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A estratégia incompleta de Obama no Iraque

Spencer Kimball (av)11 de junho de 2015

Após nove meses, 2 mil bombardeios aéreos e envio de 3 mil instrutores militares, guerra americana ao "Estado Islâmico" ainda não foi autorizada pelo Congresso. Lentamente, porém, apoio da população vem crescendo.

Jatos de combate sobrevoam Síria na luta contra EIFoto: picture-alliance/DOD/US Air Force

As bombas americanas sobre o Iraque e a Síria praticamente não são mais manchete. Em apenas quatro dias, os Estados Unidos e seus aliados lançaram pelo menos 70 ofensivas aéreas contra alvos da milícia jihadista do "Estado Islâmico" (EI). Em linhas gerais, a opinião pública e o Congresso americano já aceitaram uma terceira guerra do Iraque.

Segundo o think tank independente Pew Research Center, 63% dos americanos apoiam a campanha militar contra o EI, enquanto 47% seriam a favor até de enviar unidades de infantaria de volta ao Oriente Médio. Isso representa um acréscimo de oito pontos percentuais em relação a 2014.

Embora o presidente Barack Obama tenha descartado a mobilização de tropas de combate para a região, ele tem enviado para lá um número crescente de orientadores militares. Na última quarta-feira (10/06), a Casa Branca anunciou que planeja mandar mais 450 homens para treinarem as Forças Armadas iraquianas, elevando a 3.500 o número de orientadores americanos no país.

Os treinadores ficarão estacionados na base de Taqaddum, na província de Anbar, nas cercanias da cidade de Habbaniyah. Ela se situa a apenas 33 quilômetros de Ramadi e de Falluja, ambas sob o controle do EI. Devido a sua posição entre esses dois bastiões, Habbaniyah tem sido repetidamente assediada pelos terroristas islâmicos.

Autorização anacrônica

Embora venha destacando os orientadores para cada vez mais perto da frente de batalha, Obama não obteve autorização formal para uma guerra contra o "Estado Islâmico". Contudo, seu governo alega dispor de toda a autoridade de que necessita, com base numa resolução de 2001.

Sob o impacto do 11 de Setembro, o Congresso autorizou o presidente George W. Bush a empregar força militar contra os responsáveis pelos atentados terroristas em Washington e Nova York – a Al Qaeda e seus aliados talibãs. A milícia do EI nem mesmo existia na época.

Obama vem descartando a mobilização de tropas de combate para o IraqueFoto: S. Gallup/Getty Images

"O precedente que fica assim estabelecido é de uma guerra ininterrupta, de combates com base numa interpretação amplificada, ditada pelo Poder Executivo, de uma autoridade legal existente", analisa Jennifer Daskal, especialista da American University em direito de segurança nacional dos EUA. "Isso decerto representa um precedente potencialmente preocupante, se for usado por um governo futuro."

Ao alocar verbas para as operações, o Congresso aprovou implicitamente uma nova guerra no Iraque, prossegue Daskal. No entanto o órgão não aprovou nenhuma resolução autorizando explicitamente uma campanha militar que inclua milhares de ataques aéreos e de orientadores.

"O Congresso tem a responsabilidade de se adiantar, e debater, discutir e autorizar o conflito em que estamos envolvidos hoje, em 2015, não o conflito em que estávamos em 2001."

Em fevereiro, a Casa Branca de fato chegou a esboçar uma nova autorização especificamente voltada para o conflito atual, mas o Congresso não ficou satisfeito. Os simpatizantes de uma intervenção militar – apelidados "gaviões" – rejeitaram a proposta por restringir a mobilização de tropas de solo; enquanto os parlamentares contrários – as "pombas" – criticaram o fato de ela não anular a autorização de 2001. A conclusão de Daskal é que "a administração tem grande parte da culpa".

Consequências de erros do passado

Ao governo dos EUA também falta uma estratégia abrangente para vencer a guerra, como Obama praticamente admitiu durante a recente cúpula do G7 na Alemanha, onde se encontrou com o primeiro-ministro do Iraque, Haider al-Abadi.

"Ainda não temos uma estratégia completa, pois isso requer o comprometimento dos iraquianos sobre a forma de recrutamento e o treinamento [dos combatentes locais]. Esses detalhes ainda não estão esclarecidos", disse o chefe de Estado americano.

No entanto, de acordo com Wayne White, ex-analista-chefe para o Iraque no Departamento de Estado, o problema central continua sendo político. A administração Obama apoiou a derrubada do premiê Nouri al-Maliki por ele ser um xiita sectário, que incitava as tensões com os sunitas, gerando solo fértil para o fundamentalismo do "Estado Islâmico". No entanto, "até o momento Abadi nada fez além de pedidos vagos e vagas concessões genéricas, que não valem nada para gente que já foi prejudicada", observa White.

Os 450 novos orientadores têm a incumbência de treinar recrutas das tribos locais. Espera-se que isso reforce o perfil sunita numa guerra que até agora tem sido principalmente travada pelas milícias xiitas apoiadas pelo Irã. No entanto, "você nunca vai conseguir conquistá-los, a menos que seja com uma oferta em grande estilo", avalia o ex-analista americano. "Vai ser preciso estender a mão para os árabes sunitas de forma muito generosa e genuína, pois eles já foram enganados uma vez, na época de Maliki."

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