Quem perde uma guerra deve sofrer as consequências. No entanto, depois de 1945 não houve nenhum acordo estipulando como a Alemanha indenizaria os países agredidos pela ditadura nazista durante a Segunda Guerra.
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Em maio de 1945, o regime nazista alemão se rendia incondicionalmente. Tropas americanas, soviéticas e britânicas ocupavam a Alemanha. Milhões de pessoas ficaram desabrigadas, refugiados se deslocavam do leste para o oeste. Os Aliados começaram a organizar politicamente e geograficamente a nova Alemanha.
Na Conferência de Potsdam, entre 17 de julho e 2 de agosto de 1945, no palácio Cecilienhof, as potências debateram os procedimentos seguintes. Os Estados Unidos conseguiram aprovar sua proposta de reparos baseados em zonas. Cada potência deveria cobrir suas exigências de reparações a partir da própria área que ocupava. O montante dos pagamentos alemães não foi fixado.
Na zona ocupada pelos soviéticos, os proprietários de terras foram expropriados e todas as grandes indústrias, nacionalizadas. O desmantelamento de instalações industriais foi muito mais intenso no leste do que nas zonas ocidentais. Até 1953, a Alemanha Oriental perdeu cerca de 30% da sua capacidade industrial.
"Isso teve a ver com o fato de os alemães terem causado uma destruição imensa na União Soviética, sendo necessária uma compensação mais extensa", explica Manfred Görtemaker, professor de história moderna da Universidade de Potsdam.
Renúncia a reparações
As potências ocidentais, no entanto, precisavam da Alemanha Ocidental como aliada na Guerra Fria, devendo se tornar uma espécie de baluarte econômico e político contra o comunismo. Pois depois da Conferência de Potsdam estava claro: a aliança dos vencedores rapidamente se transformava numa confrontação encarniçada entre o Leste e o Ocidente.
No Tratado de Paz de Paris, de 1947, as potências ocidentais concordavam sobre como distribuir as indenizações de guerra entre si. Além disso, foram estipuladas obrigações de reparação para a Alemanha compensar os refugiados e vítimas da perseguição nazista. Entretanto o tratado não mencionava um montante total a ser pago.
"Os EUA consideravam a problemática das reparações após a Primeira Guerra Mundial", observa Görtemaker. Naquela época, a economia alemã não conseguiu se recuperar durante muito tempo, o que culminou com a ascensão de Hitler. "Por isso os americanos e, até certo ponto, os britânicos defendiam uma renúncia a reparações, a fim de permitir que os alemães se recuperassem economicamente."
Para facilitar essa ascensão econômica, o então secretário de Estado dos EUA, George C. Marshall, encomendou em 1947 a preparação de um plano para reativar a economia europeia. Até 1952, os EUA disponibilizaram aos países europeus ocidentais 12,4 bilhões de dólares. Mais de 10% dessa soma foi para a Alemanha Ocidental.
Pagamentos a Israel
No Acordo de Londres de 1953, a Alemanha Ocidental se comprometia a pagar dívidas que não estavam relacionadas a efeitos ou danos da Segunda Guerra Mundial, mas a créditos dos períodos pré e pós-guerra. Berlim conseguiu reduzir à metade sua dívida, originalmente de 29 bilhões de marcos.
A delegação alemã também conseguiu que os antigos adversários reconhecessem reivindicações de seu país em relação ao exterior. Isso garantiu o fluxo de empréstimos para a emergente República Federal da Alemanha (RFA), incentivando sua recuperação econômica. Além disso os credores abriram seus mercados para os produtos alemães. Todas as reclamações do tempo da guerra ficaram adiadas para um tratado de paz posterior.
Apenas alguns dias após o pacto de Londres, o parlamento alemão aprovava o acordo de reparações com Israel, assinado em Luxemburgo, prevendo que a comunidade judaica recebesse da RFA mercadorias no valor de 3 bilhões de marcos alemães – o equivalente a cerca de 1,5 bilhão de euros.
A Jewish Claims Conference recebeu 450 milhões de marcos alemães. Além disso, a Alemanha se comprometia a pagar até o ano 2000 cerca de 83 bilhões de marcos a antigos trabalhadores forçados e prisioneiros dos campos de concentração.
Com o acordo de Londres e o de reparações com Israel, o então chanceler alemão, Konrad Adenauer, visava sobretudo um objetivo político: fazer progredir a integração da Alemanha no Ocidente e apresentar o país como um devedor confiável.
Tratado Dois-Mais-Quatro
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, de início não houve um tratado de paz regulamentando as reparações. A Alemanha estava dividida e sob administração aliada. Após a reunificação do país, em 1989, o então chefe de governo Helmut Kohl tentou evitar que a questão das reparações fosse levantada, temendo exigências de todas as 62 nações que haviam estado em guerra com a Alemanha.
