Elizabeth Bryant, de Paris (ca)6 de fevereiro de 2015
Antes o mais impopular do pós-guerra, presidente se beneficiou da comoção com atentados e viu sua aprovação dobrar. Mas analistas apostam que fenômeno é passageiro, como aconteceu com Bush após o 11 de Setembro.
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Poucos políticos caíram tão profundamente ou subiram tão rápido nas pesquisas de opinião quanto François Hollande. Desde os ataques em Paris, há cerca de um mês, o presidente francês mais impopular do pós-guerra tem visto sua popularidade aumentar – dobrando para 40%, o nível mais alto em dois anos.
De uma figura política tida como ridícula, considerada incapaz de ajudar uma adoentada França, Hollande tem emergido como estadista digno de reconhecimento, que levou uma nação a enfrentar conjuntamente o luto e ofereceu uma saída para o futuro.
"É algo único, nunca vimos isso antes", afirma o sociólogo Michel Wieviorka. "E ele não é o único que está subindo. O primeiro-ministro Manuel Valls está indo ainda mais alto."
Poucos analistas políticos, porém, acreditam que essa alta vá perdurar. "Todos lembram que, no passado, quando um político recebeu muito apoio, ele caiu muito rapidamente, bem para baixo", completa Wieviorka.
Queda e retomada
Um ano atrás, Hollande mostrava-se humilhado e derrotado, abalado por uma série de indicadores econômicos sombrios e por relatos de um suposto caso extraconjugal com a atriz francesa Julie Gayet.
Pouco tempo depois, ele terminou a relação com sua companheira de longa data Valérie Trieweiler, que acabou escrevendo um livro onde acusava o líder socialista de zombar dos pobres como "desdentados".
Hoje, no entanto, ele é mais lembrado marchando lado a lado com líderes mundiais nas manifestações em prol da liberdade de expressão em Paris e por anunciar uma série de medidas para conter o jihadismo na França.
"As medidas corretas foram tomadas de imediato, logo depois dos ataques", afirma a professora aposentada Maryse Pinheiro. Ela, uma socialista convicta, acredita que os ataques provaram que os críticos de Hollande estavam errados. "As pessoas agora veem que ele é realmente forte, que ele não é um molenga. Ele é um homem sério e pragmático, que sabe como se adaptar à situação. Acho que a popularidade de Monsieur Hollande vai continuar subindo."
Paris, Washington
No entanto, a história sugere o contrário. Assim como Hollande, o presidente George W. Bush viu sua popularidade disparar após o 11 de Setembro, chegando a 90% de aprovação.
"Quando acontece um evento maior que ameaça a nação, isso motiva a unidade nacional – o que beneficia aquele que personifica essa unidade", explica Étienne Schweisguth, do Instituto de Estudos Políticos de Paris. "Mas isso só perdura enquanto as pessoas acharem que a nação está ameaçada."
Bush manteve o clima de unidade nacional, lembra Schweisguth, ao declarar guerra ao Iraque, no início de 2003. Mesmo assim, seis anos mais tarde, ele deixou o cargo como um dos presidentes mais impopulares da história do país, com somente 22% de aprovação.
Na França, persiste o sentimento de uma nação ameaçada. Na terça-feira, um assaltante empunhando uma faca feriu levemente três soldados que patrulhavam um centro da comunidade judaica na cidade de Nice. Hollande também está tentando consolidar uma sensação de unidade nacional, dando atenção a populações judaicas e muçulmanas do país, que se sentiram vítimas dos ataques.
No mês passado, o governo anunciou uma série de medidas para erradicar algumas causas do terrorismo doméstico, que vão de lições sobre laicismo nas escolas, passando pelo aumento de capelães muçulmanos nas prisões, à criação de mais empregos em subúrbios desfavorecidos, vistos como um terreno fértil para jihadistas. Mais recentemente, ele despachou milhares de soldados e policiais franceses para patrulhar instituições religiosas e outros locais públicos sensíveis.
Observadores veem as recentes medidas de forma mista. "Psicologicamente, é bom enviar o Exército para vigiar escolas judaicas e outros lugares, porque isso tranquiliza os cidadãos", diz o especialista em terrorismo Mathieu Guidère, da Universidade de Toulouse. "Mas do ponto de vista da segurança, sabemos que os jihadistas têm como alvo os militares e os judeus, então esses dois alvos são colocados no mesmo lugar."
