Desde 2018, o suíço Lucien Favre comanda a equipe do Borussia Dortmund. Com fama de hesitante e obcecado pelos aspectos táticos, o treinador tem a missão de levar o clube ao título da temporada 2019/2020 da Bundesliga.
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Em abril de 2014, o Borussia Mönchengladbach realizava a sua convenção anual com os associados do clube. Quando Lucien Favre subiu ao palco, foi recebido com aplausos estrondosos. Visivelmente constrangido, o treinador respondeu com modestos acenos.
A equipe sob seu comando caminhava célere rumo à obtenção de uma vaga para a Liga Europa. Seria sua segunda participação nesse torneio em três anos. Desde 2011, quando o professor suíço salvou o clube do rebaixamento, era patente o desenvolvimento do time. Reinava a opinião praticamente unânime de que o papel do técnico foi fundamental nesse processo de crescimento.
Já naqueles tempos, Favre era considerado um técnico do mais alto nível, mas também hesitante em momentos cruciais de uma partida, ou quando da contratação de reforços para uma nova temporada. À boca pequena comentava-se também que, vez ou outra, o suíço era tomado por crises agudas de pessimismo. Nessas horas cogitava até renunciar ao cargo que ocupava no momento.
Foi exatamente o que aconteceu apenas um ano e meio mais tarde, no início da temporada 2015/2016. Após cinco derrotas consecutivas na Bundesliga, o até então festejado treinador simplesmente jogou a toalha. O Borussia Mönchengladbach estava em último lugar na tabela, e Favre achou por bem entregar o cargo. O pessimismo inerente à sua personalidade desde seus tempos de infância na pequena aldeia camponesa de Saint-Barthélemy, na Suíça, foi a mola propulsora de sua saída do clube.
Com o time segurando a lanterna, talvez ele já estivesse imaginando uma nova luta contra o rebaixamento tal qual em 2011. Era demais para sua cabeça. Preferiu ir embora. A ironia nessa história está no fato de que os "potros" acabaram se classificando para os playoffs da Champions League naquela temporada ao terminar a Bundesliga em quarto lugar.
Lucien Favre é um obcecado pelo jogo de futebol. Ele esmiúça e prepara seu time nos mínimos detalhes, peça por peça, setor por setor. Montar esquemas táticos é com ele mesmo. É a partir daí que desenvolve um plano que, uma vez posto em prática, deverá levar a equipe à vitória. O problema surge quando o plano pré-estabelecido não dá certo.
Inteligente como é, Favre percebe quando a teoria desanda na prática, e é justamente nessa hora que a hesitação do técnico vem à tona. Dificilmente ele faz alguma mudança na estratégia previamente traçada e demora uma eternidade até se decidir por uma substituição em campo.
Thorgan Hazard é apenas um exemplo desses momentos hesitantes do treinador. O meio-campista belga, pelo menos até agora, não mostrou a que veio. Está muito longe de ser um reforço que agrega valor ao ataque aurinegro. Mesmo assim, o professor suíço insiste em sua permanência no time titular. Foi assim contra Barcelona, Eintracht Frankfurt e Werder Bremen. Nessas três partidas, Julian Brandt só entrou para substituir Hazard faltando pouco mais de quinze minutos para o fim do jogo.
Outro que ainda não achou sua grande forma da temporada passada atende pelo nome de Jadon Sancho. Desde a terceira rodada, o jovem inglês não está rendendo à altura do seu indiscutível talento. A nota média que o portal Kicker conferiu ao atacante nas últimas quatro partidas da Bundesliga foi apenas 4,5 – muito aquém do seu potencial.
Mesmo assim, Hazard e Sancho parecem ser titulares intocáveis no esquema do técnico suíço.
Outro claro sinal da hesitação de Favre ocorre quando sua equipe sofre um gol. Em vez de se levantar do banco e motivar seus comandados, via de regra ele puxa seu bloco de notas para fazer anotações com sua caneta esferográfica. Reação típica de um obcecado por aspectos táticos. Motivação não é mesmo o forte do treinador. Para ter certeza disso, basta presenciar suas coletivas de imprensa ou ouvir sua fala no vestiário. É um deserto de emoções. E isso num clube cuja torcida vive de fortes emoções.
Desde fins de maio, a diretoria do Borussia Dortmund não deixou nenhuma dúvida sobre qual passou a ser o objetivo do clube para a temporada 2019/2020. "Queremos o título da Bundesliga", palavras de ordem proferidas à exaustão pelos dirigentes Watzke e Zorc antes mesmo de a nova campanha começar.
Curiosamente, a fala do técnico aurinegro que mais se aproximou do discurso otimista dos cartolas foi a de que "nós queremos sempre o máximo". Os mais atentos certamente devem ter percebido a sutil diferença retórica entre as duas afirmações, além de deixar à mostra, mais uma vez, o lado hesitante de Lucien Favre.
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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no Twitter, Facebook e no site Bundesliga.com.br
O Campeonato Alemão de Futebol tem a reputação de formar grandes talentos. Confira jogadores com menos de 21 anos que prometem brilhar nos clubes alemães nesta temporada da Bundesliga.
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Kai Havertz, 20, Bayer Leverkusen
Kai Havertz é a maior promessa do futebol alemão. Em 88 partidas, o meio-campista do Leverkusen marcou 24 gols. Ele é tecnicamente soberbo, forte com os dois pés, consegue cavar espaço, além de marcar e dar assistência a gols. Havertz quer ficar no Leverkusen nesta temporada, mas parece ser apenas uma questão de tempo antes de seguir em frente. O Bayern de Munique já está de olho nele.
