1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

A evolução tática do Brasil nas Copas

Philip Verminnen7 de maio de 2014

Seleção inovou em 1958, com o embrião do 4-3-3, e em 1970, quando um time repleto de craques levou Zagallo a estabelecer uma constante troca de posições. Desde então, porém, se limitou a copiar e aperfeiçoar europeus.

Fußballfeld mit Kreide
Foto: Fotolia/mirpic

O Brasil é pentacampeão mundial e notoriamente um celeiro de craques. Desde que foi instituída a premiação de melhor jogador do mundo pela Fifa, em 1991, por oito vezes a condecoração foi para um brasileiro: Romário (1994), Ronaldo (1996, 1997 e 2002), Rivaldo (1999), Ronaldinho Gaúcho (2004 e 2005) e Kaká (2007). Não há um país com tantos premiados quanto o Brasil.

Por outro lado, o reconhecimento pelas elaborações e orientações táticas criadas por treinadores brasileiros beira o indiferentismo. Apenas Otto Glória, na década de 60, e o próprio Luiz Felipe Scolari – ambos semifinalistas de Copa do Mundo com a seleção de Portugal – conseguiram obter sucesso do outro lado do Atlântico.

Ser a maior potência na história do futebol não requer apenas talento, mas também organização e inovação. A tática é, provavelmente, o elemento mais importante do futebol. É de fato impossível formar uma equipe competitiva com jogadores sem posições definidas, sem cuidar da marcação e sem certos automatismos em campo.

Nas primeiras Copas, o Brasil utilizou o extremamente ofensivo esquema 2-3-5, conhecido como "Pirâmide" ou "Formação Clássica". Com apenas três jogadores no meio-campo, a seleção viu equipes com quatro ou cinco no meio, como a Itália e o Uruguai, serem campeões mundiais.

Felipão (dir.) perdeu para a Alemanha de Jürgen Klinsmann a disputa pelo 3º lugar na Copa de 2006Foto: picture-alliance/dpa

O período pós-Segunda Guerra Mundial é provavelmente o mais rico em inovações táticas no futebol. A Hungria dominava na Europa com um 4-2-4 flexível; o clássico esquema 3-2-5 criado por Herbert Chapman nos anos 20 e apelidado de "WM" voltou a ser utilizado pela Inglaterra em 1950; e o "Ferrolho Suíço" – um 4-4-1-1 defensivo – foi o pontapé inicial para o defensivo Catenaccio Italiano e o posterior surgimento do líbero.

Mas nesse período, a seleção brasileira, sob a batuta de Zezé Moreira, criou um comportamento defensivo que transformou o futebol de um jogo de ataque e defesa para um jogo de xadrez: a marcação por zona. Até aquele momento, todas as equipes defendiam "homem a homem", espelhando o jogador adversário. Zezé então colocou pela primeira vez em um Mundial um meio-campo com quatro jogadores em linha, a fim de ocupar os espaços. O Brasil acabou sucumbindo na "Batalha de Berna", quando perdeu por 4 a 2 para a Hungria.

Vicente Feola cria o 4-3-3

Quatro anos mais tarde, uma nova inovação tática brasileira finalmente trouxe o sonhado título mundial. No papel, a equipe de Vicente Feola imitava o 4-2-4 dos húngaros, mas na prática, nascia ali o até hoje moderno 4-3-3.

Mário Jorge Lobo Zagallo, o maior vencedor de Copas do Mundo (duas como jogador e duas na comissão técnica), confirmou, em entrevista ao blog Olho Tático, do jornalista André Rocha, a estrutura tática de 1958: "O 4-3-3 não nasceu em 1962. Já em 1958 eu fazia a dupla função. Com a bola era um ponteiro. Mas também podia ficar e cobrir o Nilton Santos. Sem a bola, eu era o homem que dava vantagem numérica: se a jogada do adversário fosse pelo nosso lado, eu ajudava o Nilton a marcar o ponta. Dois contra um. Se fosse do lado oposto, fechava e ficávamos Zito, Didi e eu. Três contra dois no meio-campo."