A solução foi o chamado Tratado Dois-Mais-Quatro, que estabelece a unidade e a soberania da República Federal, sem mencionar reparações. Para não ter que atender eventuais pedidos de reparações de Estados individuais, adota-se a terminologia "no lugar de um tratado de paz".
O assunto parecia encerrado, até que o governo grego colocou novamente em jogo a questão das reparações, em 2015. Segundo o vice-ministro das Finanças da Grécia, Dimitris Mardas, a Alemanha deveria a seu país quase 280 bilhões de euros. O governo alemão rejeita as exigências até hoje.
"Se a Grécia está exigindo 300 bilhões, quanto a Rússia poderia exigir? Cem trilhões?", pergunta o historiador Ulrich Herbert. Afinal, a União Soviética foi muito mais atingida pelos saques e crimes do Estado nazista. Pagamentos oficiais a Atenas desencadeariam reivindicações muito mais elevadas de outros grupos de vítimas, que acabariam sendo impossíveis de saldar.
Cronologia da Segunda Guerra Mundial
Em 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia, sob ordens de Hitler. A guerra que então começava duraria até 8 de maio de 1945, deixando um saldo até hoje sem paralelo de morte e destruição.
Foto: U.S. Army Air Forces/AP/picture alliance
1939
No dia 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia sob ordens de Adolf Hitler – supostamente em represália a atentados poloneses, embora isso tenha sido uma mentira de guerra. No dia 3 de setembro, França e Reino Unido, que eram aliadas da Polônia, declararam guerra à Alemanha, mas não intervieram logo no conflito.
1939
A Polônia mal pôde oferecer resistência às bem equipadas tropas alemãs – em cinco semanas, os soldados poloneses foram derrotados. No dia 17 de setembro, o Exército Vermelho ocupou o leste da Polônia – em conformidade com um acordo secreto fechado entre o Império Alemão e a União Soviética apenas uma semana antes da invasão.
Foto: AP
1940
Em abril de 1940, a Alemanha invadiu a Dinamarca e usou o país como base até a Noruega. De lá vinham as matérias-primas vitais para a indústria bélica alemã. No intuito de interromper o fornecimento desses produtos, o Reino Unido enviou soldados ao território norueguês. Porém, em junho, os aliados capitularam na Noruega. Nesse meio tempo, a Campanha Ocidental já havia começado.
1940
Durante oito meses, soldados alemães e franceses se enfrentaram no oeste, protegidos por trincheiras. Até que, em 10 de maio, a Alemanha atacou Holanda, Luxemburgo e Bélgica, que estavam neutros. Esses territórios foram ocupados em poucos dias e, assim, os alemães contornaram a defesa francesa.
Foto: picture alliance/akg-images
1940
Os alemães pegaram as tropas francesas de surpresa e avançaram rapidamente até Paris, que foi ocupada em meados de junho. No dia 22, a França se rendeu e foi dividida: uma parte ocupada pela Alemanha de Hitler e a outra, a "França de Vichy", administrada por um governo fantoche de influência nazista e sob a liderança do general Pétain.
Foto: ullstein bild/SZ Photo
1940
Hitler decide voltar suas ambições para o Reino Unido. Seus bombardeios transformaram cidades como Coventry em cinzas e ruínas. Ao mesmo tempo, aviões de caça travavam uma batalha aérea sobre o Canal da Mancha, entre o norte da França e o sul da Inglaterra. Os britânicos venceram e, na primavera europeia de 1941, a ofensiva alemã estava consideravelmente enfraquecida.
Foto: Getty Images
1941
Após a derrota na "Batalha aérea pela Inglaterra", Hitler se voltou para o sul e posteriormente para o leste. Ele mandou invadir o norte da África, os Bálcãs e a União Soviética. Enquanto isso, outros Estados entravam na liga das Potências do Eixo, formada por Alemanha, Itália e Japão.
1941
Na primavera europeia, depois de ter abandonado novamente o Pacto Tripartite, Hitler mandou invadir a Iugoslávia. Nem a Grécia, onde unidades inglesas estavam estacionadas, foi poupada pelas Forças Armadas alemãs. Até então, uma das maiores operações aeroterrestres tinha sido o ataque de paraquedistas alemães a Creta em maio de 1941.
Foto: picture-alliance/akg-images
1941
O ataque dos alemães à União Soviética no dia 22 de junho de 1941 ficou conhecido como Operação Barbarossa. Nas palavras da propaganda alemã, o objetivo da campanha de invasão da União Soviética era uma "ampliação do espaço vital no Oriente". Na verdade, tratava-se de uma campanha de extermínio, na qual os soldados alemães cometeram uma série de crimes de guerra.
