A crescente importância dos houthis no "Eixo da Resistência"
Cathrin Schaer
9 de outubro de 2024
Com o Hamas e o Hezbollah duramente enfraquecidos, o grupo rebelde do Iêmen ganha proeminência dentro da aliança informal de milícias apoiadas pelo Irã.
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Num discurso esta semana, o líder do grupo rebelde Houthi, do Iêmen, anunciou com orgulho o balanço das ações de seu grupo em 2023: os houthis, que controlam grande parte do norte do Iêmen, atacaram 193 navios que passavam pelo país e lançaram mais de mil mísseis e drones contra seus inimigos, incluindo Israel, anunciou Abdul-Malik al-Houthi. Tudo isso em apoio ao grupo palestino Hamas, na Faixa de Gaza, e ao Hezbollah, no Líbano, acrescentou.
O grupo Houthi, que já chegou a ser descrito como "uma corja miliciana de sandálias" ou "lavradores com armas", também lançou mísseis balísticos contra Israel e recentemente derrubou um drone americano.
E nada parece detê-los – nem a força-tarefa marítima internacional para proteger a navegação no Mar Vermelho nem os seguidos bombardeios aéreos nas áreas por eles controladas.
"Os houthis são hoje mais fortes, tecnicamente melhores e membros mais proeminentes do Eixo da Resistência do que eram no início da guerra", escreve Mike Knights, membro sênior do Washington Institute for Near East Policy, numa análise feita este mês.
O chamado Eixo da Resistência é composto por grupos apoiados pelo Irã e contrários a Israel e aos EUA, como o Hamas, o Hezbollah e milícias iraquianas, e também por países como o próprio Irã e a Síria.
"Os houthis resistiram a um ano de guerra sem sofrer grandes reveses e apresentaram o melhor desempenho militar de todos os participantes do Eixo", afirma Knights.
Como resultado, os houthis estão se tornando membros mais destacados do Eixo. O líder Abdul-Malik al-Houthi está até mesmo sendo apontado como possível substituto do ex-chefe do Hezbollah Hassan Nasrallah, que foi morto por Israel no mês passado, e vem atuando como uma espécie de chefe simbólico do Eixo da Resistência.
"Na ausência de Nasrallah, Abdul-Malik al-Houthi agiu rapidamente para preencher o vazio", confirma o analista de segurança Mohammed Albasha, que é baseado nos EUA e é especializado em Oriente Médio e Iêmen. "Os houthis assumiram os holofotes."
Poderão incomodar ainda mais
E os houthis deverão passar a incomodar ainda mais, dizem os especialistas, que apontam para uma série de fatores.
Em primeiro lugar, a distância deles de Israel pode ser vista como uma vantagem: ao contrário de grupos como o Hezbollah e o Hamas, os houthis estão a mais de 2 mil quilômetros de distância de Israel. "Além disso, o Hezbollah está sob o escrutínio de Israel há quatro décadas, enquanto o conhecimento sobre os houthis permanece limitado, na comparação", diz Albasha.
Em segundo lugar: os houthis estão combatendo há décadas, primeiro como parte de uma insurgência contra a ditadura do Iêmen a partir de 2004, depois, a partir de 2014, numa guerra civil após o fim dessa ditadura e, desde 2015, contra uma coalizão internacional liderada pela Arábia Saudita que apoia seus oponentes na guerra civil.
"Ao longo de décadas de conflito, os houthis descentralizaram todos os aspectos de suas operações, desde o fornecimento de combustível e alimentos até a fabricação de armas", explica Albasha.
As bases deles estão escondidas nas montanhas do Iêmen e em túneis subterrâneos, tornando os ataques aéreos menos eficazes, e seu "forte histórico em operações terrestres" serve como dissuasão para forças estrangeiras que cogitarem uma invasão terrestre, diz ele.
Os houthis também têm estabelecido contatos em outros lugares. Eles têm presença no Iraque e reivindicaram ataques a Israel em cooperação com milícias do Iraque apoiadas pelo Irã.
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Mísseis mais modernos do Irã
Os houthis provavelmente também estão recebendo melhores armas do Irã. "Antes de 7 de outubro de 2023, o Irã fornecia aos houthis versões mais antigas de seus mísseis e drones", diz Albasha. "Agora os houthis estão lançando variantes modificadas do iraniano Kheibar Shekan [míssil balístico de médio alcance]. É apenas uma questão de tempo até que os mísseis hipersônicos Fattah [do Irã] apareçam no Iêmen – se é que já não apareceram."
