A força de trabalho por trás da inteligência artificial
Lindsey Rae Gjording ca
26 de outubro de 2017
Apesar de causarem preocupação quanto a perda de empregos, avanços na IA requerem um exército de trabalhadores para treinar as máquinas. Colaboradores dedicam de 5 minutos a 40 horas semanais ao serviço.
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A inteligência artificial (IA) precisa ser ensinada. Para treinar um carro a conduzir sozinho e em segurança, por exemplo, ele deve aprender a reconhecer pedestres e sinais de trânsito. Por trás disso, estão centenas de milhares de trabalhadores.
Empresas enviam milhares ou mesmo milhões de fotos para suas plataformas customizadas, e funcionários avaliam e processam cada foto, criando uma plataforma de dados, que finalmente habilitarão o carro a dirigir.
As companhias que treinam inteligência artificial perceberam que esse tipo de dados poderia ser processado por qualquer pessoa com acesso constante à internet. Empresas como Clickworker, Neurala e Alegion Inc. utilizam colaboradores online para impulsionar a criação da IA.
Com mais de um milhão dos chamados clickworkers inscritos, neste momento, provavelmente, por volta de cem mil pessoas estão logadas, examinando informações e dando um toque humano ao treinamento robótico. Os colaboradores podem passar de 5 minutos a 40 horas por semana realizando tarefas simples em seus computadores ou smartphones, tornando a IA mais inteligente e eficiente.
As categorias que precisam de mais colaboradores incluem a definição de imagem para a condução autônoma, a transcrição da língua e fala, e a categorização de mídia. Para algumas tarefas, o pagamento pode ser inferior a um dólar, e para trabalhos mais complicados, como identificar raios-x, pode-se ganhar até mil dólares por foto.
Mercado de sistemas inteligentes já domina diversas áreas
04:24
Um estudo recente da consultoria PricewaterhouseCoopers estima que a IA possa contribuir com até 15,7 trilhões de dólares (50,8 trilhões de reais) para a economia global até 2030. Estima-se que 6 trilhões de dólares provenham do aumento da produção e da automação, e outros 9 trilhões de dólares, de "efeitos colaterais no consumo", como mudanças nós hábitos de compra como resultado de melhoras tecnológicas.
Investidores vêm apostando em startups baseadas em IA há anos, e a lista de grandes clientes continua crescendo, com companhias como Facebook, Amazon, Apple, Microsoft e Google buscando maneiras de simplificar os negócios por meio de novas tecnologias. Empresas como a Clickwork oferecem métodos de controle de qualidade e interfaces usadas para catalogar os dados.
Fator humano
Enquanto a demanda por clickworkers pode diminuir com o tempo, provavelmente não haverá um momento em que pessoas não estejam trabalhando em conjunto com a IA ou ao menos fazendo a sua manutenção.
Ainda há desentendimentos dentro da indústria sobre o quão robusta será a economia de empregos que apoiará a IA. Massimiliano Versace, CEO da Neurala, acredita que haverá uma diminuição do crowdsourcing, ou seja, o recrutamento de colaboradores.
"A necessidade de humanos para ensinar IA irá diminuir muito ao longo do tempo, já que as empresas descobrem maneiras de reduzir a carga de trabalho de taggers humanos [colaboradores], fazendo com que os dados sejam alimentados pela IA."
Já Vito Vishnepolsky, diretor de desenvolvimento de negócios da Clickworker, acha o contrário, afirmando que IA está tomando empregos de empresas de segurança e criando outros em firmas de software de alta tecnologia e inteligência artificial.
"Este mundo está em constante evolução e sempre serão necessários engenheiros para manter os sistemas atualizados e sempre será preciso recrutar trabalhadores para criar os conjuntos de dados para treinar os sistemas", diz ele.
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A evolução do trabalho ao longo da história
Até a Idade Média, o trabalho tinha má reputação. Então Martinho Lutero o pregou como dever divino. Hoje, robôs ameaçam substituir a mão de obra humana, mas esta pode ser uma oportunidade positiva para os humanos.
