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A Grécia está diante de novo drama migratório?

Florian Schmitz ca
29 de outubro de 2019

Enquanto situação dos refugiados no país europeu piora, novo governo aprova leis mais duras para desestimular concessão de asilo. Acordo de repatriação com a Turquia tem se mostrado ineficaz.

Griechenland Thessaloniki Flüchtlinge | warme Mahlzeit
Refugiados na cidade grega de Salônica. Região é rota de migrantes do Afeganistão, Paquistão, Iraque, Síria e também do norte da ÁfricaFoto: DW/F. Schmitz

"Mama Rosa, por favor, me deixe entrar. Hoje à noite 'game'!", implora um jovem afegão. Mama Rosa, é assim que Rose Hansen é conhecida na comunidade de refugiados de Salônica. Na verdade, ela é rigorosa quando se trata do horário de atendimento. Ela e sua equipe médica estão a postos até as 18h para cuidar dos refugiados.

Desde 2017, Hansen estaciona sua ambulância com placa de Hamburgo perto da estação ferroviária. Para o jovem afegão, ela fez uma exceção naquele dia. Porque, com "game", o jovem não queria dizer "jogo". Para os afegãos, a palavra em inglês significa: hoje tentamos atravessar a fronteira para o norte da Macedônia ou Albânia. Ele recebeu então pílulas e, mais tarde, prosseguiu sua jornada.

"Salônica é uma cidade de trânsito. Ninguém quer permanecer aqui. As fronteiras não estão longe", explica Hansen. É também por isso que a área em torno da estação ferroviária é um ponto de encontro para refugiados em trânsito.

Ela e sua equipe cuidam, principalmente, de bolhas e picadas de mosquitos infectadas. Os homens vieram da Turquia a pé, cruzaram ilegalmente a fronteira e, muitas vezes, passaram dias na estrada, explica a voluntária. "Sob más condições de higiene, bolhas e picadas de insetos podem rapidamente se tornar um problema sério", diz a enfermeira.

Novo governo, tratamento mais duro

Há algumas semanas teve início a redistribuição de refugiados dos locais superlotados em Samos e Lesbos para campos menores no norte da Grécia. Isso não é novidade, mas acontece desde 2016, explica o advogado Vasilis Chronopoulos: "Por razões humanitárias, isso é absolutamente necessário. Mas também os campos no interior do país estão atingindo seus limites."

Voluntários tratam principalmente bolhas e picadas de insetos em refugiados a caminho da Europa OcidentalFoto: DW/F. Schmitz

"Com os muitos novos refugiados que vieram para a Grécia em meados deste ano, voltamos praticamente aos números de 2016", informa Chronopoulos. Além disso, há outro problema: "As condições dos campos não são boas e surge a questão se eles estão apropriados para o inverno que se aproxima."

Em geral, a situação é incerta: "Os refugiados se sentem num beco sem saída. Eles não querem ficar na Grécia", diz o advogado. Embora o sistema ofereça determinados serviços, os requerentes de asilo se sentem deixados à própria sorte.

Para Rose Hansen, por outro lado, surge a questão de saber se os serviços prestados aos refugiados são realmente apropriados. Desde julho último, a Grécia vem sendo governada por uma administração conservadora. Já na campanha eleitoral, o novo primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis havia prometido um tratamento mais duro – e parece que está mantendo sua palavra, ao menos à primeira vista. "Desde que Mitsotakis passou a governar, os refugiados não recebem mais a AMKA", explica Hansen, citando o termo para o número de seguridade social grego.

Anteriormente, com o número de seguridade social grego, as pessoas tinham direito a assistência médica gratuita. Isso lhes foi retirado agora de forma ilegal, explica a voluntária de Hamburgo. E outra coisa que ela observa em seu trabalho: "Desde a mudança de governo, atendemos cada vez mais pessoas vítimas de maus-tratos". Muitos refugiados denunciam violência policial, também por parte de gregos.

