Câmara dos Deputados e Senado mantêm perfil que destoa do eleitorado, com homens, brancos, casados e com ensino superior completo como maioria. Maior parte dos eleitos têm entre 55 e 59 anos de idade.
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Homem, branco, casado, de 50 e poucos anos e com ensino superior completo. Esse é o retrato do Congresso brasileiro eleito no último domingo (07/10), o que não altera o perfil dos congressistas que tomaram posse após as eleições de 2014.
Dados disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral, no entanto, revelam que essas características destoam da maioria do eleitorado brasileiro, composto por mais mulheres (52,5%), mais solteiros (59,6%) e do qual boa parte não completou o ensino fundamental (25,84%). Os pretos e pardos são maioria na população brasileira (54,9%) e, consequentemente, no eleitorado.
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Gênero
Das 513 vagas em disputa na Câmara dos Deputados, apenas 77 serão ocupadas por mulheres, o que representa 15% do total. No Senado, sete senadoras foram eleitas em 2018. Mesmo somadas às senadoras que permanecem na Casa até 2023 (as eleitas no último domingo ficam até 2027, pois o mandato do cargo é de oito anos), o número de mulheres não ultrapassará 12 – o que corresponde a 14,81%.
Se a senadora Fátima Bezerra (PT) eleger-se governadora no Rio Grande do Norte, onde concorre na eleição em segundo turno, o número de mulheres no Senado cairá para 11, o equivalente a 13,58% das cadeiras.
Cor da pele
A esmagadora maioria do Congresso será branca. São 40 senadores brancos eleitos (74,07%) e 385 deputados (75,05%). Pardos somam 11 no Senado (20,37%) e 104 (20,27%) na casa legislativa vizinha. Há três senadores que se declaram pretos (5,56%) e 21 deputados (4,09%).
Apenas um indígena compõe a 56ª legislatura da Câmara, que permanece na Casa até 2022. A advogada Joenia Wapichana (Rede-RR) será a primeira mulher indígena da história a assumir uma das vagas na Câmara. Ela também é considerada a primeira indígena a se formar em Direito no país, em 1997.
Entre os deputados federais, dois declararam serem amarelos. O novato em cargos eletivos, Kim Kataguiri (DEM-SP), e o estreante na Câmara, Luiz Nashimori (PR-PR), descendem de orientais.
Grau de escolaridade
Quase 80% do Congresso eleito frequentaram e concluíram um curso universitário. Na outra ponta da gangorra do grau de instrução está Emidinho Madeira (PSB-MG), único a declarar que apenas lê e escreve. A alfabetização é requisito constitucional para a eleição.
No registro do deputado reeleito Tiririca (PR-SP) consta que ele possui ensino fundamental incompleto. Na primeira eleição do deputado, em 2010, houve polêmica sobre a veracidade de seu pedido de candidatura. Na época, Tiririca afirmou saber ler e escrever, o que foi contestado em denúncia. Em 2013, entretanto, o Supremo Tribunal Federal concluiu que o deputado é alfabetizado e arquivou o caso.
Há outros quatro deputados sem diploma de ensino fundamental: Magda Mofatto (PR-GO), Vilson da Fetaemg (PSB-MG), Gelson Azevedo (PHS-RJ) e Dionilso Marcon (PT-RS). Entre os senadores, apenas um não terminou o ensino fundamental: Jorge Kajuru (PRP-GO).
Estado civil
Os casados serão maioria tanto na Câmara quanto no Senado. Entre os senadores eleitos, 43 declararam serem casados na hora do registro da candidatura (79,63%). Os divorciados somam nove (16,67%), e há apenas um senador separado (Rodrigo Pacheco, do DEM-MG) e outro solteiro (Mara Gabrilli do PSDB-SP). Apesar de constarem entre os deputados federais 355 casados (69,2%), o número de solteiros ainda é grande: 111 (21,64%). Os divorciados somam 42 (8,19%), dois são separados, e três, viúvos.
Faixa etária
A maioria dos recém-eleitos ocupantes do Congresso tem entre 55 e 59 anos de idade. Na Câmara, são 92 nesta faixa etária (17,93%) enquanto que no Senado, 12 (22,22%). A idade mínima para ser senador é 35 anos. Na Câmara, é preciso já ter completado 21 anos.
