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A crise da Ucrânia e os limites da diplomacia

Nicholas Connolly de Kiev
11 de fevereiro de 2022

Quase não se passa um dia sem uma visita de líderes ocidentais. O presidente francês e a ministra alemã do Exterior acabam de viajar para Kiev. De concreto, conseguiram apenas promessas de mais conversas.

Emmanuel Macron coçando a sobrancelha
Macron, assim como Baerbock, classificam como sucesso a mera continuação das conversasFoto: Efrem Lukatsky/AP/picture alliance

"Enquanto os líderes estrangeiros estiverem em Kiev para negociações, Putin não poderá lançar uma invasão", dirão ucranianos comuns, um sentimento muitas vezes expresso com o acompanhamento de um sorriso esperançoso.

Certamente a onda sem precedentes de atividade diplomática nas últimas semanas às vezes parece uma tentativa desesperada de, falando-se sobre tudo e qualquer coisa, ganhar tempo na crise em torno da concentração de tropas russas ao longo das fronteiras da Ucrânia – por mais estreitas que sejam as chances de progresso.

No espaço de apenas alguns dias, no começo de fevereiro a capital da Ucrânia recebeu líderes de Reino Unido, Turquia, Polônia e Holanda. Tamanha foi a avalanche de dignitários estrangeiros, que, segundo consta, a visita do primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, teria sido adiada em um dia para dar lugar ao premiê britânico, Boris Johnson.

Todos chegaram a Kiev prometendo armas para os militares do país e palavras fortes de advertência para Moscou. Se os presidentes ucranianos costumavam reclamar de pouca atenção a seu país e seu impasse com a Rússia; agora parece o cuidado está até demais.

Mas a posição dos dois países mais influentes da União Europeia, França e Alemanha, tem sido muito menos clara em relação a Moscou. Os líderes ucranianos temem que, no fim das contas, Paris e Berlim se mostrem menos dispostos a apoiá-los do que a fechar um acordo com Moscou, às custas da Ucrânia.

Atritos com a Alemanha

A ministra do Exterior da Alemanha, Annalena Baerbock, visitou a Ucrânia pela segunda vez no espaço de um mês, num cenário de crescentes tensões entre Berlim e Kiev, pela recusa alemã tanto de fornecer armas letais à Ucrânia, quanto de impor sanções preventivas ao gasoduto Nord Stream 2 da Rússia.

Pelo menos em público, Baerbock tinha pouco para oferecer a seus anfitriões ucranianos, em termos de novas iniciativas: nenhum roteiro para uma desescalada além do compromisso de levar a Rússia e a Ucrânia de volta à mesa de negociações.

Por que essas conversas agora teriam sucesso, após anos de impasse, ela não conseguiu explicar. Em vez disso, saudou a retomada das negociações técnicas como um sucesso, em si.

"Podem contar conosco"

Com poucos anúncios de políticas concretas, a parte pública de sua visita concentrou-se em destacar o compromisso da Alemanha com a Ucrânia e tentar recuperar a boa vontade perdida.

Em Kiev e em sua visita às linhas de frente na região de Donbass, Baerbock repetidamente afirmou que a Ucrânia pode contar com a Alemanha – embora não tenha dado os detalhes obviamente esperados por seu público ucraniano.

Em vez de esclarecer o que seria necessário para Berlim impor sanções contra o gasoduto Nord Stream 2, Baerbock mencionou sanções "sem precedentes" que a Alemanha imporia à Rússia, em caso de invasão e repetiu que seu país estaria disposto a pagar um "alto preço" em termos de seus próprios laços econômicos com a Rússia.

Essa última afirmação veio em resposta às críticas à política externa alemã nas últimas semanas, acusando o peso-pesado industrial de priorizar os interesses econômicos com a Rússia em detrimento da solidariedade com a Ucrânia.

As expectativas em Kiev eram particularmente altas, já que, nos últimos anos, o Partido Verde de Baerbock tem sido mais crítico em relação ao projeto do gasoduto Nord Stream 2 e também mais agressivo com a Rússia do que qualquer outra legenda parlamentar.

Em Kiev e nas linhas de frente em Donbass, ministra Baerbock disse que Ucrânia pode contar com Alemanha – sem dar detalhesFoto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance

O que faltava era o assunto mais ansiosamente esperado pelos observadores ucranianos: o pedido renovado de Kiev de um fornecimento de armas letais. A assunto ganhou peso emocional particular depois que a oferta de 5 mil capacetes feita pela Alemanha foi amplamente ridicularizada na Ucrânia.

Baerbock evitou a questão, não fazendo nenhuma tentativa de reafirmar a posição do governo alemão sobre o envio de armas a zonas de conflito. Em vez disso, visitou um hospital militar de Kiev que recebeu amplo financiamento alemão, num aceno à oferta da Alemanha de fornecer mais assistência médica aos militares da Ucrânia, no lugar de armas.

O mal-entendido de Macron

O presidente francês, Emmanuel Macron, chegou a Kiev no dia seguinte da sua visita a Moscou. Os líderes francês e russo levaram mensagens muito diferentes de sua maratona de reuniões bilaterais: Macron foi-se de Moscou aparentemente confiante de ter obtido uma promessa básica de Vladimir Putin de não enviar tropas adicionais às fronteiras da Ucrânia, não lançar uma intervenção militar e de retirar as forças russas de Belarus após o término dos exercícios militares naquele país.

Isso foi então desmentido publicamente por um porta-voz do Kremlin. Nenhum compromisso desse tipo foi assumido, e qualquer acordo futuro só seria feito com os Estados Unidos. A conclusão forçosa é que mesmo a França – o único país da União Europeia com armas nucleares – não está, nem de longe, à altura da Rússia.

Como Baerbock antes dele, o único avanço tangível que Macron conseguiu citar foi a disposição da Rússia de retornar às negociações sobre o conflito no Donbass no assim chamado "formato Normandia", sob mediação franco-alemã.

Ucrânia teme concessões dolorosas

Da perspectiva de Kiev, parece não existir uma solução para a crise que seja aceitável tanto para a Ucrânia quanto para a Rússia. Ou os russos serão convencidos a recuar pela ameaça de sanções maciças, com risco considerável para a credibilidade de Vladimir Putin, ou a Ucrânia será pressionada a cumprir as exigências de, Moscou, sob risco de uma enorme reação interna.

Por enquanto, nenhum dos lados parece disposto a um acordo. Mas muitos em Kiev estão convencidos de que, mais cedo ou mais tarde, os países ocidentais aumentarão a pressão sobre a Ucrânia.

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