Eleições como termômetro
Por enquanto, os holofotes estão voltados para Hollande e seu governo. Um arquirrival, o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, que retomou a presidência do partido de centro-direita UMP, não está chamando muita atenção.
Por sua vez, a líder da extrema direita, Marine Le Pen, da Frente Nacional, permaneceu na retaguarda depois dos ataques – o que, segundo analistas, pode vir a ser uma estratégia sábia.
Poucos acreditam que este período de distensão vai continuar. Todos os velhos problemas que assombram o governo de Hollande persistem, e a França terá eleições municipais em março. De fato, dados divulgados na semana passada mostram que o desemprego atingiu um novo recorde em dezembro último, e que a economia mal cresce.
"É claro, após esse ataque terrorista, houve muita comoção. Todos queriam estar juntos. Mas hoje sabemos que grandes debates estão por começar", diz Wieviorka. "E todos os problemas que criaram o terrorismo ainda estão aqui", completa o analista político.
Conversas nos arredores de Paris também sugerem um retorno à realidade. "Acho que Hollande fez o melhor – ao menos, ele não cometeu nenhum erro", afirma a empresária Nathalie Baylac, que normalmente apoia a ala de centro-direita. "Mas isso não vai mudar o meu voto. Eu realmente não tenho muita confiança em nenhum político.
A semana em imagens (2 a 8 de fevereiro de 2015)
Veja os acontecimentos que marcaram o noticiário internacional esta semana.
Foto: Reuters/Yiannis Kourtoglou
Mortos em estádio no Cairo
Pelo menos 25 pessoas morreram na noite deste domingo após confrontos entre a polícia e torcedores do clube de futebol Zamalek, no Cairo. A confusão começou na entrada do estádio, no primeiro jogo do campeonato egípcio aberto ao público desde 2012, quando atos de violência deixaram 74 mortos na cidade de Port-Said. (08.02.2015)
Foto: STR/AFP/Getty Images
Apelo por empenho da Rússia pela paz
Durante Conferência de Segurança em Munique, o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, mostrou passaportes e identificações militares de soldados russos que teriam sido recolhidos em território ucraniano. "De quantas evidências mais o mundo precisa para reconhecer fatos óbvios?", questionou Poroshenko. (07.02.2015)
Foto: Reuters/M. Dalder
Multidão na Jordânia marcha contra EI
Com presença da rainha Rania, milhares de pessoas foram às ruas da capital Amã, nesta sexta-feira, para apoiar os ataques aéreos contra o grupo extremista. Antes contrários à participação do país na coalizão, muitos jordanianos mudaram de opinião após divulgação do vídeo que mostra a morte do piloto Muath al-Kasaesbeh. Governo diz que bombardeios são apenas o "início da retaliação". (06.02.2015)
Foto: picture-alliance/epa/J. Nasrallah
México: 61 corpos encontrados em crematório abandonado
Um total de 61 corpos foram encontrados, nesta sexta-feira, em crematório abandonado na cidade de Acapulco, no estado de Guerrero, onde em setembro passado 43 alunos desapareceram. O estabelecimento, chamado Cremações do Pacífico, foi abandonado há um ano. (06.02.2015)
Foto: Getty Images/Afp/Pedro Pardo
Siemens anuncia corte de 7.800 vagas em todo o mundo
O conglomerado alemão Siemens anunciou, nesta sexta-feira, que cortará cerca de 7.800 postos de trabalho no âmbito do seu programa de reestruturação. Os cortes atingem principalmente o setor administrativo. Cerca de 3.300 empregos serão eliminados na Alemanha. A empresa não disse quais outros países serão atingidos. (06.02.2015)
Foto: picture-alliance/dpa/Martin Gerten
Novas propostas de paz para Ucrânia
Em decisão de última hora, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, se encontraram com o presidente ucraniano, Petro Poroshenko. Sem mencionar o conteúdo da proposta, Poroshenko disse que o encontro "aumentou a esperança por um cessar-fogo". Nesta sexta-feira, Merkel e Hollande viajam a Moscou. (05.02.2015)
Foto: picture-alliance/AP/M. Lazarenko
Jordânia ataca alvos jihadistas
Dois dias após a divulgação de um vídeo que mostra a morte do piloto jordaniano Muath al-Kasaesbeh, queimado vivo pelo "Estado Islâmico", a Força Aérea da Jordânia realizou uma série de ataques aéreos contra posições dos extremistas. Também nesta quinta-feira, o rei Abdullah 2º prestou pessoalmente suas condolências à família Al-Kasaesbeh. (05.02.2015)