Quatro senadores estão na faixa dos 35 aos 39 anos. Os mais jovens também somam quatro na Câmara – mas, por ali, essa faixa vai dos 21 aos 24 anos. Luisa Canziani (PTB-PR), de 22 anos, é a mais jovem eleita para o cargo de deputado federal.
Se somados todos os idosos (pessoa maiores de 60 anos), esta seria a maior bancada do Congresso Nacional. Na Câmara, 104 dos 513 deputados têm mais de 60 anos (20,26%). Já no Senado, 20 dos 54 eleitos (37,03%) fazem parte da população idosa brasileira. A deputada mais velha é Luiza Erundina (PSOL-SP), que terá 84 anos no dia da posse. No Senado, o mais velho é Arolde de Oliveira (PSD-RJ), nascido antes do início da Segunda Guerra Mundial, em 1937, e que assumirá o cargo aos 81 anos.
Ocupação
A ocupação anterior dos eleitos chama a atenção. Entre os deputados, quatro indicaram "senador" como profissão, entre eles, Aécio Neves (PSDB-MG), Gleisi Hoffmann (PT-PR), José Medeiros (Podemos-MT) e Lídice da Mata (PSB-BA). Por outro lado, entre os senadores, 15 deputados. Enquanto apenas um vereador elegeu-se senador, na Câmara, eles somam 17.
O Congresso terá 20 servidores públicos, entre municipal, estadual e federal, que provavelmente se licenciarão para exercer o mandato de quatro anos, além de 17 professores, que lecionavam do Ensino Fundamental ao Superior.
Dezenove deputados federais são médicos. Há ainda 13 engenheiros, 39 advogados, 51 empresários e 14 administradores. A bancada policial (considerando policiais militares e civis além de bombeiros) tem nove integrantes. Três são membros das Forças Armadas, e dois, militares reformados. Para o Senado, foram eleitos três policiais e um ex-atleta profissional, Leila do Vôlei (PSB-DF).
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Treze candidatos se apresentaram para disputar o Planalto. O líder das pesquisas acabou fora da corrida, e vários nomes tentam contornar isolamento partidário. Veja os principais episódios da disputa.
Foto: Reuters/A. Machado
Bolsonaro é eleito presidente
Em segundo turno, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como presidente. Após uma campanha eleitoral polarizada, o militar reformado de extrema direita recebeu 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). Com bandeiras do Brasil e vestidos nas cores verde e amarelo, eleitores comemoram pelo país. No discurso da vitória, Bolsonaro prometeu um governo constitucional e democrático.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S.Izquierdo
TSE abre investigação contra Bolsonaro
A pouco mais de uma semana do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação para investigar suspeitas de compra de disparos de mensagens antipetistas no WhatsApp por parte de empresários aliados a Bolsonaro. O pedido de investigação foi feito pelo PT, após uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo". A PF também abriu inquérito para investigar a disseminação em massa de "fake news".
Foto: Reuters/R. Moraes
Bolsonaro e Haddad vão ao segundo turno
Numa das eleições mais polarizadas da história, em 7 de outubro os brasileiros levaram ao segundo turno os dois candidatos que, segundo sondagens, são também os mais rejeitados: Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT). Favorito no Sul e Sudeste, o ex-militar teve 46% dos votos válidos contra 29% do petista, que foi o mais votado em oito estados do Nordeste e no Pará. Em terceiro, Ciro Gomes (PDT) teve 12%.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
Bolsonaro cresce nas pesquisas
Já líder nas pesquisas, o candidato do PSL ampliou sua vantagem no início de outubro, ultrapassando pela primeira vez a marca de 30% em sondagens do Ibope e do Datafolha. Ao longo da semana que antecedeu as eleições, o ex-capitão foi subindo e, na véspera do pleito, cruzou a barreira de 40% dos votos válidos. Após ser esfaqueado, a campanha do candidato se concentrou nas redes sociais.
