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Terrorismo

A longa tradição dos mercados de Natal na Alemanha

Gaby Reucher | Laura Döing fc
21 de dezembro de 2016

Surgidas na Idade Média, as feiras natalinas são vistas pelos alemães como um refúgio da vida cotidiana. Ataque a mercado em Berlim é também um atentado à alegria despreocupada associada ao evento, afirma especialista.

Deutschland Christkindlesmarkt Nürnberg 2015
A primeira menção escrita ao Christkindlmarkt, de Nurembergue, é de 1628Foto: picture alliance/dpa/D. Karmann

O aroma de amêndoas torradas, vinho quente e biscoitos doces paira no ar. Músicas festivas tocam nos alto-falantes, e, no palco, corais infantis cantam músicas natalinas. Na Alemanha, o mercado de Natal é um lugar de felicidade e aconchego.

"É um refúgio da vida cotidiana, e é isso que as pessoas amam", afirma o pesquisador de tradições Manfred Becker-Huberti.

A alegria das feiras natalinas na Alemanha é procurada por cerca de 85 milhões de alemães e estrangeiros a cada ano. Em 2013, foram contabilizadas 1.450 mercados do tipo espalhados pelo país. Exatamente essa alegria despreocupada foi o objetivo do atentado contra a feira de Natal na praça Breitscheidplatz, no coração de Berlim, nesta segunda-feira (19/12).

"Acredito que o sentido deste ataque também seja mostrar que as pessoas estão vulneráveis nesta situação. Num local onde as pessoas expressam não força, mas sentimento, e onde são especialmente vulneráveis. Ter justamente esse lugar como alvo é o que especialmente nos atinge. Isso é o perverso neste atentado", diz Becker-Huberti.

O aspecto religioso dos mercados de Natal não seria tão relevante, afirma o especialista, pois originalmente as feiras de Natal não tinham nada a ver com a religião cristã.

Um dos mercados natalinos mais antigas da Alemanha é o Striezelmarkt, em Dresden, fundado em 1434. A primeira referência escrita ao mundialmente famoso Christkindlmarkt, de Nurembergue, data de 1628.

Na Idade Média, os primeiros mercados tinham pouco apelo espiritual, mas ofereciam todos os tipos de utilidades para casa, aponta Becker-Huberti. O trabalho no campo era pausado no inverno. A população precisava, então, de suprimentos, roupas quentes e especiarias para a estação mais fria do ano.

Por essa razão eram realizados na época do Natal os mercados na praça da igreja. "Se a pessoa vinha de fazendas afastadas para a pequena cidade com o objetivo de comprar algo, ela se encontrava com pessoas que quase não via durante todo o ano, quer dizer, havia sempre um caráter social. Os mercados ofereciam possibilidades de entrar em contato e conversar com outras pessoas", diz Becker-Huberti.

O Striezelmarkt, em Dresden, é uma das feiras natalinas mais antigas da AlemanhaFoto: picture-alliance/dpa/S. Kahnert

A influência de Lutero

A Reforma Protestante transformou os mercados de Natal. Martinho Lutero queria abolir os santos católicos – especialmente São Nicolau. E ele tentou isso com a seguinte estratégia: a tradicional entrega de presentes realizada no Dia de São Nicolau, em 6 de dezembro, deveria ser realizada no Natal. Dessa forma, Lutero queria tirar o ato de presentear das mãos de São Nicolau para, finalmente, torná-lo totalmente dispensável, afirma o especialista Becker-Huberti.

Por isso que, em muitos lugares, da Alemanha e de outros países europeus, não é o São Nicolau que traz os presentes na véspera do Natal, mas o Menino Jesus. "Se alguém precisava de coisas para o Natal que não podiam ser produzidas pela própria pessoa, ela procurava os mercados de Natal, que originalmente eram focados em mercadorias totalmente diferentes", afirma.

Assim nascia o mercado de Natal moderno – e nele não havia somente gado e mercadorias, mas também decoração para árvore de Natal e presentes.

Mercados de Natal e diversidade

Desde a segunda metade do século 20, verifica-se um crescimento constante do consumo nos grandes mercados natalinos, aliado à venda de vinho quente e bugigangas. Mas ainda existem muitas feiras de Natal pequenas e personalizadas.

A variedade na Alemanha é grande: desde mercados de contos de fadas até veganos, passando por feiras LGBT. Os mercados de Natal se tornaram um bem cultural de exportação. É possível encontrá-los de Osaka, no Japão, até Chicago, nos EUA – onde há, inclusive, uma "filial" do mercado de Natal de Nurembergue, o Christkindlesmarkt.

A feira de Nuremebergue é conhecida principalmente por seu Lebkuchen (pão de mel natalino), repleto de especiarias, as quais eram comercializadas na cidade na Idade Média. Todos os anos, uma jovem representa o Menino Jesus usando uma peruca loira e asas douradas.

O Christkindlesmarkt, um dos mercados de Natal alemães mais conhecidos no exterior, também valoriza a antiga tradição do artesanato, explica Michael Fraas, encarregado de economia de Nurembergue. Ele e sua equipe são responsáveis pela organização do mercado de Natal.

"Em essência, é um mercado tradicional, e isso nós valorizamos. A maioria dos estandes oferece artesanato. Nós não queremos que a feira se torne puramente um local só para se beber", diz.

Medidas de segurança mais rigorosas nos mercados de Natal

Fraas viveu por 11 anos em Berlim e conhece o mercado localizado na praça Breitscheidplatz, onde um caminhão avançou contra a multidão na noite desta segunda-feira.

"Isso atinge naturalmente o lado emocional quando se é responsável por um dos mercados de Natal mais famosos. Antes, alguns disseram: 'tem que ter tantos policiais por aqui?' Agora, muitos dizem 'que bom que a polícia está aqui'", afirma.

Após o atentado em Berlim, a polícia reforçou as medidas de segurança em muitos mercados de Natal na Alemanha. Na capital, mais policiais deverão fazer patrulhamento e, além disso, proteções de concreto deverão bloquear as vias de acesso aos principais mercados de Natal, como, por exemplo, o Striezelmarkt, de Dresden. 

Fraas diz que não deixará de ir com os filhos ao mercado de Natal nos próximos dias. Becker-Huberti afirma o mesmo. "Acredito que as pessoas não deixarão que iso seja tirado delas – e elas são inteligentes se não o fizerem. Tomar cuidado é uma coisa, fugir de medo é outra. Exatamente esse medo não podemos mostrar e não podemos deixá-lo dominar em nossos corações", opina o especialista, acrescentando que continuará visitando os mercados de Natal.

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