ser humano acima de tudo".

O vice-presidente recorreu aos primórdios do partido para reforçar seu argumento, afirmando que a concepção cristã de ser humano sempre esteve em primeiro plano, e que o próprio Konrad Adenauer, primeiro chanceler federal da Alemanha e da CDU, "sempre rejeitou a ideia de que o partido fosse uma aliança de movimentos conservadores." Laschet descartou categoricamente "deslocar o eixo" do partido para a direita.

Uma posição também defendida pela nova secretária-geral, Annegret Kramp-Karrenbauer, uma aliada de Merkel com um perfil semelhante ao da chanceler, mas com elementos conservadores suficientes para agradar também à ala direita do partido.

Kramp-Karrenbauer afirmou que a CDU é um partido que reúne diferentes confissões e concepções de mundo. "Se guinada à direita significa cortar essas raízes e passarmos a nos definir apenas como um partido conservador, então sou totalmente contra", disse. Para ela, o partido, na sua forma atual, continua fiel às suas raízes conservadoras.

A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que ele recebe no dia a dia.

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