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A encruzilhada do PSDB em 2018

Malu Delgado de São Paulo
19 de março de 2018

Lava Jato minou boa parte do capital político do partido, que tenta voltar ao poder após 16 anos e quatro eleições. Nome escolhido para a disputa é Alckmin, que desperta receio entre os próprios tucanos.

Caciques tucanos na convenção, em dezembro passado, que elegeu Alckmin líder da legenda
Caciques tucanos na convenção, em dezembro passado, que elegeu Alckmin líder da legendaFoto: Getty Images/AFP/E. Sa

Na tentativa de voltar ao poder há 16 anos e há quatro eleições presidenciais desde 2002, sempre numa disputa antagônica com o PT, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, chega à disputa eleitoral deste ano com tantos percalços quanto os enfrentados por seus opositores do campo da esquerda. A Operação Lava Jato dilapidou boa parte do capital político da legenda, assim como da maioria dos partidos políticos brasileiros.

Se em 2014 o senador Aécio Neves (PSDB-MG) conquistou o voto de quase 51 milhões de brasileiros, no melhor resultado obtido pelos tucanos desde a primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2002, agora em 2018 o mineiro talvez nem ouse se candidatar para o Senado, por temer a derrota, e estuda uma candidatura a deputado federal por Minas Gerais.

O nome do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foi o escolhido para o pleito de outubro sem que nenhum outro postulante do partido se apresentasse para a disputa nas prévias partidárias. Porém, a tímida colocação do tucano nas pesquisas de intenção de voto até o momento provoca receio interno, pois isso ocorre apesar de o governador ser um rosto bastante conhecido entre o eleitorado e de ter baixa rejeição (26%).

Alckmin disputou a Presidência em 2006 e é conhecido por 85% da população, de acordo com sondagens feitas pelo instituto Datafolha. Em estimativas do mesmo instituto, de janeiro deste ano, Alckmin atinge 11% das intenções de voto em seu melhor desempenho, isso sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa.

O governador deixará o cargo em abril, e a expectativa dos correligionários é que a partir de então ele consiga se projetar nacionalmente, viajando pelo país. A justificativa formal do PSDB para Alckmin empolgar tão pouco o eleitor brasileiro é o fato de o governador, ciente das regras eleitorais, não fazer campanha antecipada até a data da desincompatibilização, a exigência legal para que deixe o comando de São Paulo para disputar o cargo de presidente.

Alckmin é um rosto conhecido entre o eleitorado e tem baixa rejeição (26%).Foto: Getty Images/AFP/E. Sa

Para o tesoureiro nacional do PSDB, o deputado federal Sílvio Torres, um dos principais aliados de Alckmin, o cenário da eleição deste ano é totalmente peculiar. Além da Lava Jato, pondera ele, o Brasil viveu um impeachment presidencial em 2016 e o atual governo de Michel Temer (PMDB) é um dos mais impopulares desde a redemocratização.

Torres enfatiza que, segundo as últimas pesquisas eleitorais, mais de 60% dos brasileiros manifestaram o interesse de anular o voto ou se recusam a escolher um candidato no momento. "Há um claro afastamento do eleitor da vontade de votar, com tudo isso. Olhando as pesquisas agora, é clara a impressão de que o quadro atual não será o quadro real de setembro. O PSDB sofre os efeitos de tudo isso, como todos os partidos”, admite Torres.

"Alckmin é uma candidatura consolidada no PSDB, que adquiriu a unanimidade no partido. Ele não fez, até agora, nenhuma ação de caráter eleitoral. O governador é um legalista, respeitador das leis. Ele não está autorizado a fazer isso, até que deixe o governo de São Paulo, em 7 de abril”, afirmou o líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC).

Para os tucanos, o estilo sereno e conciliador de Alckmin vai assegurar a participação do partido no segundo turno da eleição presidencial. Em entrevista à Folha de S.Paulo publicada nesta segunda-feira, Alckmin incorpora a ideia de um candidato de centro, fugindo de radicalismos e polarizações com o PT.