Foto: Reuters/P. Whitaker
A troca de Lula por Haddad
Após meses de suspense e com aval de Lula, Fernando Haddad foi oficializado candidato à Presidência pelo PT em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de o ex-presidente concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, Lula era líder nas pesquisas de intenção de voto. O desafio agora será transferir votos para o ex-prefeito.
Foto: Agencia Brasil/R. Rosa
Ataque a Bolsonaro
O candidato do PSL foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, um ataque que prometia mudar os rumos da corrida presidencial. Seus adversários condenaram a agressão, e alguns chegaram a mudar o tom da campanha. Não houve, contudo, um impacto decisivo sobre o eleitorado. Ele segue líder das intenções, mas com percentual praticamente igual. A rejeição a ele, por outro lado, aumentou.
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia O Globo/A. Scorza
O "plano B" do PT
Com Lula virtualmente inelegível, a escolha do seu vice passou a ser encarada como um trampolim para um candidato substituto. No início de agosto, o PT acabou indicando Fernando Haddad, que desde o início do ano era cotado como "plano B". Manuela D'Ávila (PCdoB) ficou com a curiosa posição não oficial de "vice do vice", assumindo a posição com Lula candidato ou não.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
A novela dos vices
A fase de convenções começou no fim de julho sem que a maioria dos pré-candidatos tivesse um vice. Bolsonaro teve três convites recusados até fechar com o general Mourão (PRTB). Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se contentaram com nomes do próprio partido. Alckmin teve convite recusado pelo empresário Josué Alencar, cuja família é ligada a Lula, antes de optar por Ana Amélia (PR).
Foto: Agência Brasil/F.Frazão
Os candidatos isolados
A jogada de Alckmin com o "centrão" acabou isolando outros candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) tentou negociar com o PR, mas teve que se contentar com o nanico PRTB. Ciro Gomes (PDT) também viu suas investidas no grupo naufragarem. Marina Silva (Rede) e Ciro também não conseguiram apoio do PSB, que ficou neutro numa manobra do PT. Os três terminaram a fase de convenções com pouco apoio e tempo de TV.
Alckmin fecha com o "centrão"
Em julho, o tucano Geraldo Alckmin ainda patinava nas pesquisas, mas criou um fato novo na campanha ao conseguir o apoio do "centrão", as siglas que costumam emprestar seu apoio a governos em troca de cargos e verbas. Ao se aliar com PR, PP, PSD, DEM e SD, Alckmin passou a dominar 44% da propaganda eleitoral na TV. Sua coligação também recebe 48% do novo fundo de campanhas.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Candidaturas descartadas
A eleição de 2018 parecia destinada a superar o número de candidatos de 1989, quando 22 disputaram. Em abril, 23 manifestavam interesse em concorrer, entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente Fernando Collor. Mas eles logo desistiram ou foram abandonados por seus partidos. Outros aceitaram ser vices. Em agosto, só 13 permaneciam na corrida.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os "outsiders" saem de cena
A possibilidade de Lula ficar de fora e o sentimento antipolítico entre a população sinalizavam que esta seria a eleição dos "outsiders". O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa e o apresentador Luciano Huck chegaram a ser incluídos em pesquisas. O empresário Flávio Rocha anunciou candidatura. Em julho, todos já haviam desistido, e a disputa ficou restrita a velhos nomes da política.
Foto: Imago/ZUMA Press/M. Chello
Lula é condenado e preso
Quando anunciou, em 2016, a intenção de disputar a eleição, Lula se tornou o líder nas pesquisas. Em janeiro, porém, sua situação se complicou após uma condenação em segunda instância que o deixou virtualmente inelegível. Em abril, foi preso. Com a possibilidade de a candidatura ser barrada, o PT passou a ter dificuldades em formar alianças, e o desfecho do pleito ficou ainda mais imprevisível.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Entra em cena o fundo de campanhas
Diante da proibição das doações por empresas, o Congresso criou em outubro de 2017 um novo fundo de R$ 1,7 bilhão para financiar candidaturas, já definindo a capacidade financeira de várias campanhas. Quase 60% do valor ficou concentrado em seis legendas: MDB, PT, PSDB, PP, PSB e PR, deixando candidatos à Presidência de pequenas e médias siglas com menos recursos na largada.