Perto de Berlim, Velten receberia estação de trem metropolitano, mas proposta foi barrada por vereadores de partidos neonazista e populista de direita, bem como da CDU. Tudo para evitar o "aumento da alienação".
Anúncio
Há quase três semanas, a eleição indireta de um governador liberal com votos dos populistas de direita da Alternativa para a Alemanha (AfD) ao lado da União Democrata Cristã (CDU) causou um terremoto político no país. Essa aproximação de siglas democráticas com uma legenda xenófoba e muitas vezes antissemita foi uma quebra de tabu e gerou preocupação, devido principalmente ao passado alemão, quando a tolerância a um grupo político de extrema direita terminou num dos episódios mais sombrios da história.
O caso da Turíngia trouxe à tona uma aproximação que aparentemente já vem ocorrendo nos patamares mais baixos da política alemã, como mostra um recente exemplo em Velten, um pequeno município de 11 mil habitantes, localizado 24 quilômetros a noroeste de Berlim. O episódio, que ocorreu dias depois desse escândalo, é bem mais grotesco.
Qualquer governo ou legislador em sã consciência ficaria feliz em ampliar ou melhorar o acesso ao transporte público para os cidadãos de sua cidade, mas não foi o que aconteceu em Velten. Se pudessem, os políticos locais provavelmente isolariam a cidade para evitar o que chamaram de "aumento da alienação".
Antes de continuar, vou fazer um parêntese com um pequeno contexto sobre as transformações demográficas que ocorrem ao redor da capital alemã. Nos últimos anos, as regiões metropolitanas de Berlim têm recebido cada vez mais famílias que resolveram deixar a cidade grande para morar mais próximo à natureza ou simplesmente em locais com aluguéis e preços de imóveis mais acessíveis. A acessibilidade do transporte público tem um peso importante nessa escolha, pois a grande maioria continua trabalhando diariamente em Berlim.
Neste contexto, a expansão das linhas de trens metropolitanos que ligam Berlim aos seus arredores ganhou mais peso no debate político. Um plano incluía uma estação em Velten, mas os vereadores da cidade aprovaram uma resolução para bloquear essa expansão.
A proposta foi apresentada pela iniciativa Pro Velten, que possui a maior bancada na Câmara Municipal, com sete vereadores. Além de barrar a ampliação do S-Bahn, a resolução proibia também a construção de grandes prédios ou projetos habitacionais na cidade, sob a alegação de suposta falta de infraestrutura para receber novos moradores. Segundo o grupo, as medidas são necessárias para impedir "a alienação crescente" e conservar o caráter da cidade.
Durante o debate sobre a proposta, um vereador da AfD chegou a defender a medida afirmando que "40% dos novos moradores da cidade teriam raízes migratórias".
As justificativas, que têm um certo teor xenófobo, não assustaram dois vereadores conservadores do partido de Angela Merkel, que foram fundamentais na aprovação da medida apoiada pela AfD e, pior ainda, pelo neonazista Partido Nacional Democrático (NPD). Sem os votos da CDU, a proposta não alcançaria a maioria necessária.
A aprovação da resolução gerou críticas. O vice-prefeito de Velten teme que a cidade perca recursos e investimentos com esse desejo de isolamento. Alguns deputados da CDU em Berlim disseram estar chocados com o fato de correligionários estarem votando ao lado da AfD e NPD, e defenderam a abstenção nesse tipo de situação.
Em resposta, o presidente da Câmara Municipal de Velten, do Pro Velten, disse que os críticos mostram que "não têm conhecimento da democracia". Já o secretário-geral da CDU de Brandemburgo, Gordon Hoffmann, defendeu a ação dos vereadores de seu partido, mas disse que, independente da votação, o partido rejeita um apoio à AfD.
Hoffmann alegou ainda que os conservadores não podem se abster em "projetos propostos por partidos democráticos" só porque a proposta recebe o apoio dos populistas de direita.
O episódio em Velten não chamou tanta atenção na Alemanha quanto o da Turíngia, mas mostra que, em níveis locais, a aproximação de conservadores com populistas de direita e até mesmo neonazistas já é uma triste realidade em algumas regiões. Revela ainda a xenofobia gritante em alguns pequenos municípios, geralmente onde há poucos ou quase nenhum estrangeiro.
--
Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy. Siga-a no Twitter @clarissaneher
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, diversos memoriais foram inaugurados na Alemanha para homenagear as vítimas do conflito e os perseguidos e mortos pelo regime nazista.
Foto: picture-alliance/dpa
Campo de concentração de Dachau
Um dos primeiros campos de concentração criados durante o regime nazista foi o de Dachau. Poucas semanas depois de Hitler chegar ao poder, os primeiros prisioneiros já foram levados para o local, que serviu como modelo para os futuros campos do Reich. Apesar de não ter sido concebido como campo de extermínio, em nenhum outro lugar foram assassinados tantos dissidentes políticos.