Foto: Getty Images
1942
No começo, o Exército Vermelho apresentou pouca resistência. Aos poucos, no entanto, o avanço das tropas alemãs chegou a um impasse na Rússia. Fortes perdas e rotas inseguras de abastecimento enfraqueceram o ataque alemão. Hitler dominava quase toda a Europa, parte do norte da África e da União Soviética. Mas no ano de 1942 houve uma virada.
1942
A Itália havia entrado na guerra em junho de 1940, como aliada da Alemanha, e atacado tropas britânicas no norte da África. Na primavera de 1941, Hitler enviou o Afrikakorps como reforço. Por muito tempo, os britânicos recuaram – até a segunda Batalha de El Alamein, no outono de 1942. Ali a situação mudou, e os alemães bateram em retirada. O Afrikakorps se rendeu no dia 13 de maio de 1943.
Foto: Getty Images
1942
Atrás do fronte leste, o regime de Hitler construiu campos de extermínio, como Auschwitz-Birkenau. Mais de seis milhões de pessoas foram vítimas do fanatismo racial dos nazistas. Elas foram fuziladas, mortas com gás, morreram de fome ou de doenças. Milhares de soldados alemães e da SS estiveram envolvidos nestes crimes contra a humanidade.
Foto: Yad Vashem Photo Archives
1943
Já em seu quarto ano, a guerra sofreu uma virada. No leste, o Exército Vermelho partiu para o contra-ataque. Vindos do sul, os aliados desembarcaram na Itália. A Alemanha e seus parceiros do Eixo começaram a perder terreno.
1943
Stalingrado virou o símbolo da virada. Desde julho de 1942, o Sexto Exército alemão tentava capturar a cidade russa. Em fevereiro, quando os comandantes desistiram da luta inútil, cerca de 700 mil pessoas já haviam morrido nesta única batalha – na maioria soldados do Exército Vermelho. Essa derrota abalou a moral de muitos alemães.
Foto: picture-alliance/dpa
1943
Após a rendição das tropas alemãs e italianas na África, o caminho ficou livre para que os Aliados lutassem contra as potências do Eixo no continente europeu. No dia 10 de julho, aconteceu o desembarque na Sicília. No grupo dos Aliados estavam também os Estados Unidos, a quem Hitler havia declarado guerra em 1941.
Foto: picture alliance/akg
1943
Em setembro, os Aliados desembarcaram na Península Itálica. O governo em Roma acertou um armistício com os Aliados, o que levou Hitler a ocupar a Itália. Enquanto os Aliados travavam uma lenta batalha no sul, as tropas de Hitler espalhavam medo pelo resto do país.
No leste, o Exército Vermelho expulsou os invasores cada vez mais para longe da Alemanha. Iugoslávia, Romênia, Bulgária, Polônia... uma nação após a outra caía nas mãos dos soviéticos. Os Aliados ocidentais intensificaram a ofensiva e desembarcaram na França, primeiramente no norte e logo em seguida no sul.
1944
Nas primeiras horas da manhã do dia 6 de junho, as tropas de Estados Unidos,Reino Unido, Canadá e outros países desembarcaram nas praias da Normandia, no norte da França. A liderança militar alemã tinha previsto que haveria um desembarque – mas um pouco mais a leste. Os Aliados ocidentais puderam expandir a penetração nas fileiras inimigas e forçar a rendição de Hitler a partir do oeste.
Foto: Getty Images
1944
No dia 15 de agosto, os Aliados deram início a mais um contra-ataque no sul da França e desembarcaram na Provença. As tropas no norte e no sul avançaram rapidamente e, no dia 25 de agosto, Paris foi libertada da ocupação alemã. No final de outubro, Aachen se tornou a primeira grande cidade alemã a ser ocupada pelos Aliados.
Foto: Getty Images
1944
No inverno europeu de 1944/45, as Forças Armadas alemãs reuniram suas tropas no oeste e passaram para a contra-ofensiva em Ardenne. Mas, após contratempos no oeste, os Aliados puderam vencer a resistência e avançar inexoravelmente até o "Grande Império Alemão" – a partir do leste e do oeste.
Foto: imago/United Archives
1945
No dia 8 de maio de 1945, os nazistas se renderam incondicionalmente. Para escapar da captura, Hitler se suicidou com um tiro no dia 30 de abril. Após seis anos de guerra, grande parte da Europa estava sob entulhos. Quase 50 milhões de pessoas morreram no continente durante a Segunda Guerra Mundial. Em maio de 1945, o marechal de campo Wilhelm Keitel assinava a ratificação da rendição em Berlim.