Vicente Feola (centro) segura a taça Jules Rimet ao lado do capitão Bellini e do goleiro Gylmar, em 1958Foto: AP

O mesmo Zagallo revolucionaria na Copa do tricampeonato mundial, em 1970. Já como treinador, o "Velho Lobo" assumiu a seleção poucos meses antes do torneio e teve o sério problema em ter cinco craques para o meio – todos mais ou menos na mesma faixa do campo. Clodoaldo um pouco mais recuado, Gérson de segundo volante, Rivellino caindo pela ponta-esquerda, Pelé atuando como ponta de lança (posição bastante usada no 4-2-3-1 do início deste século) e Jairzinho, que entrava na diagonal permitindo as subidas do capitão Carlos Alberto Torres.

O "carrossel brasileiro"

O "Carrossel Holandês", de 1974, teria sido revolucionário por não manter posições fixas em campo, mas a seleção brasileira de 70 já adotava esse estilo de jogo – por necessidade, já que Zagallo precisou ajeitar o time de tal maneira que todos pudessem jogar.

"Quando defendíamos, só o Tostão ficava na frente. Mas até ele voltava, se fosse preciso. Tudo aquilo só era possível porque tínhamos jogadores inteligentes. Nada foi só na sorte ou no talento. Treinávamos e pensávamos muito. O time de 1970 foi o maior de todos porque era muito tático. A tática é fundamental", explica Zagallo.

Mário Jorge Lobo Zagallo, o único a conquistar quatro vezes a CopaFoto: picture-alliance/dpa

Carlos Alberto Torres foi, na parte teórica, o primeiro ala do futebol mundial. Posicionado e escalado como lateral, compondo o sistema defensivo, mas aparecendo bastante ao ataque. A figura do ala só reapareceria na Copa de 1986, quando o técnico argentino Carlos Bilardo inovou com o 3-5-2.

Depois da Copa de 70, o Brasil formou grandes seleções – e outras nem tanto – mas nenhuma delas trouxe alguma inovação tática. O futebol brasileiro passou a copiar – e aperfeiçoar – alguns esquemas táticos no decorrer dos anos e só voltou a ser campeão 24 anos depois, nos Estados Unidos. Na ocasião, Carlos Alberto Parreira revitalizou o 4-4-2 clássico, que havia dado à Inglaterra o título mundial em 1966 e que, com leves mudanças, traria a primeira Copa do Mundo à Espanha em 2010.

Era Felipão e a Copa de 2014

Outro exemplo é justamente a volta dos três zagueiros de Bilardo na escalação do Brasil na Copa do Mundo de 2002. Felipão conquistou aquele Mundial com o mesmo esquema tático usado pela Argentina em 1986 e a Alemanha em 1990. A diferença foi que o 3-5-2 de Felipão se transformava em um 5-4-1 – esquema inventado pelos noruegueses e que seria o adotado pela Itália na Copa de 2006 – quando o adversário estava com a posse de bola.

Na Copa das Confederações de 2013, Felipão e Parreira adotaram o esquema mais usado na Copa do Mundo de 2010: o 4-2-3-1, que sem a posse de bola se torna um 4-5-1. A leitura do futebol moderno – no qual o Brasil aparenta estar sempre um passo atrás – determina que a chave do jogo está na ocupação dos espaços abertos na região central da intermediária ofensiva, ou seja: as posições fundamentais no esquema 4-2-3-1 são os dois meias abertos pelos lados.

A seleção de 70 inovou com a constante troca de posições e um time titular com cinco jogadores ofensivos comprometidos com a marcaçãoFoto: picture-alliance/dpa

No caso da seleção brasileira, Neymar e Hulk. O trabalho consiste muito mais em atrair o adversário para uma situação favorável, por exemplo com Paulinho avançando ou Oscar recuando e trazendo consigo um volante ou zagueiro adversário.

A Copa de 2014 será uma das mais interessantes em relação à tática do jogo. Equipes jogarão tanto no monótono 4-4-2, no ultrapassado 3-5-2, no atraente 4-4-3, no superdefensivo 4-5-1 e nas variações, como o próprio 4-2-3-1. Quem será a primeira seleção a experimentar o utópico 4-6-0? O Barcelona já tentou algo semelhante, com Cesc Fàbregas como falso centroavante, e não obteve muito sucesso.