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A força dos estereótipos na imagem das nações

Marc von Lüpke-Schwarz (mas) 26 de maio de 2013

Clichês antigos sobrevivem ao tempo e até hoje determinam a imagem que se tem de um povo. Segundo historiadora, estereótipos se impõem mesmo quando as impressões os desmentem: eles são o que as pessoas esperam ver.

Foto: dapd

Trabalhador e pontual, mas sem senso de humor. Clichês como esse são muito antigos, mas até hoje têm uma grande influência na maneira como o mundo vê os alemães.

A historiadora Ina Ulrike Paul, de Munique, é responsável por um estudo que explora o surgimento e a transformação dos estereótipos nacionais europeus.

Segundo ela, os estereótipos se autoconfirmam. "O observador tem certas expectativas e deixa que elas determinem sua percepção", afirma. "Ou seja, nossas impressões pessoais são a exceção: mesmo não tendo visto nenhum alemão bêbado, eles bebem demais – como todos sabem."

Apesar disso, ela afirma que é possível acabar com os estereótipos.

DW: De onde surgiu o estereótipo que os alemães bebem muito álcool?

Ina Ulrike Paul: Esse estereótipo vem da obra de Tácito Germânia e se tornou recorrente desde a Renascença – tanto entre os alemães quanto entre os estrangeiros. Os alemães usavam o estereótipo porque eles também se referiam às outras características positivas dadas a eles na obra de Tácito, como honestidade, coragem, amor à liberdade e rigor moral.

Observadores estrangeiros citavam essa suposta característica porque era senso comum, mesmo quando eles mesmos a desmentiam. Um bom exemplo é um gentleman inglês que viajou pela Europa por cinco meses e publicou um diário de viagem no começo do século 17. A ilustração da capa mostrava um "Germânia", que personificava a nação alemã, ao lado de um "Gália" e um "Itália". Todos os três usavam uma espécie de coroa na cabeça. Olhando melhor a ilustração, podemos perceber que o "Germânia" tem um barril na cabeça e está vomitando – assim como os leitores esperariam dos alemães.

Então os alemães eram conhecidos por beber muito?

A obra de Tácito foi responsável por vários estereótipos sobre os alemãesFoto: picture alliance / akg-images

Sim, embora o autor do diário, Thomas Coryat, tenha dito que não viu mais pessoas bêbadas na Alemanha do que em outros lugares. A capa do livro contradiz suas observações. Os estereótipos geralmente funcionam dessa maneira, ou seja, nossas impressões pessoais são a exceção: mesmo não tendo visto nenhum alemão bêbado, eles bebem demais – como todos sabem.

Seu projeto de pesquisa se chama "Todos os cretenses mentem", uma referência a uma frase do filósofo grego Epimênides, ele mesmo oriundo da ilha de Creta.

Essa frase é considerada um paradoxo. Ela descreve uma contradição insolúvel: se um cretense diz que todos os cretenses mentem, o que é a verdade?

Mas o que isso tem a ver com estereótipos?

Os estereótipos também se autoconfirmam, contradizê-los costuma ser em vão. O observador tem certas expectativas e deixa que elas determinem sua percepção. Você não pode confirmar ou negar as imagens usuais dos europeus porque se trata de imagens, de ficção, das supostas características de alguns indivíduos que são transferidas de forma indiscriminada para milhões e milhões de pessoas.

Por que você decidiu explorar esse tema tão complexo?

Eu quero pesquisar os estereótipos que os europeus tinham de si mesmos e de outros europeus durante os séculos 17, 18 e também 19. Quando eles mudam? Ou permaneceram os mesmos? Interesso-me especialmente pelo século 18, o século do Iluminismo. O nacionalismo, no sentido que conhecemos hoje, surge apenas no século 19.

Mas como você chegou a essas informações?

Alemães são conhecidos como um povo que bebe muitoFoto: picture-alliance/dpa

Como "filtro" para os estereótipos, eu escolhi um meio que era muito popular entre acadêmicos e pessoas estudadas na Europa no século 18 e que reunia o conhecimento sobre todas as áreas das ciências e das artes na data de sua publicação: as enciclopédias publicadas nas línguas da Europa.

Nos artigos sobre os impérios e repúblicas europeias, ou até mesmo na categoria Europa, podemos encontrar o que as pessoas de um país em particular pensavam de si mesmas ou de seus vizinhos. Esses artigos sintetizavam textos etnográficos, históricos e outras literaturas da Antiguidade, da Renascença e do Iluminismo. E davam aos leitores versões condensadas de como eles mesmos eram, os espanhóis, os poloneses, os húngaros e assim por diante.

Você poderia dar um exemplo do que podia ser encontrado nessas enciclopédias?

Um holandês consultava uma enciclopédia holandesa que dizia que os holandeses eram amantes da liberdade e tinham uma nação com tradição militar e no comércio. Os aspectos positivos dessa autoimagem são enfatizados, enquanto alguns traços negativos – principalmente aqueles atribuídos pelos outros europeus – são minimizados.

Os clichês mudam com o tempo?

Ina Ulrike Paul: imagens podem mudar com o tempoFoto: Ulrike Schmidt-Parusel

Definitivamente. Imagens ficcionais de uma nação podem mudar por razões políticas e econômicas, por exemplo. Em alguns casos, a leitura mútua das chamadas "enciclopédias nacionais" levava a mudanças nas edições posteriores. Vamos voltar ao estereótipo que os alemães bebem muito álcool. Esse fato foi mencionado na enciclopédia de Leipzig de 1709, mas o estereótipo foi relativizado nas edições posteriores: os alemães até podem ter bebido muito no passado, mas hoje não mais. Olhando do outro lado da fronteira, na Polônia, lá sim, bebe-se muito. Por outro lado, para os leitores poloneses, quem bebia muito eram os russos.

É possível acabar com os estereótipos?

Embora Einstein tenha dito que é mais fácil dividir um átomo do que acabar com preconceitos, é possível mudar estereótipos. Eu não acredito que, hoje, os alemães expressariam estereótipos negativos em relação aos franceses, ou os franceses revidariam com antigos estereótipos sobre os alemães. Nesse caso, a chamada "hostilidade hereditária" foi, de fato, superada.

Ina Ulrike Paul é professora de história moderna da Alemanha e da Europa na Universidade Livre de Berlim.

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