Rosa Hansen diz que situação dos refugiados piorou na GréciaFoto: DW/F. Schmitz

Indesejados e esquecidos

Atualmente, principalmente jovens solteiros chegam à Grécia. Eles vêm do Afeganistão, Paquistão, Iraque, Síria e também do norte da África. São refugiados que ninguém quer receber e que também são vistos como uma ameaça na Alemanha. Rose Hansen não tem problemas com eles, mesmo que a mãe de duas filhas demonstre compreensão com o medo de algumas pessoas.

Com algumas palavras em árabe e persa, ela cuida para que a situação continue tranquila no caso de brigas. E com uma mistura de carinho materno e limites claros, ela conseguiu ganhar autoridade.

Não apenas os refugiados se sentem deixados à própria sorte, mas também muitos gregos. Alguns dias atrás, moradores do pequeno vilarejo de Vrasna Paralia, no norte da Grécia, ergueram barricadas.

Ali também vive Sultana Kluck, uma grega que morou em Stuttgart por mais de 40 anos: "Nosso vilarejo tem 100 habitantes e 1.500 refugiados moram aqui, agora eles queriam trazer novamente para cá diversos ônibus com 2 mil novos refugiados", explica Kluck, falando em alemão com sotaque da região de Stuttgart. Segundo ela, a situação no vilarejo é cada vez mais tensa. Ela afirma que compreende a situação dos moradores, explicando que assim não era mais possível.

No entanto, Sultana Kluck descarta um acirramento da situação. Muitas pessoas em Vrasna Paralia têm um bom relacionamento com os refugiados, explica. "Doamos roupas, alimentos e bicicletas e abrimos um supermercado com produtos Halal."

No entanto, atualmente, os visitantes evitam o local turístico. Alguns proprietários de hotéis teriam arrecadado meio milhão de euros e estariam fazendo bons negócios, acomodando os refugiados permanentemente, enquanto os outros hotéis estariam sem hóspedes, aponta Sultana Kluck. "Nem todos os refugiados podem ficar na Grécia."

Maior parte do refugiados que vêm para Europa é formada por homens solteirosFoto: DW/F. Schmitz

Acordo com Turquia praticamente ineficaz

Essa opinião também é partilhada pelo primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis. Em breve, deverá ser aprovada uma legislação para reformar o direito de asilo. A promessa: o processo de solicitação de refúgio deve ser acelerado. Na verdade, um requerimento teria que ser processado dentro de seis meses, mas muitos refugiados estão esperando já há dois anos. Segundo o acordo que a UE fechou com Ancara, os requerentes de refúgio rejeitados seriam enviados de volta à Turquia.

Atenas quer tornar a legislação de asilo mais dura e mais controlada, explica Vasilis Chronopoulos. No entanto, isso é passível de críticas: "Geralmente, os procedimentos se tornam mais lentos quando se adicionam novos processos. Além de recursos em segunda instância, atualmente, as agências precisam cuidar de 90 mil requerimentos. Faz muito pouco sentido se preocupar com a velocidade do carro quando se está preso num engarrafamento", ilustra o advogado.

Além disso, a ideia de que tudo seria resolvido por meio do acordo com a Turquia acabou. Segundo Chronopoulos, um espantalho provoca medo somente até que os pássaros se acostumem: "O acordo perdeu sua eficácia depois de três anos e meio e os refugiados agora conhecem a dor que ele causa". No entanto, eles estão vindo de qualquer maneira, aponta o advogado.

Isso pode ser confirmado por Rose Hansen. Todos os dias, ela atende novos refugiados a caminho da Europa Ocidental. O tom entre eles tornou-se mais áspero, o clima está tenso, diz a voluntária. Para Mama Rosa, isso é resultado da incerteza reinante. A situação na Grécia ainda não se acirrou, mas a pressão sobre a UE está aumentando.

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