"O povo está meio cansado dessa brigalhada política”, declarou o pré-candidato à Presidência. O governador, porém, não passa incólume à Lava Jato. O nome de Alckmin aparece numa delação premiada de um ex-executivo da empreiteira Odebrecht, que diz ter repassado R$ 2 milhões para campanha do tucano em 2010, por caixa dois, numa negociação com o cunhado dele, o ex-banqueiro Adhemar Ribeiro. Alckmin é alvo de um pedido de inquérito no Superior Tribunal de Justiça (STJ). O governador considera a delação e a acusação uma "aleivosia”.

Obstáculos

Além da estagnação de Alckmin nas pesquisas e de possíveis complicações da Lava Jato, o PSDB vai enfrentar outras situações adversas, diferentes dos pleitos anteriores. Até o momento, o DEM, aliado tradicional do partido, que fez parte dos governos Fernando Henrique – o antigo PFL –, lançou uma candidatura própria, a do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (RJ). Os tucanos preferem acreditar que, mais adiante, o DEM vai recuar e deve se unir à chapa do PSDB. Os políticos do DEM, por ora, rechaçam a ideia. O presidente nacional da sigla, o prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto, afirma que o PSDB não é um partido inimigo, mas que não há hipótese de se discutir uma aliança neste momento.

Outra encrenca é uma possível candidatura do MDB, o antigo PMDB, que mudou recentemente o nome. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, era apontado como uma possibilidade de candidatura. Meirelles hoje está no PSD, mas sua migração para o MDB é incerta. A questão crucial, para os tucanos, é que candidaturas de centro-direita podem fragmentar o eleitorado tradicional do PSDB. O senador Álvaro Dias, do Podemos, será candidato a presidente. Ex-tucano, do Paraná, Dias tem boa popularidade em seu estado. A região Sul do Brasil é tradicionalmente um reduto de votos aos tucanos, o que poderá ser abalado neste pleito. "Em 2006, Alckmin fez 65% dos votos em Santa Catarina. Fará de novo”, afirmou o senador Bauer, do estado.

A esperança do PSDB é que ainda seja possível, dentro de três meses, atrair o DEM e o MDB para o entorno de Alckmin. "Acho que haverá uma decantação natural”, afirmou Sílvio Torres. Mesmo sem o DEM, o PSDB diz que já está formada uma aliança eleitoral forte que lhe garantirá um quarto do tempo de televisão para propaganda. "É um patamar seguro”, enfatiza o tesoureiro.

"Não tenho dúvida de que o Geraldo vai atrair o DEM”, afirmou José Aníbal, ex-presidente do Instituto Teotônio Vilela, uma espécie de "think-tank” do PSDB.

Já qualquer aproximação formal com o MDB de Michel Temer é uma incógnita, em especial porque Geraldo Alckmin foi um dos políticos do PSDB que se manifestaram contra a participação do partido no atual governo.

O efeito Minas Gerais

Preocupação dos tucanos em Minas é com o imenso desgaste político de Aécio NevesFoto: picture-alliance/AP Photo/E. Peres

Em 2014, no segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), os tucanos chegaram a considerar a vitória, sobretudo porque acreditavam que o mineiro conseguiria uma vitória por ampla margem sobre a petista em Minas Gerais. A previsão não se confirmou, e a ex-presidente bateu o senador no estado que ele já havia governado. Entre as análises sobre as causas da derrota de 2014, está a votação em Minas, um estado com mais de 15 milhões de eleitores aptos a votar.

O desespero dos tucanos, neste ano, é com o imenso desgaste político de Aécio Neves no estado. Aécio é citado na Lava Jato, quase perdeu o mandato de senador. Foi flagrado num grampo feito pelo empresário Joesley Batista, da JBS, em que aparece pedindo a ele R$ 2 milhões. Como defesa, o PSDB e o senador dizem que ele nunca pediu e tampouco usou dinheiro público. Não se tratava de propina, rechaçam, mas de um pedido pessoal a quem Aécio considerava ser um amigo. O dinheiro seria usado para pagamento de advogados com a defesa de Aécio.

