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A história por trás dos que sonham em chegar ao espaço

30 de maio de 2020

Autora Julian Guthrie relata sobre as pessoas "fora do normal" que, muitas vezes trabalhando em garagens, querem desbravar seus próprios caminhos e impulsionam bem mais do que o setor espacial.

Elon Musk
Elon Musk, o fundador e presidente da empresa espacial SpaceXFoto: Getty Images/W. McNamee

Muitas pessoas, frequentemente trabalhando em garagens e fundos de lojas, estão por trás dos avanços tecnológicos para se chegar ao espaço. Não é à toa que prêmios como o XPrize, no valor de 10 milhões de dólares, tentam incentivar o desenvolvimento de novas tecnologias para atingir esse objetivo.

Julian Guthrie, autora do livro How to make a Spaceship – A Band of Renegades, an Epic Race, and the Birth of Private Spaceflight (Como fazer uma espaçonave – um bando de renegados, uma disputa épica e o nascimento dos voos espaciais privados, em tradução literal), diz que pessoas "fora do normal" impulsionaram o setor espacial.

"[O livro] conta essa história de empreendorismo incrível, como essas pessoas assumem grandes riscos para lançar uma indústria", diz em entrevista à DW. "Foram essas pequenas equipes trabalhando em garagens e nos fundos de lojas. Foi aí que empresas como Amazon, Apple, Hewlett-Packard e Harley-Davidson foram criadas, todas essas companhias que têm tanta criatividade."

DW: Ouvimos muitas histórias sobre empresas comerciais no espaço, exploração do espaço, foguetes. Se não prestarmos muita atenção, elas parecem ter saído do nada, como se fossem meros subprodutos dessa era da internet digital. Mas elas não vieram do nada, não é? Há um grande grupo de pessoas que trabalham nisso há décadas...

Julian Guthrie: Sim, exatamente. As pessoas pensam que SpaceX, Blue Origin, o que a Boeing está fazendo nos EUA e a Virgin Galactic são um fenômeno novo. Em termos de amplitude e promessa, sim. Mas meu livro How to make a Spaceship – A Band of Renegades, an Epic Race, and the Birth of Private Spaceflight conta essa história de empreendorismo incrível, como essas pessoas assumem grandes riscos para lançar uma indústria. Os renegados, os criadores de foguetes, os desistentes da faculdade que correm atrás deste prêmio de 10 milhões de dólares, desse desejo comum.

Você está falando do XPrize, que foi criado por Peter Diamandis.

Sim. E eles tinham como objetivo trilhar um caminho particular para o espaço.

Então nos conte mais sobre Peter Diamandis. Porque eu estou interessado em saber se não estaríamos onde estamos sem ele e, eu suponho, sem as pessoas com as mesmas ideias?

Eu acredito que ele foi definitivamente o catalisador disso. Ele é como o maestro dessa grande orquestra, e ele se inspirou para lançar esse prêmio chamado de XPrize, no valor de 10 milhões de dólares, em 1996, porque ele percebeu que não poderia chegar ao espaço através da Nasa, pelo programa do governo americano. Ele precisava criar outra maneira de conseguir que ele e seus amigos fossem ao espaço.

Isso porque ele queria se tornar astronauta?

Sim, ele queria desesperadamente ser um astronauta. O livro começa com Peter como menino de 9 anos olhando fixamente para a televisão, com os olhos arregalados, enquanto a Apollo 11 pousa na lua. Esse foi um momento que impressionou pessoas de todo o mundo que estavam em seus anos de formação. E, como ele percebeu que não poderia chegar ao espaço por meio da Nasa, então lançou essa competição de estímulo.

Para Guthrie, as pessoas "fora do normal" não trabalham para o governo e querem desbravar seus próprios caminhosFoto: Chris Hardy

Então, eu acredito que, honestamente, isso não teria acontecido sem ele. No meu livro eu tenho essas grandes cenas em que Peter se encontra com Jeff Bezos, o fundador da Amazon, que agora tem a Blue Origin. Ele se encontrou com Elon Musk quando Elon estava apenas pensando em ir ao espaço, e ele estava se reunindo com Richard Branson.