Knights argumenta que o Iêmen seria um local ideal para esses mísseis devido à sua localização e à possibilidade de esconder essas armas nas montanhas.
Por estarem próximos da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos, os houthis também teriam condições de atacar esses vizinhos e interromper ainda mais o comércio e os negócios globais.
Na semana passada, ao anunciar ataques com mísseis a Israel, os houthis disseram que "os interesses americanos e britânicos na região" também estavam sob o alcance de seu fogo.
Se Israel optar por atacar as instalações de petróleo do Irã em retaliação ao recente ataque com mísseis de Teerã, os houthis podem muito bem responder atacando as instalações dos aliados dos EUA. Eles já dispararam foguetes contra instalações de produção de petróleo da Arábia Saudita e dos Emirados.
"Isso é algo para ficar preocupado, com certeza", diz o analista Mick Mulroy, membro sênior do think tank Middle East Institute, com sede em Washington, e ex-subsecretário adjunto de Defesa dos EUA. "Os houthis poderiam atacar a infraestrutura dos países vizinhos, e o Irã poderia minar o Estreito de Ormuz. Os iranianos certamente têm a capacidade de fazer isso, o que, em essência, interromperia o transporte de energia para fora da região, causando choques econômicos. E aí, claro, os houthis poderiam continuar atacando os navios no Mar Vermelho", afirmou.
Atitude de desdém e ousadia
Outro motivo pelo qual os houthis podem ganhar importância é a atitude de ousadia e desdém do grupo.
"Após duas décadas de vitórias, os houthis se tornaram mais ousados", explica Albasha. "Muitos de seus combatentes estão em guerra desde a juventude e têm pouco a perder. Essa mentalidade de "e por que não?" lhes dá uma vantagem estratégica, e eles podem querer ultrapassar limites que outros hesitariam em cruzar", sugeriu.
"Para o Irã, os houthis podem ser considerados tanto um fardo quanto uma forma de influência", diz o especialista em Iêmen Ibrahim Jalal, do Carnegie Middle East Center. "Eles são uma vantagem por causa de sua imprevisibilidade, mas um fardo no sentido de que optam continuamente pelo acirramento. O presidente iraniano chegou a fazer comentários nesse sentido, de que esses caras são loucos."
Jalal relata que, num determinado momento, logo depois que os EUA ameaçaram uma resposta militar à campanha dos houthis contra o transporte marítimo, os rebeldes houthis começaram a gritar "não nos importamos, que venha uma grande guerra mundial" em manifestações.
"E eles realmente não se importam, é um pouco insano", diz Jalal. "E isso reflete o nível de desprezo deles pela população civil do Iêmen, que passou por tremendas dificuldades humanitárias e econômicas nas últimas duas décadas. Agora, eles estão provocando ainda mais problemas, como os ataques aéreos israelenses contra a infraestrutura civil, o que significa que a população sofre ainda mais."
O mês de outubro em imagens
O mês de outubro em imagens
Foto: Tomer Neuberg/Xinhua/dpa/picture alliance
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Foto: David W Cerny/REUTERS
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Foto: AP/picture alliance
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Foto: Alexander Zemlianichenko/AP/picture alliance
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Foto: Bernd Wüstneck/dpa/picture alliance
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Foto: IMAGO/CTK Photo
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Foto: Ariel Schalit/picture alliance/AP
Biden faz última visita à Alemanha em seu governo
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Yahya Sinwar foi mentor dos ataques de 7 de outubro. Ele assumiu a liderança do grupo extremista em julho, ao suceder Ismail Haniyeh, morto no Irã em ataque atribuído a Israel. Netanyahu diz que "guerra não acabou", mas líderes mundiais veem marco no conflito e pedem liberação de reféns. (17/10)
Foto: Yousef Masoud/SOPA Images via ZUMA Press/alliance
Quando um desenho resulta em dois anos de prisão
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Foto: Maria Moskaleva
Coreia do Norte explode estradas que conectam a Seul
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Foto: Lee Sang-hoon/Matrix Images/picture alliance
Nobel de Economia premia estudo sobre prosperidade de nações
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Foto: Thaier Al-Sudani/REUTERS
China anuncia novo pacote de estímulo à economia