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Jadon Sancho, 19, Borussia Dortmund
Inglês que joga na Alemanha, Sancho é uma espécie de pioneiro que está sendo seguido por muitos outros jovens britânicos. O ex-jogador do Manchester City tem velocidade e serenidade, com talento para tomar decisões apesar da tenra idade. Ele foi um dos astros da temporada passada da Bundesliga, marcando 12 gols e fazendo 17 assistências.
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Dayot Upamecano, 20, RB Leipzig
O zagueiro francês (camisa branca) é outro predestinado a brilhar. Figura imponente, Upamecano domina os lances no ar e é veloz. Ele joga duro nas disputas de bola, mas quase sempre é justo. Apesar de lapsos de concentração muitas vezes comuns em jovens jogadores, ele se tornou um dos pilares da defesa mais fechada do Campeonato Alemão.
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Ibrahima Konaté, 20, RB Leipzig
Outro zagueiro do Leipzig que domina tanto no ar quanto no solo. No ano passado, Konaté teve uma temporada soberba, com participação em 43 partidas. O francês é cobiçado por alguns clubes europeus, mas seu contrato vai até 2023. Konaté descreve seu colega Upamecano "como um irmão", e espera-se da dupla uma parceria brilhante também nesta temporada da Bundesliga.
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Alphonso Davies, 18, Bayern de Munique
O canadense nascido em um campo de refugiados na África joga pelo clube bávaro desde janeiro e marcou seu primeiro gol na Bundesliga em março de 2019, contra o Mainz. A saída de Franck Ribéry e Arjen Robben do clube pode dar a Davies mais oportunidades neste ano, especialmente após a lesão de Leroy Sané, do Manchester City, cotado para o Bayern.
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Marcus Thuram, 21, Mönchengladbach
O filho de Lilian Thuram, campeão mundial pela França, está no clube alemão desde julho, depois de impressionar nos franceses Sochaux e Guingamp. Ao contrário de seu pai, um dos melhores defensores de sua geração, Marcus é um jogador ofensivo e prefere jogar pela esquerda ou no ataque. Alto e forte, Thuram é um driblador nato e pode substituir Thorgan Hazard, que foi para o Dortmund.
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Weston McKennie, 20, Schalke
"Com seu caráter e como jogador, Weston personifica muito do que precisamos", diz o técnico do Schalke, David Wagner, sobre o americano McKennie. Devido à sua flexibilidade, o jogador de 20 anos é titular da equipe. Apesar de jovem, ele é um jogador completo, que pode dar a estabilidade necessária ao meio-campo do Schalke.
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Evan N'Dicka, 19, Eintracht Frankfurt
Outro francês, o zagueiro N'Dicka roubou as atenções com o ótimo desempenho do Frankfurt na temporada passada. Excelente na segunda metade da temporada, ele ganhou o prêmio Rookie of the Month da Bundesliga (para menores de 23 anos) em fevereiro. Inteligente e decisivo, o jovem de 19 anos deve ter uma grande temporada pela frente.
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Josh Sargent, 19, Werder Bremen
O atacante americano impactou na temporada passada, ao marcar um gol apenas dois minutos após deixar o banco em sua estreia na Bundesliga. Ele terminou a temporada com dois gols marcados em apenas 205 minutos de jogo. Sargent chegou ao Werder em julho de 2018 e tem contrato até 2022. Florian Kohfeldt, técnico do Bremen, é só elogios ao jogador.
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Jann-Fiete Arp, 19, Bayern de Munique
Espera-se muito da atuação do jovem atacante alemão na equipe bávara, principalmente agora quando os campeões querem aliviar a pressão sobre Robert Lewandowski . Arp causou sensação ao marcar nas suas duas primeiras aparições profissionais, mas não conseguiu brilhar com o Hamburgo na Segunda Divisão. Agora no Bayern, dá um grande passo à frente.
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Tyler Adams, 20, RB Leipzig
O americano Tyler Adams chegou ao Leipzig em janeiro, vindo diretamente de Nova York, e logo pareceu sentir-se bem no novo ambiente. Forte no ataque, perspicaz no passe e com uma cabeça inteligente, Adams é um verdadeiro "allrounder" que pode jogar em diferentes posições.
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Ademola Lookman, 21, RB Leipzig
Outro inglês que seguiu os passos de Sancho, Lookman já havia sido emprestado ao Leipzig. Na temporada 2017/18, jogou 11 partidas pela Bundesliga, marcou cinco gols e fez quatro assistências. Agora, o jovem de 21 anos está de volta ao Campeonato Alemão, depois de o Leipzig tê-lo comprado do Everton FC por 18 milhões de euros. A expectativa é grande!
Foto: picture alliance/AP Photo/J. Meyer
Achraf Hakimi, 20, Borussia Dortmund
O lateral emprestado pelo Real Madrid ao Borussia Dortmund é rápido como uma flecha e um forte driblador. Em 21 jogos da Bundesliga, o marroquino nascido na Espanha marcou dois gols e deu quatro assistências, antes de fraturar o metatarso em abril. Agora está em forma novamente e quer aproveitar sua chance.
Foto: Reuters/L. Kuegeler
Rabbi Matondo 18, Schalke
O galês trocou o Manchester City pelo Schalke e espera ter um impacto semelhante ao de Sancho, que também deixou seu país pela Alemanha. Considerado o jogador mais rápido das fileiras do City, Matondo disputou apenas algumas partidas pelo Schalke no ano passado. Sob o comando do treinador David Wagner, ele deve agora decolar.