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A economia dos EUA vai bem como diz Trump?

Arthur Sullivan rk
20 de junho de 2018

Desemprego caiu, confiança de empresários e consumidores está em alta, previsões de crescimento são otimistas. Presidente americano fala como se fosse pai de um milagre, mas paira uma nuvem negra - criada por ele mesmo.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aponta para o céu em Washington
Presidente dos EUA, Donald Trump, divulgou tuíte entusiasmado sobre o bom desempenho da economiaFoto: picture-alliance/abaca/CNP/S. Ron

"Nossa economia talvez esteja MELHOR do que nunca. Empresas estão com ótimo desempenho e voltando para os Estados Unidos, e os números do emprego são os melhores em 44 anos."

O tuite de Donald Trump no último domingo (17/06) fez uso das típicas hipérboles do presidente americano – afinal, há poucos dados para embasar a afirmação de que a economia dos Estados Unidos apresenta a sua melhor forma em 242 anos.

Mesmo assim, Trump tem alguma razão: a economia americana está bem. Apesar dos muitos conflitos comerciais cozinhando entre o país e vários de seus maiores parceiros, do Canadá à UE e à China, os EUA parecem estar com a saúde robusta em uma série de indicadores.

Os apoiadores do presidente americano parecem enxergar que há dados consideráveis para justificar a perspectiva de que a economia está indo bem melhor do que durante o governo de Barack Obama ou de outros de seus antecessores.

Entre as estatísticas que sustentam isso estão as relacionadas à percepção econômica, à confiança dos consumidores e às previsões de crescimento.

De acordo com dados da Federação Nacional das Empresas Independentes (NFIB, na sigla em inglês), em 2018, o otimismo entre os donos de pequenas empresas é o maior pelo menos desde 1973, quando teve início a série histórica para medir essa percepção. Uma parcela crescente dos empresários diz que agora é uma boa hora para expandir os negócios.

A história é semelhante entre as organizações maiores, que vão desde empresas de médio porte a gigantes corporativos listados no índice S&P 500 da Bolsa de Valores de Nova York. O amplo pacote de reformas tributárias, aprovado em dezembro do ano passado, animou empresas americanas.

As promessas liberais de desregulamentação do mercado – e ações crescentes nesse sentido – que acompanharam a sanção das reformas de impostos, assim como o acerto do intercâmbio comercial com a China e outros países, também entusiasmou líderes corporativos e os uniu em apoio à causa de Trump.

Os investimentos também tiveram veloz aumento, proporcional ao dos ganhos de empresas americanas listadas na bolsa no primeiro trimestre deste ano. Esse fator consolidou um sentimento crescente de otimismo no consumo interno, refletido em dados que mostram um aumento de 6% nos gastos no varejo e no setor hoteleiro entre maio de 2017 e maio de 2018.

Com a alta tanto da confiança das empresas quanto dos consumidores, alguns economistas começaram a aumentar seus prognósticos de crescimento para os Estados Unidos. O banco de investimentos americano JP Morgan agora prevê uma taxa de 4% para o segundo trimestre, enquanto a seção de Atlanta do Fed (o banco central americano) estima um crescimento de quase 5%. Uma alta como essa representaria um aumento considerável nas expectativas anteriores e, se concretizada, refletiria um dinamismo que não se via no país há 20 anos.

Indicadores de peso também ostentam boa saúde. Orbitando em torno de 3,8%, a taxa de desemprego está em seu nível mais baixo em 18 anos, e o país está na iminência do pleno emprego. Tudo isso vem levando a um otimismo contínuo por Trump e seus apoiadores em relação à eficácia de sua política econômica – daí o tuite de domingo.

Críticos das medidas econômicas de Trump já chegaram a argumentar que várias das tendências que ele aponta como conquistas suas já estavam se articulando há vários anos por fazerem parte de uma recuperação econômica gradual que se seguiu aos piores anos da crise financeira global. Porém, cada vez mais, são as políticas em prol das empresas e a retórica de Trump que parecem estar impulsionando a perspectiva econômica favorável no país.

Michael Burda, professor especialista em economia dos Estados Unidos na Universidade Humboldt, em Berlim, diz que "toda a constelação de dados positivos" constitui "notícias extremamente boas".

"Da última vez que olhei para algumas das estimativas, vimos previsões de 4,5% para o segundo trimestre desse ano. O que é fenomenal se acontecer", diz Burda. "Mas isso não é o que as pessoas que não gostam do presidente atual querem, porque esse tipo de coisa geralmente é um bom indicador do que vai acontecer nas eleições."

Ainda assim, vale lembrar que, apesar dos dados econômicos inegavelmente positivos – e para alguns dos quais é justo dar crédito a Trump –, ainda é cedo para avaliar o impacto das políticas econômicas do presidente americano. Os cortes nos impostos foram implementados há pouco menos de seis meses. Ao mesmo tempo, a possibilidade de as atuais tensões comerciais escalarem para uma guerra comercial continua forte.

Enquanto muitas vozes do setor corporativo ainda têm esperanças de consequências positivas oriundas da atitude de Trump em relação ao comércio com países como China, Canadá e União Europeia, Burda acredita que a possibilidade de sérias retaliações desses países apresenta uma ameaça ao bem-estar econômico americano.

Em março deste ano, um amplo estudo sobre os maiores riscos à economia global pela agência Economist Intelligence Unit (EIU) descobriu que a possibilidade de uma guerra comercial global está no topo da lista. Burda acredita que este é o tema que poderia levar Trump a tropeçar e fazer com que as sombrias previsões sobre seu governo se tornem realidade.

Em abril, mais de mil economistas – incluindo 14 vencedores do Prêmio Nobel – escreveram uma carta a Trump, alertando que seu "protecionismo econômico" poderia repetir os erros que os Estados Unidos fizeram nos anos 1930. Uma carta similar escrita por centenas de economistas foi enviada ao então candidato republicano durante a campanha presidencial de 2016.

Ao mesmo tempo em que diz que os atuais dados econômicos positivos dos EUA são inegáveis, o professor da Universidade Humboldt também pondera que é muito cedo para dizer que aqueles que duvidaram das medidas econômicas de Trump estão errados.

"Se você olhar para trás, para os livros de História, verá que, quando foi aprovada a Lei de Tarifas Smoot-Hawley, em 1930, alguns dos economistas mais famosos dos EUA naquela época assinaram uma longa petição exortando o Congresso a não aprová-la. A lei foi motivada por várias besteiras populistas", afirma Burda.

"O presidente Hoover assinou a lei relutante, mas os economistas estavam preocupados e, no fim, ficou provado que eles estavam certos. Essa lei de tarifas causou retaliações, os europeus e os canadenses revidaram em 1930 e 1931 e acabamos tendo uma guerra comercial que acompanhou a Grande Depressão", recorda o especialista.

Os números atuais fazem uma Grande Depressão parecer longínqua. Mas a comparação histórica é óbvia: "Parece que a História poderia estar se repetindo", estima Burda. "É cedo para dizer que esse pessoal estava errado."

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