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A guerra movida a petróleo

av14 de janeiro de 2003

"Não derramaremos sangue por óleo", foi um lema pacifista durante a guerra do Golfo Pérsico, iniciada por George Bush, pai. A situação ameaça repetir-se. Quais serão as conseqüências para a Alemanha?

Manifestação contra uma guerra no Iraque, em Leipzig, 13/01/2003Foto: AP

Pelo menos de início, os estoques de combustível na Alemanha não estarão seriamente ameaçados, caso realmente comece uma guerra contra o Iraque, afirmam especialistas. Por um lado, aquele país árabe é responsável por apenas 3% do petróleo fornecido no mundo. Por outro lado, os demais membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) comprometeram-se a um aumento proporcional de suas quotas de produção para compensar eventuais lacunas de abastecimento.

Estes dados partem de Peter Schlüter, diretor-geral da Associação da Indústria Alemã de Petróleo (MWV). Nas últimas duas décadas, a Alemanha ampliou consideravelmente suas fontes de matéria-prima. Segundo Schlüter, atualmente a maior parte vem do Mar do Norte e da Rússia, e o país dispõe de reservas próprias para, pelo menos, 90 dias.

Motivos sujos

O encarregado de assuntos de energia e armamentos do Partido Social Democrático (SPD), Hermann Scheer, afirma: "O petróleo é o motivo principal dessa guerra". Em entrevista ao Spiegel online, Scheer disse crer que Washington ludibria a comunidade internacional, apresentando falsos pretextos para uma intervenção militar no Iraque, como o controle de armas de destruição em massa. O motivo real do atual empenho norte-americano seriam interesses concretos ligados ao combustível mineral.

"O petróleo de extração fácil se esgotará num prazo de 40 anos, o que torna vital assegurar politicamente o acesso a ele." Atualmente os EUA já consomem 25% da produção mundial, um bom motivo para querer manter o controle sobre a curva dos preços, deduz o político social-democrata.

Dos 40 campos de petróleo de grande porte existentes, responsáveis por 60% da produção mundial, 26 situam-se no Golfo. As maiores reservas estão na Arábia Saudita, seguidas do Iraque. Contudo, os campos sauditas, explorados com uma intensidade dez vezes maior, já começam a se esgotar. Para Scheer, a conclusão é óbvia: a última gota de petróleo jaz sob solo iraquiano.

Se Washington realmente desejasse levar a democracia ao Iraque e ao mundo árabe, não teria apoiado os talibãs, como fez até a guerra do Afeganistão. A Arábia Saudita tornara-se um elemento de insegurança, o que levou os norte-americanos a associar-se com os fundamentalistas afegãos. Através destes, os EUA esperavam assumir o controle sobre as canalizações de petróleo do Turcomenistão.

Uma questão de dinheiro

Refinarias em Baku, no Mar CáspioFoto: AP

Scheer refuta a possibilidade de ser esta mais uma das obscuras "teorias de conspiração", segundo as quais Washington estaria manipulando os destinos da humanidade. Pelo contrário: o petróleo é o único motivo racional para aquela potência iniciar uma guerra. Afinal trata-se da "seiva vital da economia mundial".

Fundamentando sua argumentação, ele lembra: desde a dissolução do Pacto de Varsóvia, em 1991, parte da estratégia da OTAN é assegurar os recursos vitais em todo o mundo. "Está nos textos oficiais, mas na Alemanha foi considerado especulação jornalística", lamenta o especialista em assuntos de energia. Isso explica por que, nos últimos 12 anos, os EUA gastam de 50 a 60 bilhões de dólares por ano nas suas atividades no Golfo.

O político do SPD afirma que, sobretudo se não tiver participação militar, a Alemanha também pagará caro um voto a favor de uma guerra. Pois se apoiar o "sim" do Conselho de Segurança, ela não poderá escapar dos custos com a intervenção em si e suas conseqüências. Já na guerra do Golfo, os gastos da Alemanha e do Japão foram maiores do que os dos EUA.

"Importante demais para ficar nas mãos dos árabes"

Sob o título "O combustível da guerra", a revista Der Spiegel publicou um artigo de 14 páginas sobre o papel do petróleo nas relações entre o Oriente Médio e os Estados Unidos e na guerra que se anuncia. Apresentando um detalhado histórico da importância do ouro negro na economia mundial – ao mesmo tempo bênção e maldição para os árabes –, da ascensão do arquiinimigo e ex-aliado dos EUA Saddam Hussein, e do labirinto de coligações e hostilidades entre o Ocidente e o mundo árabe – a exemplo das duas guerras do Golfo Pérsico e do Afeganistão –, os jornalistas do Spiegel basicamente confirmam as conclusões de Hermann Scheer.

Entre muitos outros fatos contundentes, está a constatação de que no governo George W. Bush cada vez mais os "big shots" têm ligações estreitas com o "big oil". O próprio presidente foi diretor de duas empresas de petróleo, em 1978 e 1990, e seu vice, Richard Cheney, dirigiu de 1995 a 2000 uma prestadora de serviços no setor de óleo e gás.

Quanto a Condoleezza Rice, esta participou do conselho empresarial da Chevron durante nove anos: a empresa até batizou um de seus navios petroleiros com o nome da atual assessora de Segurança da presidência.

O gabinete Bush também está marcado pelas multinacionais do petróleo: pelo menos os secretários de Recursos Energéticos, Spencer Abraham, do Comércio, Donald Evans, e a secretária do Interior, Gale Norton, têm conexões no setor energético.

O artigo da revista alemã lembra que o ex-secretário do Exterior dos EUA, Henry Kissinger, comentou certa vez: "O petróleo é importante demais para que o deixemos para os árabes". Ao que tudo indica, esta é também a opinião de Bush e companhia.

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