Ócio como ideal
Entre os pensadores da Grécia Antiga, trabalhar era malvisto. Aristóteles colocava o trabalho em oposição à liberdade ,e Homero via na ociosidade da antiga nobreza grega um objetivo desejável. O trabalho pesado era para mulheres, servos e escravos.
Foto: Imago/Leemage
Quem faz festa não trabalha
Na Idade Média, trabalhar na agricultura era uma tarefa árdua. Quem era obrigado a trabalhos forçados por seus patrões, não tinha escolha. Mas, quem a tinha, preferia fazer festa e não se preocupar com o amanhã. Pensar em algum tipo de lucro era considerado vício. Uma cota de até cem dias livres por ano servia para garantir que o trabalho não ficasse em primeiro plano.
Foto: Gemeinfrei
Trabalho como ordem divina
No século 16, Martinho Lutero declarou a ociosidade um pecado. O homem nasce para trabalhar, escreveu Lutero. Segundo ele, o trabalho é um "serviço divino" e ao mesmo tempo "vocação". No puritanismo anglo-americano, o trabalho é visto como um sinal de que quem o executa foi escolhido por Deus. Isso acelerou o desenvolvimento do capitalismo.
Foto: picture-alliance/akg-images
A serviço das máquinas
No século 18, começou a industrialização na Europa. Enquanto a população crescia, diminuía o espaço cultivável. As pessoas migraram para as cidades em busca de trabalho em fábricas e fundições. Em 1850, muitos ingleses trabalhavam 14 horas por dia, seis dias por semana. Os salários mal davam para sobreviver. Descobertas como a máquina a vapor e o tear mecânico triplicaram a produção.
Otimização da linha de montagem
No início do século 20, Henry Ford aperfeiçoou o trabalho na linha de montagem da indústria automobilística, estabelecendo padrões para a indústria em geral. Com isso, a produção do Ford modelo T foi facilitada em oito vezes, o que baixou o preço do veículo e possibilitou salários mais altos aos funcionários.
Surge uma nova classe
Com as fábricas surge uma nova classe: o proletariado. Para Karl Marx, que cunhou este termo, o trabalho é a essência do homem. O genro de Marx, o socialista Paul Lafargue, constatou em 1880: "Um estranho vício domina a classe trabalhadora em todos os países (...) é o amor ao trabalho, um vício frenético, que leva à exaustão dos indivíduos". O cartaz acima diz: "Proletários do mundo, uni-vos"
Produção barateada
Ao longo do século 20, aumentaram significativamente os custos sociais com os trabalhadores nas nações mais ricas do mundo. Como resultado, as empresas transferiram a produção para onde a mão de obra é mais barata. Em muitos países pobres prevalecem até hoje circunstâncias que lembram o início da industrialização na Europa: trabalho infantil, salários baixos e falta de segurança social.
Foto: picture-alliance/dpa/L.Jianbing
Novas áreas de trabalho
Enquanto isso, são criados na Europa mais empregos no setor de prestação de serviços. Cuidadores de idosos são procurados desesperadamente. Novos campos de trabalho estão se abrindo como resultado das transformações sociais e dos avanços tecnológicos. Com o passar do tempo, a jornada de trabalho foi reduzida e o volume de trabalho per capita diminuiu 30% entre 1960 e 2010.
Foto: DW/V.Kern
Trabalhar, nunca mais?
Eles não fazem greve, não exigem aumento salarial e são extremamente precisos: os robôs industriais estão revolucionando o mundo do trabalho. O economista americano Jeremy Rifkin fala até de uma "terceira revolução industrial" que irá acabar com trabalho assalariado.
Foto: picture-alliance/dpa/Stratenschulte
Robôs vão nos substituir?
Esta pergunta já é feita desde que a automação chegou às fábricas, mas agora a situação parece se acirrar. Com o avanço da digitalização, da Internet das Coisas e da Indústria 4.0, muitas ocupações estão se tornando obsoletas – e não só na indústria.