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A hora e a vez de um atrevido estreante

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
29 de março de 2022

Tido como o melhor zagueiro em atividade na Alemanha, Nico Schlotterbeck, de 22 anos, finalmente entrou em campo pela seleção. Não fosse uma falha ao apagar das luzes, sua estreia teria sido perfeita.

Em amistoso contra Israel, Nico Schlotterbeck foi um dos mais efetivos construtores do jogo da AlemanhaFoto: Frank Hoermann/Sven Simon/IMAGO

Já estava mais do que na hora de dar uma oportunidade a Nico Schlotterbeck. O jovem zagueiro tinha sido chamado em setembro do ano passado, quando o então novo técnico da seleção alemã, Hansi Flick, convocou o seu elenco pela primeira vez. Só que nos cinco jogos da Mannschaft pelas eliminatórias da Copa do Catar, Schlotterbeck curtiu um banco de reservas e não foi aproveitado nem como eventual substituto no segundo tempo. Uma contusão em novembro o impediu de ser convocado para os últimos dois jogos oficiais da seleção em 2021.

Recuperado da contusão, continuou a brilhar na Bundesliga com atuações soberbas pelo Freiburg, pequeno clube situado na idílica Floresta Negra no sudoeste da Alemanha.   

Para o portal kicker , Schlotterbeck é o melhor zagueiro em atividade na Alemanha, superior inclusive a nomes consagrados como Niklas Süle, Dayot Upamecano e Lucas Hernandez. É a primeira vez que um jogador do Freiburg lidera o ranking de melhores zagueiros. Foi incluído na seleção da rodada em cinco oportunidades, sua nota média é 7 e, sempre de acordo com o kicker, é um zagueiro de nível internacional. Seu valor no mercado da bola chega a 28 milhões de euros. Não é à toa que Bayern de Munique e Borussia Dortmund já manifestaram interesse no jovem atleta, de apenas 22 anos.

Desde a sua esplendorosa atuação contra o Borussia Dortmund na segunda rodada do campeonato da atual temporada, quando anulou completamente Erling Haaland e foi um dos principais protagonistas da vitória do seu Freiburg por 2x1 sobre os aurinegros, a estrela de Schlotterbeck não para de subir.

Estreia de tirar o fôlego

Só faltava mesmo fazer suas estreia na seleção alemã, e foi uma estreia de tirar o fôlego – para o bem e para o mal. Hansi Flick escalou Schlotterbeck como titular e desde o começo da partida amistosa sábado último contra Israel, o robusto zagueiro (1,91 de altura, 89 quilos) disse a que veio.

A rigor, defensivamente foi pouco exigido pelos atacantes israelenses e quando foi, resolvia a parada com sua habitual determinação. Em contrapartida e por não ter muito que fazer na defesa, passou a dar uma contribuição mais ativa na saída da bola iniciando a construção de jogadas rumo ao ataque. Em alguns desses momentos, chegou a lembrar Mats Hummels nos seus melhores momentos.

Autoconfiante, roubava a bola do adversário, driblava energicamente e se concentrava na maioria das vezes em lançamentos altos e longos ou passes rasteiros e precisos, que, via de regra, chegavam aos pés dos seus companheiros. Pelo menos dois desses passes poderiam ter redundado em gols, se Timo Werner e Kai Havertz não tivessem perdido o duelo direto com o goleiro de Israel, Ofir Marciano.

Durante a maior parte do jogo, Schlotterbeck esteve por mais tempo na metade de campo do adversário do que na sua própria. Ao lado de Ilkay Gündogan, se constituiu no mais efetivo construtor do jogo da Alemanha, seja com passes em profundidade pela faixa central ou em diagonal pelos flancos.

Não fosse uma falha já ao apagar das luzes do jogo, a estreia de Schlotterbeck poderia ter sido perfeita, do tipo nota 10. Só não foi por uma desatenção de sua parte dentro da grande área, quando não percebeu a infiltração do atacante Yonatan Cohen. Deu uma cochilada e, quando acordou, só lhe restou cometer o pênalti. Para sua sorte, porém, o goleiro Kevin Trapp defendeu a cobrança de Cohen, e o placar ficou inalterado - 2x0 para a Alemanha.

Após pênalti cometido por Nico Schlotterbeck (dir.), o goleiro Kevin Trapp (esq.) conseguiu evitar gol de IsraelFoto: Weber/ Eibner-Pressefoto/picture alliance

"Numa Copa do Mundo isso pode ser fatal"

Logo que se ouviu o apito final do árbitro dando por encerrada a partida, Hansi Flick foi em direção aos repórteres de TV para uma rápida entrevista e no caminho cruzou com o estreante Schlotterbeck. O técnico o tomou pelos braços e conversou seriamente com ele. O jogador apenas ouvia e balançava a cabeça, aparentemente concordando com o treinador.

Na entrevista, Flick foi categórico: "Se numa partida decisiva ele comete um erro deste porte, ninguém pode ficar satisfeito. Conversei com ele rapidamente sobre sua desatenção. Numa Copa do Mundo isso pode ser fatal." Por outro lado, o técnico reconheceu: "Apesar do seu erro, no frigir dos ovos ele fez um jogo muito bom, foi muito presente e ativo, além da autoconfiança que demonstrou quando de posse da bola."

Schlotterbeck, por sua vez, confessou: "Há algumas coisas no meu jogo que precisam ser melhoradas. Vou trabalhar nisso com mais afinco. E no caso específico do pênalti, fui mal. Preciso agradecer ao Kevin porque, com sua defesa, corrigiu meu erro."

Menos mal que Kevin Trapp tenha quebrado o galho dele e evitado o gol de Israel. Talvez fosse o caso de Schlotterbeck mandar um presente de agradecimento ao goleiro do Eintracht Frankfurt – o famoso bolo de cereja Floresta Negra, por exemplo.

O futuro pertence a Schlotterbeck

Quanto a Nico Schlotterbeck, até o final da temporada continuará no Freiburg, onde o experiente treinador Christian Streich vai continuar seu trabalho de lapidação desse jovem zagueiro. Em qual clube desfilará seu talento depois, está escrito nas estrelas, mas não devem faltar interessados em sua aquisição.

Na seleção alemã disputará a posição de titular com Antonio Rüdiger e tem boas chances de vencer o duelo. Resulta daí que uma volta de Mats Hummels fica cada vez mais improvável. Para Hansi Flick é importante ter um zagueiro no time com velocidade na saída de bola e construção rápida de jogadas.

Esse é apenas um dos muitos trunfos de Nico Schlotterbeck a quem, pelo jeito, o futuro pertence.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit é publicada às terças-feiras. 

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.

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