Por muito tempo Luiz Inácio Lula da Silva parecia ter perdido sua energia e força de outrora nesta campanha eleitoral. Mas nos últimos dias, o candidato à Presidência mostrou o que já provou muitas vezes como sindicalista, líder trabalhista e presidente por dois mandatos: ele é capaz de costurar alianças – também com políticos que não vêm do campo da esquerda ou que, decepcionados, se afastaram dele no passado.
Enquanto o presidente Jair Bolsonaro estava em Londres e na Assembleia Geral da ONU e se portava de maneira desajeitada, como costuma fazer em palcos internacionais, Lula participava de um ato com vários ex-candidatos à Presidência e políticos influentes que querem apoiá-lo. E, com cada um desses novos aliados, conseguiu abordar um potencial eleitoral precisamente definido.
O maior impacto veio da presença de Henrique Meirelles, que foi presidente do Banco Central nos dois mandatos de Lula, de 2003 a 2011. Depois disso, o renomado banqueiro foi ministro da Fazenda por dois anos, sob o presidente conservador Michel Temer. Tanto no comando do Banco Central quanto como ministro, Meirelles foi visto como um garantidor da estabilidade da política monetária. Após ele anunciar que agora apoiará Lula, o dólar teve forte queda frente ao real, e a bolsa subiu.
Dado o vago programa econômico de Lula, o mercado financeiro questiona se ele é o candidato acertado. Mas, na visão de investidores, com Meirelles como apoiador e possível ator num futuro governo, aumentam as chances de o Brasil implementar uma política orçamentária responsável sob Lula.
O ato com Lula também contou com a participação de Cristovam Buarque, ex-ministro da Educação do petista. Ele foi demitido pelo então presidente depois de apenas um ano e deixou o partido. Buarque é considerado um dos mais renomados especialistas em educação do país. Lula já disse que quer relançar programas como o Fies e o Prouni, demonstrando que a política de educação será importante para ele.
Sentada ao lado de Buarque estava a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que já havia declarado publicamente seu apoio a Lula há uma semana. Marina ajudou a fundar o PT e fez parte do gabinete de Lula por cinco anos antes de pedir demissão.
Agora a campanha de Lula comemora o apoio de Marina, um ícone de credibilidade do movimento ambientalista brasileiro e popular entre os jovens devido à sua autenticidade. Ela também é evangélica. Lula vem tendo dificuldades de angariar votos entre representantes de igrejas pentecostais.
Com Marina, Lula também demonstra que pode se apresentar como o grande conciliador que o Brasil precisa urgentemente diante da crescente polarização.
Segundo a campanha de Lula, mais aliados devem se juntar ao barco do petista nos próximos dias. E é bem possível que a abordagem inclusiva de Lula na reta final da campanha possa lhe assegurar a vitória já no primeiro turno, em 2 de outubro.
Na mais recente pesquisa do Ipec, realizada ainda antes do anúncio das novas alianças, Lula ampliou sua liderança, aparecendo com 47% das intenções de voto. Considerados apenas os votos válidos, a pesquisa indica que o ex-presidente poderia vencer Bolsonaro já no primeiro turno, com 52%.
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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.
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