China anuncia novo pacote de estímulo à economia com base em um aumento considerável em sua emissão de dívida pública, no intuito de apoiar governos regionais, cidadãos de baixa renda, mercado imobiliário e bancos estatais.A segunda maior economia do mundo enfrenta grandes pressões deflacionárias devido a uma forte desaceleração no mercado imobiliário e à queda na confiança do consumidor. (12/10)
Foto: Alex Plavevski/EPA
Organização antinuclear japonesa ganha Prêmio Nobel da Paz
A organização japonesa Nihon Hidankyo, fundada nos anos 1950 por sobreviventes de bombas atômicas, recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 2024 por sua atuação contra as armas nucleares. Segundo o comitê do Nobel, a entidade foi escolhida "por seus esforços para alcançar um mundo livre de armas nucleares e por demonstrar, por meio de testemunhas, que essas armas nunca mais devem ser usadas". (11/10)
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Foto: Alastair Grant/AP/dpa/picture alliance
Preparativos para chegada da supertempestade
A Agência Federal de Gestão de Emergências (Fema, na sigla em inglês) advertiu que o furacão Milton será "catastrófico e mortal" e pediu que os moradores usem as últimas horas antes da chegada da tempestade para deixar a área e, para aqueles que não conseguirem, que "busquem refúgios seguros imediatamente". A expectativa é que o furacão se torne o "mais devastador em 100 anos". (09/10)
Foto: JOE RAEDLE/Getty Images/AFP
Moraes determina desbloqueio do X após rede social cumprir exigências
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes autorizou o desbloqueio da rede social X no Brasil, após o cumprimento de várias exigências relacionadas a um processo no qual a empresa era acusada de disseminação de desinformação e discurso de ódio. O X pagou multas de R$ 28 milhões determinadas pelo STF pelo descumprimento de ordens judiciais. (08/10)
Foto: Jorge Silva/REUTERS
Um ano dos ataques do Hamas em Israel
Data marca primeiro aniversário dos ataques terroristas do grupo radical Hamas em solo israelense, que resultaram em cerca de 1.200 mortes, além de mais de 250 reféns levados pelo grupo islâmico para a Faixa de Gaza. Reação de Israel gerou ampla destruição e grave crise humanitária no enclave palestino. (07/10)
Foto: Jim Urquhart/AP Photo/picture alliance
Brasil vai às urnas para eleições municipais
Eleitores de 5.569 municípios do Brasil foram às urnas para escolher os prefeitos e vereadores que os representarão pelos próximos quatro anos. Em todo o país, com exceção do Distrito Federal, 155.912.680 de eleitores estavam aptos a votar. (06/10)
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Trump faz novo comício em local onde sofreu atentado
Com segurança reforçada, o ex-presidente dos EUA e candidato republicano à Casa Branca Donald Trump voltou a Butler, no estado da Pensilvânia, para liderar novo comício no local onde sofreu uma tentativa de assassinato em julho. Trump discursou ao lado do emresário Elon Musk no mesmo palco onde, em 13 de julho foi atingido de raspão na orelha direita por um tiro de fuzil. (05/10)
Foto: Jasper Colt/USA TODAY Network/IMAGO
Elefantes ficam presos após enchente na Tailândia
As enchentes no norte da Tailândia inundaram a cidade de Chiang Mai e o Elephant Nature Park, que abriga cerca de 3 mil animais resgatados. Conservacionistas fizeram uma força-tarefa para resgatar os animais, mas um elefante morreu afogado e outros 30 ainda estão desaparecidos. Segundo as autoridades,o rio Ping Rive atingiu seu maior nível da história. (04/10)
Foto: Thapanee Eadsrichai/REUTERS
Morre Cid Moreira, ícone do telejornalismo brasileiro
O apresentador Cid Moreira morreu aos 97 anos. Ele se tornou o rosto mais marcante do Jornal Nacional, da Rede Globo, e da televisão brasileira. Cid apresentou o JN por mais de 25 anos, liderando aproximadamente 8 mil edições do telejornal. Dono de uma voz grave, a partir do início dos anos 1990 dedicou-se também a gravar salmos bíblicos (03/10)
Foto: Leandro Chemalle/TheNews2/IMAGO
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Foto: Richard Drew/AP Photo/picture alliance
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O Irã disparou cerca de 180 mísseis contra Israel, em retaliação ao acirramento da campanha do Estado judeu contra alvos apoiados pelo regime iraniano, como o grupo radical palestino Hamas e o libanês Hezbollah. Israel e EUA afirmaram ter abatido a maior parte dos disparos. Os estilhaços deixaram duas pessoas feridas, mas as promessas de represália sinalizam agravamento do conflito. (01/10)