"A estupidez não vencerá", diz editor do "Charlie Hebdo"
8 de janeiro de 2015
Apesar de massacre, semanário satírico continua trabalhos. Edição da semana que vem terá menos páginas, mas um milhão de exemplares. Jornalistas estão temporariamente hospedados na sede do diário "Libération".
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No dia seguinte ao ataque à redação do Charlie Hebdo, que deixou 12 mortos, o periódico parisiense anunciou nesta quinta-feira (08/01) que a edição da semana que vem será publicada na próxima quarta-feira, como de costume.
Os membros da redação do Charlie Hebdo que sobreviveram se reuniram no dia seguinte ao ataque para discutir a próxima edição e o futuro do semanário. Entre os 12 mortos no atentado estavam cinco cartunistas.
"É muito difícil. Estamos todos sofrendo, com pesar, com medo, mas faremos isso de qualquer maneira, porque a estupidez não vencerá", disse Patrick Pelloux, um dos editores que sobreviveu ao massacre.
De acordo com Richard Malka, advogado do jornal, na semana que vem, um milhão de exemplares serão impressos em vez dos usuais 60 mil, devido à atenção internacional atraída pelo violento atentado.
O Charlie Hebdo, cujo forte são as caricaturas, terá uma edição especial dos "sobreviventes", com oito páginas em vez das 16 de costume, segundo Malka.
O jornal Libération hospedará os jornalistas do Charlie Hebdo em sua redação a partir desta sexta-feira, pois os escritórios do semanário foram interditados após o ataque. O jornal Le Monde e a emissora de televisão Canal+ também ofereceram assistência.
A redação do Charlie Hebdo – cujo nome é baseado no personagem de quadrinhos americano Charlie Brown e numa redução da palavra francesa "hebdomadaire", que significa publicação semanal – vinha sofrendo ameaças há anos.
A primeira vez foi em 2006, quando reproduziu dez caricaturas de Maomé que haviam sido publicadas no ano anterior pelo jornal dinamarquês Jyllands-Posten.
Apesar de o jornal estar sob vigilância policial, dois homens mascarados e armados conseguiram realizar o ataque e fugir na última quarta-feira. A polícia segue com a caça aos suspeitos, identificados como os irmãos parisienses Cherif e Said Kouachi.
O jornal satírico "Charlie Hebdo"
Semanário é conhecido por suas caricaturas e matérias sobre política, economia e sociedade. Humor mordaz se volta principalmente contra políticos e o papa, além do profeta Maomé.
Jornalismo com humor
A capa da atual edição é dedicada ao mais recente romance de Michel Houellebecq, "Soumission" (Submissão). O livro retrata a França no futuro como um país islamizado, sob o governo de um presidente muçulmano.
Foto: B. Guay/AFP/Getty Images
Controversa "biografia de Maomé"
Em janeiro de 2013, o semanário provocou polêmica internacional e despertou a ira da comunidade islâmica com o lançamento de uma edição especial que contava a história do profeta islâmico em quadrinhos de forma satírica.
Foto: Miguel Medina/AFP/Getty Images
Críticas ácidas
Em novembro de 2012, o jornal fez uma caricatura em relação aos debates na França sobre o casamento entre homossexuais. Com um desenho em alusão ao arcebispo de Paris, André Vingt-Trois, o jornal titulou "Arcebispo Vingt-Trois tem três pais".
Foto: Francois Guillot/AFP/Getty Images
Direito à liberdade de expressão
"Não se trata de provocação", disse Gérard Biard, editor do "Charlie Hebdo", em entrevista à DW em setembro de 2012, sobre os desenhos de Maomé publicados pelo semanário. Segundo ele, a publicação exerce o direito da liberdade de expressão ao publicar caricaturas do profeta, não sendo responsável por eventuais reações violentas.
Foto: imago/PanoramiC
Wolinski está entre os mortos
Entre os mortos estão o diretor de redação da publicação, Stephane Charbonnier, conhecido como Charb, e o cartunista Georges Wolinski (foto), considerado o maior nome do quadrinho francês. Ele, que nasceu na Tunísia, foi para a França com 13 anos. Na década de 1960, começou sua carreira ao fazer desenhos para o jornal satírico "Hara-Kiri".
Foto: picture-alliance/dpa
Cabu fundou o jornal "Hara-Kiri"
O cartunista Jean Cabut, conhecido como Cabu, foi outra vítima do atentado na redação do semanário. Ele era bastante popular na França e também trabalhou na televisão. Na década de 1960, ele também foi um dos fundadores do jornal satírico "Hara-Kiri".
Foto: picture-alliance/dpa
Duras críticas após charges de Maomé
O diretor do jornal, Stephane Charbonnier, mais conhecido como Charb, defendeu a liberdade de expressão após as publicações polêmicas com as charges de Maomé. Ele ficou famoso por causa da repercussão do semanário Charlie Hebdo.
Foto: picture-alliance/dpa/EPA/Y. Valat
Críticas às religiões e figuras internacionais
O semanário é conhecido por criticar religiões, o presidente da França e figuras políticas internacionais. Na capa, o jornal estampa uma caricatura de Bin Laden com o título "Bin Laden ameaça a França" e um personagem falando "Mais um policial disfarçado".
Crítica ácida às religiões
Em suas edições semanais, o jornal critica não só a religião islâmica, mas também católicos e judeus. Várias capas da publicação já publicaram caricaturas sobre o pedofilismo na Igreja Católica. Nesta capa, que ficou famosa, um judeu ortodoxo empurra um muçulmano numa cadeira de rodas, numa alusão ao filme "Os intocáveis".