Estão marcadas para o dia 22 de outubro eleições para renovar metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado argentino. Chance ou derrota para Macri?
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Às vésperas das eleições legislativas na Argentina, tudo indica que os candidatos do atual governo vão triunfar com uma relativa folga em todo o país. E isso também na província de Buenos Aires, onde a ex-presidente Cristina Kirchner é candidata ao Senado.
Uma vez com a maioria parlamentar assegurada, Macri poderia realizar mais reformas econômicas, aprofundando as mudanças que a Argentina tem experimentado desde o início de seu governo, no final de 2015: liberalização, desregulamentação, ajuste de preços, abertura para o exterior, realismo cambial e um ajuste gradual das contas públicas. A isso, foi acrescentada uma política de luta contra a corrupção, defesa do Estado de Direito e do pluralismo que caracterizam sua política econômica.
A estratégia tem dado resultados. Após uma retração econômica de 2,2% em 2016, concentrada nos primeiros meses do ano e atribuída a problemas da gestão anterior, a economia começou a se recuperar.
"Existem setores que estão crescendo a um ritmo bom, principalmente construção e agricultura. O ano eleitoral significou também um forte aumento nas obras públicas. O consumo de asfalto e cimento está no auge", diz Amílcar Collante, economista-chefe da consultoria econômica argentina CESUR.
Indicadores
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina (INDEC), de meados de 2016 a meados de 2017, o PIB cresceu 2,7%, a atividade industrial 5,1%, e a construção, 13%. A taxa de pobreza caiu de 32% para 28,6%.
"Algo que movimenta a economia é o grande impulso do crédito, especialmente o pessoal, acima de tudo hipotecário, que ultimamente teve um crescimento de mais de 70% ano-a-ano. Em 2018, espera-se que, se o Brasil crescer a um bom ritmo, também haja uma retomada do setor automotivo", acrescenta o especialista.
Mas ainda existem problemas. O déficit fiscal permanece considerável: 5% do PIB em 2017, segundo o serviço de consultoria Moody's. E o déficit comercial provavelmente alcançará cerca de US $ 4,5 bilhões neste ano. A projeção de exportações para 2017 é de 59 bilhões (+ 2,2%), enquanto as importações chegariam a 63,5 bilhões de dólares (+ 14%).
O aumento das importações, consequência da liberalização do mercado cambial, reflete um aumento no consumo de bens importados, até 2015 reprimido, mas também na importação de bens de capital e maquinário, que sustentam o crescimento econômico.
Outro fator que o governo ainda não conseguiu dominar completamente é a inflação: para este ano, calcula-se que ela fique em 22%, bem acima dos 17% previstos pelo governo, embora muito inferior aos 40% registrados em 2014. E a tendência é que siga em baixa: até 2018, o FMI prevê um aumento de preços de 18%.
Presidente fortalecido
O governo está confiante de que os bons índices econômicos palpáveis no dia a dia, o aumento do emprego e dos salários reais serão traduzidos em votos nas eleições de 22 de outubro. As pesquisas, até agora, dão asas ao otimismo oficial.
"De acordo com as pesquisas, a Cambiemos (coalizão oficial) alcançaria um resultado eleitoral muito positivo em 22 de outubro. A definição mais importante será a da Província de Buenos Aires, onde a Cambiemos tentará superar o kirchnerismo. De acordo com as pesquisas, venceria por dois ou três pontos, o que daria maior governança para os dois anos de gestão que resta a Mauricio Macri", disse o especialista.
"Isso permitiria a implementação das reformas estruturais necessárias. A mais importante é a reforma tributária. E a província de Buenos Aires anunciou que reduziria o imposto de renda bruto. Certamente também se trabalha em uma reforma para reduzir os custos trabalhistas. Também um possível corte de impostos seria fundamental", conclui Collante.