O problema é que, na gravação, além do pedido de dinheiro o senador mineiro fala com desdém das instituições, demonstrando possibilidade de ingerência política na Polícia Federal e no Judiciário, e uma grande articulação política no Congresso para aprovar projetos que dessem anistia aos políticos acusados de caixa dois, pagamentos irregulares e ilegais em campanhas eleitorais.

"Aécio foi um bom governador de Minas, fez um trabalho de transformação impressionante no estado e é reconhecido por todos, mas ele teve o pior momento de sua vida política, foi vítima de uma arapuca, de um diálogo treinado, um diálogo muito infeliz”, diz o deputado federal Marcus Pestana, secretário nacional do PSDB e aliado de Aécio.

Pestana admite que o episódio teve um custo político alto para o partido e o ex-governador, mas assegura que Aécio é inocente e que está se articulando para a disputa eleitoral. O ex-candidato à Presidência tem participado de reuniões políticas semanais no Estado para definir seu futuro político.

"Aécio pode ser candidato a senador, a deputado, ou a nada. Mas vai ajudar o PSDB nacionalmente e em Minas”, enfatizou Pestana. Cabo eleitoral de Alckmin certamente Aécio Neves não será, e os tucanos sabem perfeitamente disso. Tanto que o partido tentou convencer, desesperadamente, o senador Antonio Anastasia, também ex-governador, a disputar mais uma vez o governo de Minas e oferecer a Alckmin um palanque consistente no estado. Anastasia só deu o sinal verde ao PSDB no último fim de semana, mas disputará a contragosto a eleição.

O efeito São Paulo

No estado em que poderia ter uma situação confortável Alckmin terá outro desafio: conciliar um palanque duplo, apoiando o provável candidato do PSDB ao governo, João Dória, e do PSB, Márcio França. O PSB sempre foi aliado de Alckmin em São Paulo. Agora, o partido insiste na candidatura própria, pois França, o vice-governador, vai assumir o estado a partir de abril, quando Alckmin se desincompatibiliza para disputar a Presidência.

Dória chegou a assinar uma carta afirmando que não deixaria a prefeitura para disputar outros cargosFoto: picture alliance/AP Photo/N. Antoine

Dória também deixará a prefeitura de São Paulo em abril para a disputa estadual, contrariando uma promessa eleitoral que fez em 2016, quando disputou a eleição. Ele chegou a assinar uma carta afirmando que não deixaria a prefeitura para disputar outros cargos futuramente, antes do encerramento de seu mandato.

Assim como ocorreu na disputa para a prefeitura, em 2016, o PSDB paulista promoveu prévias para escolher o candidato ao governo. Dória foi o vencedor, após a divulgação do resultado no domingo, dia 18 de março, com a preferencia de mais de 80% dos votantes (dirigentes e militantes). As prévias, porém, voltam a deixar sequelas no partido. Outros três candidatos disputaram com Dória. Um deles foi José Aníbal, que insiste em críticas a Dória e levanta suspeitas sobre a lisura do processo eleitoral das prévias.

 "Geraldo terá dois palanques em São Paulo, do PSDB e do PSB. O vice-governador Márcio França com certeza vai apoiar o Geraldo. O PSDB está bem. Toda unanimidade é burra”, disse o presidente do partido em São Paulo, Pedro Tobias, minimizando os problemas e divergências internas. "Não é o Geraldo que vai apoiar dois candidatos ao governo de São Paulo. São dois candidatos ao governo de São Paulo, do PSDB e do PSB, que vão apoiar o Geraldo Alckmin para a presidência”, afirmou o deputado federal Ricardo Tripoli, líder do PSDB na Câmara dos Deputados.

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