A desempregada Ellen Görner, de Dresden
13 de agosto de 2010Apenas não desistir, apenas não se dar por vencida: essa parece ser a filosofia de vida de Ellen Görner, de 54 anos. A vida é apertada no pequeno apartamento de dois quartos no sexto andar de um edifício na periferia de Dresden, mas não é bagunçada.
A mesa é posta para o café da manhã, pois é isso que mantém unida a Patchworkfamilie, como se chamam na Alemanha as famílias que fogem ao esquema clássico pai-mãe-filhos.
Dos cinco filhos de Ellen, três ainda vivem com a mãe: dois filhos adolescentes e Ulrike, de 25 anos. Ulrike também já é mãe: o filho dela, Mauro, entrou para a escola em 2009. Assim, três gerações vivem apertadas no pequeno apartamento de 70 metros quadrados.
Os dois filhos homens e adolescentes estão em cursos profissionalizantes e a filha quer ser enfermeira. Cada um segue o seu cotidiano. A monotonia é o maior inimigo de Ellen. Não ter trabalho pode ser cansativo: passar o aspirador, lavar roupa, ver televisão, ler e-mails. Ellen já tentou encontrar um emprego pela internet, mas nunca recebeu uma proposta decente.
Crianças não substituem o trabalho
Os sinos da igreja vizinha avisam que é meio-dia: é hora de buscar o neto na escola. Ellen fuma rapidamente um cigarro e logo está no pátio da escola. De repente, uma laranja é arremessada sobre a poça d'água ao lado dela, e em seguida mais outra. Os respingos mancham de barro o casaco de Ellen, e de uma janela no segundo andar da escola soam risos. Ellen fica indignada: "No meu tempo isso seria impensável!".
Mas logo Mauro aparece, e ele fica feliz ao ver que a avó foi buscá-lo.
Também o segundo neto, o pequeno Linus, gosta da companhia da avó. Talvez ela devesse abrir um jardim-de-infância? Ellen sorri, mas diz que não: depois de cinco crianças, ela não teria mais nervos para isso.
Entre a Alemanha e Cuba
Ellen nasceu e cresceu em Zwickau, na Saxônia, para onde os pais dela se mudaram depois da Segunda Guerra Mundial. Eles eram alemães sudetos, ou seja, pertenciam à minoria alemã que habitava a região dos Sudetos, na atual República Tcheca, antes da Segunda Guerra Mundial.
Depois de 1945, os alemães sudetos foram expulsos da região – e assim os pais de Ellen foram parar em Zwickau. Na escola ela ia bem, e foi até mesmo a segunda melhor aluna da turma. Na verdade, ela poderia ter continuado os estudos.
Mas, para isso, ela teria de deixar Zwickau, o que ela não queria. Assim, Ellen foi trabalhar numa fábrica de papel e depois numa panificadora.
Ela gosta de relembrar os tempos da Alemanha Oriental. "Todos nós tínhamos trabalho e os salários eram bons. Não tínhamos todos os dias bananas para comer, e as laranjas vinham de Cuba. As laranjas de lá são diferentes, elas servem apenas para fazer suco. Mas não passávamos necessidade".
Não apenas as laranjas vinham de Cuba, mas também os trabalhadores. Ellen conheceu um deles e se apaixonou – e, pouco antes da queda do Muro de Berlim, foi com ele para Cuba.
Quando ela voltou para a Alemanha, em 1996, enfrentou um verdadeiro choque de culturas. Zwickau, que nos tempos da Alemanha Oriental era uma cidade industrial, estava abandonada. Todas as fábricas – incluindo a panificadora onde Ellen trabalhara – estavam fechadas.
Ellen não se entregou: ela fez um curso de requalificação profissional e aprendeu a trabalhar com computadores. Encontrou os mais variados empregos: primeiro num lar para surdos e depois em Lanzarote, nas Ilhas Canárias.
Ellen aprendeu a falar espanhol e o governo alemão pagou para ela uma passagem até as Ilhas Canárias. Ela trabalhou como cozinheira, como recepcionista de um hotel de luxo e numa empresa de segurança.
Mas aí veio a crise econômica mundial, e com ela o desemprego. Hoje Ellen vive em Dresden e procura trabalho com a ajuda da internet.
Jamais perder a esperança
Para o almoço há purê de batata e iscas de peixe. A metade do dia já passou: "Graças a Deus", murmura Ellen. Ela vai conferir a caixa postal, mas mais uma vez não há nada. Ellen fez entrevistas em diversas agências de empregos e também numa empresa de vigilância. Em Dresden há tantos museus, argumenta, e ela gostaria de trabalhar como vigilante num deles.
Há alguns dias Ellen viu um anúncio de emprego num jornal, para uma recepcionista num hotel na região do Tirol. Ela se candidatou e foi logo questionada sobre a sua idade. "Bem, não sou mais tão jovem, já tenho 54", ela respondeu no seu sotaque da Saxônia. "Ficaremos em contato", foi a resposta. Mas nada mais aconteceu.
Mas Ellen não desiste: "Não há nada mais depreciativo do que dizer que eu vivo de ajuda social. Eu faria de tudo para sair disso", diz, com lágrimas nos olhos.
Autora: Anastassia Boutsko (as)
Revisão: Bettina Riffel