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O fim da era Cristina Kirchner
Após 12 anos de kirchnerismo, a Argentina elege um novo presidente. Relembre a trajetória de Cristina Fernández de Kirchner, que deixa tanto problemas econômicos quanto avanços sociais como herança de seu governo.
Foto: Getty Images/AFP/F. Monteforte
Cristina Fernández, "relato" e dramaturgia
Em oito anos de governo, Cristina se destacou por seu estilo e a tendência ao drama – foi acusada, inclusive, de criar um "relato" próprio da realidade da Argentina. Neste ano, ela deixa a Casa Rosada, e a era Kirchner chega ao fim. Com uma maioria kirchnerista no Congresso, porém, Cristina promete seguir influenciando a vida política do país.
Foto: Getty Images/A.Pagni
A sucessora de Néstor Kirchner
Cristina começou sua carreira política em 1989, como deputada pela província de Santa Cruz. Conheceu Néstor Kirchner durante a militância peronista, em 1974, e os dois se casaram no ano seguinte. Ele foi presidente da Argentina de 2003 a 2007, ano em que a mulher ganhou as eleições para sucedê-lo. A morte de Néstor, em 27 de outubro de 2010, foi um duro golpe para Cristina e seus dois filhos.
Foto: D. Garcia/AFP/Getty Images
Laços estreitos com o Mercosul
Na foto, Cristina e o presidente da Bolívia, Evo Morales, vestem trajes típicos bolivianos durante uma cerimônia na Casa Rosada, sede da presidência em Buenos Aires. Ela sempre defendeu laços estreitos com os países vizinhos. Em 2013, anunciou que aceleraria "a reconstituição do Mercosul" e, no mesmo ano, disse que a espionagem dos EUA sobre o Brasil afetava a "dignidade" de toda a América do Sul.
Foto: Reuters/M. Brindicci
A reeleição
Em 2011, Cristina foi reeleita presidente da Argentina com 54,11% dos votos. Na foto, ela posa entre os dois filhos, Máximo e Florencia, em frente ao Congresso Nacional, em Buenos Aires, após tomar posse. Atualmente candidato a deputado, Máximo está sendo investigado sob suspeita de manter contas secretas nos Estados Unidos e Irã. Ele nega as acusações.
Foto: picture-alliance/dpa/C. de Luca
Um vice em apuros
Amado Boudou, então ministro da Economia, foi nomeado vice-presidente no segundo mandato de Cristina. A escolha foi mais tarde criticada, principalmente pelas polêmicas acusações que emergiram contra ele. O escândalo político conhecido como Ciccone, por exemplo, ligou Boudou à compra de uma falida empresa monopolista a fim de operar com o Estado na impressão de notas e documentos fiscais.
Foto: picture-alliance/dpa/S.Goya
A luta contra o "Clarín"
O debate sobre a concentração da mídia segue aberto na Argentina. Cristina Kirchner travou uma longa batalha contra o grupo argentino "Clarín", acusando-o de monopólio midiático. Ao mesmo tempo, foi criticada por estimular a criação de um grupo de "veículos viciados no governo", segundo apontou, em entrevista à DW, a jornalista Laura di Marco, autora de uma biografia não autorizada da presidente.
Foto: picture alliance/dpa Fotografia
Direitos humanos
Cristina deu continuidade às políticas de direitos humanos de Néstor: aprovou leis acerca do casamento gay e da transexualidade e apoiou a busca por crianças desaparecidas durante a ditadura militar argentina (1976-1983). Na foto, ela conversa com Estela de Carlotto, presidente da organização Abuelas de Plaza de Mayo. Seu neto, Guido, recuperou a verdadeira identidade ao ser encontrado em 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
Discurso em rede nacional
A presidente está acostumada a falar em rede nacional – algo aplaudido por seus seguidores e criticado pela oposição. Ao se dirigir ao público, Cristina mantém um estilo sempre muito pessoal e, para muitos, carismático. "O kirchnerismo trouxe independência à Argentina", disse ela em um de seus discursos, em julho de 2015.
