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A guerra por procuração de Putin na Síria

Fiona Clark, de Moscou (fc)13 de outubro de 2015

Rússia pode estar entrando numa batalha longa e mais morosa que as intervenções na Crimeia e no leste ucraniano. Mas talvez isso não seja problema: não há nada melhor para o preço do petróleo do que uma guerra.

Russland Syrien Luftschläge Kampfflugzeug
Foto: picture-alliance/AP Photo/A. Kots

Pouco depois de navios de guerra russos dispararem 26 mísseis de cruzeiro a partir do Mar Cáspio em direção à Síria, Vladimir Putin jogava hóquei no gelo, a 1.500 metros dali, com estrelas da liga nacional. Não surpreende que o presidente russo tenha feito sete gols – uma maneira perfeita para finalizar as celebrações de seu aniversário.

Mas, o que mais você pode dar a um homem que já anexou a Crimeia e, possivelmente, uma parte da Ucrânia? Talvez uma leve inclinação na balança de poderes do Oriente Médio, que, na visão de Moscou, está pendendo para o lado americano. E isso se daria através da formação de uma aliança russa na região, com Irã, Iraque, Hisbolá e, talvez, com os aliados mais impopulares dos EUA, como a Arábia Saudita e outras monarquias do Golfo.

Ironicamente, são justamente Arábia Saudita e seus vizinhos que causam atualmente enorme prejuízo à Rússia ao bombearem no mercado petróleo suficiente para derrubar o preço do barril a menos de 50 dólares. O Orçamento da Federação Russa havia sido projetado com o preço do barril a 100 dólares. Isso já foi revisado nas contas públicas, mas a economia entrou em recessão, e o rublo se desvalorizou.

Não existe maneira melhor de obter atenção do que lançando mísseis em uma guerra de outro país – mesmo se você afirmar que fora convidado a fazer isso, no caso por Damasco. E não há como negar: os ataques aéreos russos na Síria chegaram a causar abalos nos EUA e nos países-membros da Otan.

Embora a Rússia alegue que está na Síria para destruir o "Estado Islâmico" (EI), os EUA alertaram que a estratégia de eliminar qualquer um que "se pareça" ou "lute" igual a um terrorista está fadada ao fracasso. O Reino Unido afirma que vai destacar cerca de cem soldados para os países bálticos para ajudar a aplacar os temores de um expansionismo russo aos moldes do ocorrido na Ucrânia.

A Otan, por sua vez, tem respondido às incursões "acidentais" de jatos russos no espaço aéreo turco alertando que está disposta a defender seus países-membros. O próprio governo em Ancara diz que a Rússia deveria voar com mais atenção, já que perder a Turquia como amigo e aliado seria um prejuízo significativo.

Demonstração de força

Mas será que Putin se importa? Enquanto analistas refletem sobre as táticas russas, ele deixou os "falcões de guerra" da política americana agitados, forçando os EUA a marcarem posição perante esse ato desafiador.

A retórica é conhecida: a política externa dos EUA está sendo "humilhada internacionalmente" e um fracasso ao mostrar sua força vai significar que o "apropriador de terras" Putin, com sua tática brinkmanship, obteve outra vitória sobre os "fracos" democratas.

De fato, isso poderá dar a Putin a razão de sorrir como um felino que teria engolido um falcão. Mas, será que ele, desta vez, abocanhou mais do que consegue mastigar? Ele sustenta que está apenas livrando o mundo de um terror maior que Assad e que o líder sírio será afastado na hora certa. O Ocidente vê isso de uma forma bastante diferente, ao afirmar que Assad é pior do que qualquer grupo terrorista e tem que ser substituído por rebeldes moderados.

Putin diz que o esforço do Ocidente de quase cinco anos para se livrar de Assad causou a crise de refugiados que a Europa vive agora. E que a prática americana de ajudar "rebeldes amigos" falhou de forma repetida no Oriente Médio. Não apenas isso: esses rebeldes teriam repassado as armas dos EUA para a Al Qaeda. Então, por que não tentar algo novo?

Mas o tiro pode sair pela culatra? Embora ele tenha dito que sua operação na Síria vá durar apenas alguns meses, os EUA e seus aliados já realizam ataques aéreos há um ano. A Rússia poderia entrar ela mesma em uma batalha longa e morosa.

E enquanto o líder checheno Ramzan Kadyrov espera ansioso para enviar seus homens à Síria para lutar contra o EI, os ataques aéreos podem não ter boa aceitação entre os quase 20 milhões de muçulmanos que vivem na Rússia. Kadyrov afirma que os terroristas deverão correr para salvar suas vidas assim que eles ouvirem que os chechenos estão chegando. Mas talvez ele tenha esquecido que alguns dos que lutam pelo EI vêm da Chechênia.

Não importa a forma inocente como Putin proclama suas intenções, parece que poucos o escutam. Mas talvez isso não seja problema dele. Um conflito prolongado pode lhe servir – afinal de contas, não há nada melhor para o preço do petróleo do que uma boa guerra.

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