Foto: Reuters/M. Hamed
Bombardeios em Damasco: ao menos 45 mortos
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, aproximadamente 40 ataques aéreos foram realizados, nesta quinta-feira, pelo regime da Síria em áreas controladas pela oposição ao redor de Damasco, após rebeldes terem disparados ao menos 70 foguetes e morteiros na capital síria. Entre os mortos estariam ao menos sete crianças. Além disso, cerca de 140 pessoas foram feridas. (05.02.2015)
Foto: picture-alliance/AA/K. Al Adel
O acordo da discórdia
O encontro entre os ministros das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, e o seu colega grego, Yanis Varoufakis, nesta quinta-feira, terminou sem que os dois lados chegassem a um acordo e com as divergências de posições bem claras. "Contratos assinados devem ser respeitados", disse Schäuble. A Grécia quer mais tempo. "Concordamos em discordar", resumiu Varoufakis. (05.02.2015)
Foto: Reuters/F. Bensch
Graça Foster deixa a Petrobras
A presidente da estatal e cinco diretores da empresa renunciaram aos cargos nesta quarta-feira, confirmando informações divulgadas no dia anterior pela imprensa. Entre os nomes cotados para o substituto está o de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central durante o governo Lula. (04.02.2015)
Foto: picture-alliance/dpa
Acidente aéreo em Taiwan
Um avião da companhia TransAsia Airways, com 58 pessoas a bordo, caiu no rio Keelung, nos arredores da capital de Taiwan, Taipei, depois de atingir uma ponte. A queda aconteceu dez minutos após a decolagem. Motoristas que transitavam pela rodovia registraram o momento do acidente. (04.02.2015)
Foto: imago/Xinhua
"Estado Islâmico" executa piloto jordaniano
Um vídeo publicado nesta terça-feira por militantes da organização terrorista "Estado Islâmico" mostra o piloto jordaniano Muath al-Kasaesbeh, de 26 anos, supostamente sendo queimado vivo. O Rei Abdullah da Jordânia interrompeu uma visita aos EUA para retornar ao seu país. Exército jordaniano promete vingança. (03.02.2015)
Foto: picture-alliance/AP Photo
Fidel reaparece
A imprensa estatal cubana publicou mais de 20 fotos de Fidel Castro, num encontro com um líder estudantil. Foram as primeiras imagens divulgadas do ex-presidente, de 88 anos, em seis meses. Longe do poder desde 2006, Fidel não aparece em um evento público desde janeiro de 2014. (03.02.2015)
Foto: Reuters/Cubadebate
Pesquisadores podem ter descoberto esculturas de Michelangelo
Se autoria de obras expostas em Cambridge for confirmada, peças serão as únicas em bronze criadas pelo artista italiano que ainda existem. Nus masculinos pertenceriam a uma fase inicial do mestre renascentista. (02.02.2015)
Foto: Chris Radburn/PA
Strauss-Kahn no banco dos réus por cafetinagem
O ex-chefe do FMI Dominique Strauss-Kahn voltou ao banco dos réus nesta segunda-feira, desta vez sob a acusação de fazer parte de uma rede que agenciava prostitutas para orgias em Bruxelas, Paris e Washington. O julgamento em Lille, no norte da França, acontece quatro anos depois de um escândalo sexual ter lhe custado o emprego e as chances de concorrer à presidência da França. (02.02.2015)
Foto: Pascal Le Segretain/Getty Images
Merkel em Budapeste
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, cobrou mais tolerância do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, em relação à oposição no país. Orban é alvo de críticas dentro da União Europeia por causa de sua proximidade com a Rússia e de seu estilo autoritário de governo. (02.02.2015)
Foto: picture-alliance/AP Photo/MTI/T. Illyes
EUA consideram enviar armas à Ucrânia
O governo dos Estados Unidos considera enviar armas para a Ucrânia, informou neste domingo o jornal "The New York Times". Apesar de uma decisão ainda não ter sido tomada, o governo do presidente Barack Obama está reconsiderando a possibilidade de enviar "ajuda letal" após o acirramento do conflito entre as forças ucranianas e os rebeldes pró-Rússia, afirma o jornal. (02.02.2015)
Foto: REUTERS/Maxim Shemetov
Tsipras à procura de aliados
Em viagem pela Europa, primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras (d), quer promover uma mudança de curso, tentando formar grande coalizão contra política de austeridade econômica imposta a países endividados da zona do euro. (02.02.2015)