Foto: picture-alliance/dpa/L. La Valle
Falta de transparência
Em junho de 2015, Cristina enviou ao Congresso um projeto de lei para que alguns programas sociais sejam ajustados de tempos em tempos. Entre eles está o Benefício Universal por Filho (AUH, na sigla em espanhol), equivalente ao Bolsa Família. Esses avanços na área social, porém, acabam sendo ofuscados pela falta de transparência com os índices de pobreza, a alta inflação e o déficit fiscal.
Foto: Reuters/E. Marcarian
Argentina versus "fundos abutres"
A batalha contra os chamados "fundos abutres" segue no país. Em setembro de 2015, a ONU aprovou uma resolução, recomendada pela Argentina, que propõe a criação de um marco legal para a reestruturação da dívida soberana. O ministro da Economia, Axel Kicillof (dir.), comemorou a decisão como "um passo fundamental".
Foto: Leo La Valle/AFP/Getty Images
Cristina, papa e "Estado Islâmico"
Em setembro de 2014, o papa Francisco recebeu Cristina, sua compatriota, no Vaticano. Após um encontro privado com o pontífice, a presidente revelou ter sofrido ameaças do grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) por conta de sua posição diplomática diante dos conflitos no Oriente Médio – ela é favorável à existência de dois Estados: o da Palestina e o de Israel.
Foto: picture-alliance/dpa
Incentivo à cultura
Em nível nacional, o governo Cristina Kirchner deu um impulso importante à realização de eventos culturais e artísticos, mas com um estilo claramente personalista. Na foto, a presidente argentina participa da inauguração do Centro Cultural Kirchner, em Buenos Aires, em maio de 2015. Na ocasião, ela classificou o local como o "mais importante centro cultural da América Latina".
Foto: Reuters/Argentine Presidency
Duas cirurgias
Em seu segundo mandato como presidente da Argentina, Cristina foi submetida a dois procedimentos cirúrgicos sérios: um para remover um tumor na tireoide, em janeiro de 2012, e outro para drenar um hematoma cerebral, em outubro de 2013. Ela teve boa recuperação em ambos os casos, mas precisou ficar afastada do trabalho por um curto período de tempo.
Foto: picture-alliance/dpa
Negócios com a Rússia
Cristina se reuniu com o presidente russo, Vladimir Putin, em abril de 2015, e do encontro pode ter saído muito mais que os acordos energéticos e econômicos firmados. Em ano eleitoral na Argentina, o gesto chegou a ser interpretado como um esforço da presidente para afastar o país de seu tradicional alinhamento com os Estados Unidos e a União Europeia e estimular uma aproximação com os Brics.
Foto: Reuters/A. Nemenov
Caso Nisman choca o país
A morte do promotor Alberto Nisman abalou a sociedade argentina e continua sem esclarecimento perante a Justiça. Ele foi encontrado morto em casa em 18 de janeiro de 2015, dias antes de divulgar um relatório polêmico contra a presidente. Nisman acusaria Cristina de ajudar a acobertar o pior ataque terrorista da história do país: o atentado a bomba à Associação Mutual Israelita Argentina, em 1994.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Pisarenko
Sucessor da era Kirchner?
Daniel Scioli, da coligação Frente para a Vitória, é o candidato à presidência argentina capaz de dar continuidade ao programa político do kirchnerismo. Segundo especialistas, o governo deixa como herança para o próximo presidente graves problemas econômicos e estruturais, mas também avanços sociais e um aumento no nível de consumo da população.
Foto: Reuters/A.Marcarian
Adeus à figura que polariza
Com seu estilo autoritário e maternal, Cristina Kirchner polarizou a sociedade argentina. Esteve cercada de acusações de corrupção, e a insegurança jurídica cresceu durante seu governo. Por outro lado, deu impulso à cultura e aos direitos civis. Ao dizer adeus, Cristina deixa um legado complexo à próxima administração, e é improvável que se afaste totalmente da agenda política do país.