Todas essas pessoas estavam começando a pensar sobre isso no começo dos anos 2000, e aconteceu esse tipo de zeitgeist, onde houve esse ponto de inflexão na história e, como eu vejo, quando isso começa a se afastar das mãos do governo e ir para a indústria privada.

É interessante você mencionar Jeff Bezos, porque ele foi um dos dirigentes do clube universitário Estudantes para a Exploração e Desenvolvimento do Espaço (SEDS), que Peter começou no Massachusetts Institute of Technology (MIT). E, novamente, nós tendemos a pensar que eles são simplesmente pessoas com muito tempo e dinheiro em suas mãos que pensam "eu poderia apenas explorar e conquistar o espaço vizinho". Mas não é bem assim. Parece que o espaço tem sido a força motriz do seu trabalho. É uma avaliação justa?

Sim, esse é um bom aspecto. Quando me encontrei com Peter Diamandis, eu pensei: "uau, esse cara é o maior geek espacial que eu já conheci". E eu digo isso com admiração, porque ele é tão apaixonado por isso. E ele tinha que chegar ao espaço, parece que isso estava em seu sangue. Ele sentiu que tinha de encontrar uma maneira de, pelo menos, nos avançar no sentido de "escapar" do planeta, ou dar outras opções.

E, falando com Richard Branson, ele teve esses sonhos similares, embora talvez não tanto quanto Peter teve. E você tem Elon, que tem uma abordagem mais pragmática em "escapar" do planeta. Peter é também pragmático, mas a abordagem de Elon é mais "faça cópias da biosfera, pois os seres humanos vão destruir este planeta, e nós precisamos ter uma alternativa!" E Jeff Bezos era um geek espacial, assim como Peter. Com certeza, eles são farinha do mesmo saco. Jeff estava decidido a fazer tudo o que ele pudesse para construir uma fortuna para chegar ao espaço.

Como você explica no livro, Peter tem esses momentos em que ele percebe que é necessário um prêmio para incentivar e criar a concorrência necessária para que as pessoas invistam mais do que elas jamais ganharão sem um prêmio. Quão forte é essa comunidade nos EUA, essa ideia de tirar as coisas do controle do governo? Porque nós estamos agora na era Trump, e Trump é, de certa forma, o governo anti-governo. Então, o quão forte é essa comunidade?

Eu acredito que isso ilustra bem a realização desse processo em sua essência. Fala-se de arregaçar as mangas e fazer você mesmo... embora houvessem concorrentes para o XPrize vindos do Reino Unido, da Argentina e da Rússia por um período. Assim, esse empreendedorismo imperfeito não é inerente aos EUA, mas é o que construiu as maiores indústrias do país. Não era o governo. Foram essas pequenas equipes trabalhando em garagens e nos fundos de lojas. Foi aí que empresas como Amazon, Apple, Hewlett-Packard e Harley-Davidson foram criadas, todas essas companhias que têm tanta criatividade.

As pessoas sobre as quais eu escrevo nesse livro são os "fora do normal". Eles são os rebeldes, os que pensam diferente, talvez trabalhando na obscuridade. Eles não vão trabalhar para os programas governamentais, eles querem fazer as coisas eles mesmos, eles querem desbravar seus próprios caminhos. E eu amo esse espírito, que é quase do oeste americano. E é um espírito que está prosperando hoje com essa indústria espacial comercial.

Mas isso é o que realmente construiu este país e criou as maiores tecnologias. Não foi o governo. Foram essas equipes de indivíduos. Mas, para Peter, tem que haver a participação de ambos: tem que ser essa parceria público-privada, onde você obtém essas ideias geniais, muitas vezes vindas desses "fora do normal" – como Burt Rutan, Dumitru Popescu e Steve Bennett. Mas você precisa de algum tipo de parceria com o governo quando se chega a esse nível, certamente quando se trata de espaço. Você sabe, Elon Musk... hoje, seu parceiro mais importante é a Nasa.

Zulfikar Abbany Ciência, com interesse especial por inteligência artificial e a relação entre tecnologia e pessoas.
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