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A luta da América Latina para conter o coronavírus

Camilo Toledo ip
21 de julho de 2020

Apesar das rigorosas restrições de circulação impostas pelos governos, número de infectados aumenta constantemente e achatamento da curva de infecção ainda parece estar longe de se tornar realidade. 

Ecuador Coronavirus
No centro de Quito, capital do Equador, muitos aderiram à proteção de nariz e bocaFoto: picture-alliance/AP Photo/D. Ochoa

O novo coronavírus segue sua marcha pela América Latina. Mais de 3,5 milhões de pessoas na região estão infectadas com Sars-Cov-2. Com mais de 150 mil mortes, a América Latina apresenta a segunda maior taxa de mortalidade. As consequências da pandemia impõem uma pressão sobre os frágeis sistemas de saúde da região e revelaram graves deficiências, apesar das restrições prévias e drásticas do governo. O achatamento da curva ainda parece uma perspectiva distante.

De acordo com a Universidade Johns Hopkins, quatro dos dez países mais afetados do mundo estão na América Latina: o Brasil tem mais de 2 milhões de casos confirmados, o Peru e o México têm cerca de 350 mil cada e o Chile, 330 mil. Os países menores também são seriamente afetados, incluindo o Equador, com mais de 70 mil infectados e mortes que já ultrapassam 5 mil. Quito, capital do país, encontra-se atualmente em modo de crise, pois não há mais leitos de terapia intensiva disponíveis. Muitas pessoas se perguntam se as rigorosas restrições de circulação impostas há mais de três meses não surtiram efeito. 

Os trabalhadores de baixa renda e o legado da América Latina

"O toque de recolher teve que ser imposto. As medidas estritas tomadas pelos governos latino-americanos salvaram muitas vidas, mas são falíveis, pois não houve redução de casos", disse à DW Felix Drexler, virologista do hospital Charité, em Berlim. Segundo ele, isso se deve em parte à alta porcentagem de pessoas ativas no setor informal. "Em resumo, o pai sai para um dia de trabalho e a mãe vai fazer compras no supermercado. Assim, em algum momento, alguém é infectado. É inevitável", afirma.

O virologista Felix DrexlerFoto: Charité Berlin

Pelo menos 140 milhões de pessoas na América Latina e no Caribe trabalham no setor informal, de acordo com um relatório recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Isso significa que cerca da metade da força de trabalho da região realiza trabalhos mal remunerados e não aparece nas estatísticas oficiais. A pandemia tem o potencial de aumentar ainda mais esse número: além das 26 milhões de pessoas que estavam desempregadas antes do surto, outras 15 milhões perderam o emprego durante a quarentena. Para a agência da ONU, isso representa um número recorde em meio a "uma crise econômica e social sem precedentes".

Outro fator frequentemente negligenciado é o número de latino-americanos que não têm geladeira. "A classe média pode comprar comida por duas semanas ou encomendá-la para entrega a domicílio, mas os mais pobres não têm meios de pagar alguém para levar as compras para casa. Eles não têm uma geladeira para estocar suprimentos", disse Drexler, que, em nome da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ), tem fornecido apoio a vários países da região na luta contra a pandemia.

Michael Touchton, pesquisador do Observatório de Políticas da Covid-19 para a América Latina, da Universidade de Miami, concordou que esses são fatores-chave e acrescentou que mercados abertos e feiras em países como Equador, México ou Peru devem ser fechados, porque lá dificilmente se consegue manter uma distância segura entre as pessoas. 

"Esses são os epicentros da pandemia", disse Touchton, acrescentando que as autoridades devem realizar controles mais rígidos.

Novas sepulturas para os mortos do coronavírus: o Brasil é particularmente afetado pela pandemiaFoto: Reuters/A. Perobelli

No Peru, por exemplo, a assistência financeira estatal foi paga pelos bancos. Como muitas pessoas não têm uma conta corrente, elas simplesmente compareceram pessoalmente, o que levou à formação de longas filas.

Em vez de procurar "culpados", Felix Drexler disse que as altas taxas de infecção também podem ser atribuídas ao "triste legado" do continente. "O baixo investimento público em saúde e educação são problemas que precedem a crise do coronavírus, o que também contribui para o fato de uma grande porcentagem de pessoas trabalhar no setor informal para ganhar seu sustento".

Restrições de circulação intermitentes

Vários governos latino-americanos estão tentando diminuir as restrições, o que suscitou a preocupação com um novo aumento de infecções e o medo de um novo lockdown. Toques de recolher seletivos como os da Alemanha podem ajudar a recuperar a economia, argumentou o virologista alemão. No entanto, ele admitiu que o número de casos deve ser "suficientemente pequeno para controlá-los localmente".

"No momento, seria difícil experimentar isso na América Latina", ponderou.

Michael Touchton disse ser impossível dizer quais países têm apresentado melhor ou pior desempenho na luta contra o coronavírus, porque "sem testes padronizados, não temos a mesma base de dados". O Chile, por exemplo, tem altas taxas de infecção, o que se deve ao alto número de testes realizados.

O inverso acontece na Colômbia, disse ele, e isso sem falar em Cuba, Nicarágua e Venezuela, onde os números divulgados "não fazem o menor sentido". Touchton está convencido de que "os toques de recolher, sem testes e rastreio dos casos, são absolutamente inúteis".

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