Foto: picture-alliance/dpa
Reichsparteitagsgelände
A antiga área de desfiles do Partido Nacional-Socialista em Nurembergue, denominada "Reichsparteitagsgelände", foi de 1933 até o início da Segunda Guerra palco de passeatas e outros eventos de propaganda do regime nazista, reunindo até 200 mil participantes. Lá está atualmente instalado um centro de documentação.
Foto: picture-alliance/Daniel Karmann
Casa da Conferência de Wannsee
A Vila Marlier, localizada às margens do lago Wannsee, em Berlim, foi um dos centros de planejamento do Holocausto. Lá reuniram-se, em 20 de janeiro de 1942, 15 membros do governo do "Terceiro Reich" e da organização paramilitar SS (Schutzstaffel) para discutir detalhes do genocídio dos judeus. Em 1992, o Memorial da Conferência de Wannsee foi inaugurado na vila.
Foto: picture-alliance/dpa
Campo de Bergen-Belsen
De início, a instalação na Baixa Saxônia servia como campo de prisioneiros de guerra. Nos últimos anos do conflito, eram geralmente enviados para Bergen-Belsen os doentes de outros campos. A maioria ou foi assassinada ou morreu em decorrência das enfermidades. Uma das 50 mil vitimas foi a jovem judia Anne Frank, que ficou mundialmente conhecida com a publicação póstuma do seu diário.
Foto: picture alliance/Klaus Nowottnick
Memorial da Resistência Alemã
No complexo de edifícios Bendlerblock, em Berlim, planejou-se um atentado fracassado contra Adolf Hitler. O grupo de resistência, formado por oficiais sob comando do coronel Claus von Stauffenberg, falhou na tentativa de assassinar o ditador em 20 de julho de 1944. Parte dos conspiradores foi fuzilada no mesmo dia, no próprio Bendlerblock. Hoje, o local abriga o Memorial da Resistência Alemã.
Foto: picture-alliance/dpa
Ruínas da Igreja de São Nicolau
Como parte da Operação Gomorra, aviões americanos e britânicos realizaram uma série de bombardeios contra a estrategicamente importante Hamburgo. A Igreja de São Nicolau, no centro da cidade portuária, servia aos pilotos como ponto de orientação e foi fortemente danificada nos ataques. Depois de 1945 não foi reconstruída, e suas ruínas foram dedicadas às vítimas da guerra aérea na Europa.
Foto: picture-alliance/dpa
Sanatório Hadamar
A partir de 1941, portadores de doenças psiquiátricas e deficiências eram levados para o sanatório de Hadamar, em Hessen. Considerados "indignos de viver" pelos nazistas, quase 15 mil – de um total de 70 mil em todo o país – foram mortos ali com injeções de veneno ou com gás. O atual memorial engloba a antiga instituição da morte e o cemitério contíguo, onde estão enterradas algumas das vítimas.
Foto: picture-alliance/dpa
Monumento de Seelow
A Batalha de Seelow deu início à ofensiva do Exército Vermelho contra Berlim, em abril de 1945. No maior combate em solo alemão, cerca de 100 mil soldados das Wehrmacht enfrentaram o Exército soviético, dez vezes maior. Após a derrota alemã, em 19 de abril o caminho para Berlim estava aberto. Já em 27 de novembro de 1945 era inaugurado o monumento nas colinas de Seelow, em Brandemburgo.
Foto: picture-alliance/dpa
Memorial do Holocausto
O Memorial ao Holocausto em Berlim foi inaugurado em 2005, em memória aos 6 milhões de judeus assassinados pelos nazistas na Europa. Não muito distante do Bundestag (parlamento), 2.711 estelas de cimento de tamanhos diferentes formam um labirinto por onde os visitantes podem caminhar livremente. Uma exposição subterrânea complementa o complexo do Memorial.
Foto: picture-alliance/dpa
Monumento aos Homossexuais Perseguidos
De formas inspiradas no Memorial do Holocausto e próximo a ele, o monumento aos homossexuais perseguidos pelo nazismo foi inaugurado em 27 de maio de 2008, no parque berlinense Tiergarten. Uma abertura envidraçada permite ao visitante vislumbrar o interior do monumento, onde um vídeo infinito mostra casais de homens e de mulheres que se beijam.
Foto: picture alliance/Markus C. Hurek
Monumento aos Sintos e Roma Assassinados
O mais recente memorial central foi inaugurado em Berlim em 2012. Em frente ao Reichstag, um jardim lembra o assassinato de 500 mil ciganos durante o regime nazista. No centro de uma fonte de pedra negra, está uma estela triangular: ela evoca a forma do distintivo que os prisioneiros ciganos dos campos de concentração traziam em seus uniformes.
Foto: picture-alliance/dpa
'Pedras de Tropeçar'
Na década de 1990, o artista alemão Gunter Demnig começou um projeto de revisão do Holocausto: diante das antigas residências das vítimas, ele aplica placas de metal onde estão gravados seus nomes e as circunstâncias das mortes. Há mais de 45 mil dessas "Stolpersteine" (pedras de tropeçar) na Alemanha e em 17 outros países europeus, formando o maior memorial descentralizado às vítimas do nazismo.