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EsporteGlobal

A luta de atletas paralímpicos refugiados por visibilidade

Ronny Blaschke
23 de agosto de 2021

Doze milhões de imigrantes no mundo têm deficiência, mas ainda é árdua a busca por inclusão e visibilidade. Nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, atletas refugiados querem deixar claro que não são um fardo, mas inspiração.

Atleta de óculos de sol e camiseta azul lançando disco
O atleta Shahrad Nasajpour nasceu no Irã, mas hoje vive e treina nos EUAFoto: Christian Petersen/Getty Images

O iraniano Shahrad Nasajpour mal falava inglês quando chegou aos Estados Unidos em 2015, como refugiado político. "Eu estava totalmente sozinho, sentia falta da minha família", diz em entrevista por vídeo à DW. "Tive de encontrar meu caminho neste novo mundo."

O atleta de 31 anos nasceu com paralisia cerebral, o que prejudica sua mobilidade no lado esquerdo do corpo. Sempre interessado em esportes, ele primeiro jogou tênis de mesa e depois mudou para o lançamento de disco e arremesso de peso.

Nasajpour chegou a representar o Irã nos Jogos Mundiais de Cadeirantes e Amputados (IWAS World Games) em 2011 em Dubai, mas repetidamente entrou em conflito com as regras religiosas da República Islâmica. Por exemplo, quando apertou a mão de uma mulher em uma competição.

Eventualmente as autoridades iranianas o impediram de treinar, sua situação se tornou perigosa, e ele acabou fugindo para os EUA e pedindo asilo.

Ex-soldado alemão vai aos Jogos Paralímpicos

02:15

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A rotina de Nasajpour ficou mais segura, mas não mais simples. Ele aprendeu inglês, viajou de estado em estado, procurou organizações que o ajudassem.

Foi quando, em 2016, o Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou uma equipe de refugiados para os Jogos Olímpicos no Rio. "E os Paralímpicos?", perguntava-se Nasajpour. Ele então escreveu um e-mail ao COI, que o encaminhou ao Comitê Paralímpico americano.

Mas para competir no Rio pelos Estados Unidos, Nasajpour precisaria da cidadania americana, e o processo demoraria muito. Ele continuou a mandar e-mails e, em agosto de 2016, o Comitê Paralímpico Internacional (CPI) anunciou uma equipe independente de dois refugiados para os Jogos de 2016: um deles era Shahrad Nasajpour. Aqui, a nacionalidade não importava.

Ativismo político no esporte

Há mais de 82 milhões de refugiados em todo o mundo, e 12 milhões deles são pessoas com deficiência. Em meio a conflitos como a crise no Afeganistão, é provável que esses números aumentem.

"Depois de todos os desafios e obstáculos da minha vida, o esporte voltou a me dar confiança", diz Nasajpour. "Podemos mostrar nos Paralímpicos que os refugiados e os requerentes de refúgio não são um fardo. Podemos inspirar as pessoas."

Porta-bandeira da equipe de refugiados na cerimônia de encerramento no Rio, ele estará de volta à competição nesta terça-feira (24/08), quando começam os Jogos Paralímpicos de Tóquio.

Nesta edição, a equipe de refugiados do CPI tem seis atletas, sendo cinco homens e uma mulher. Suas biografias são marcadas por conflitos, terror e perseguição, mas também por determinação, empatia e solidariedade.

Um exemplo é Parfait Hakizimana, do Burundi, na África Oriental. Quando a mãe dele foi morta por rebeldes, ele também foi baleado, e seu braço esquerdo ficou paralisado. Desde 2015 Hakizimana vive em um campo de refugiados em Ruanda, onde abriu um centro de taekwondo para crianças e jovens. Ao competir nessa modalidade em Tóquio, ele realizará um sonho.

O mesmo acontece com Alia Issa. Criada na Grécia depois que sua família fugiu da Síria, ela teve varíola aos 4 anos de idade. As febres altas a deixaram com danos cerebrais, e desde então ela depende de uma cadeira de rodas. Discriminada na escola por suas dificuldades de fala, a prática de bocha e atletismo a ajudaram a se sentir vencedora.

Atualmente, ao lado de ativistas e políticos, Alia Issa defende os direitos de pessoas com deficiência, fazendo lobby − entre outros − junto ao governo grego. Ela está entre as esperanças de medalha na prova de lançamento de club.

O legado de um médico refugiado

O movimento paralímpico é o legado de um médico forçado a fugir da guerra e da perseguição. O neurologista alemão Ludwig Guttmann chegou à Inglaterra em 1939. No hospital da vila de Stoke Mandeville, no noroeste de Londres, ele revolucionou o tratamento de pacientes paraplégicos, valorizando o papel do esporte na reabilitação física de pessoas com deficiência. Seus pacientes logo viram que a prática de exercícios físicos fortalece o sistema imunológico e aumenta a expectativa de vida.

Em 1948, Guttmann organizou uma competição de tiro com arco e tênis de mesa para soldados feridos. Reunindo refugiados e ex-soldados, os jogos de Stoke Mandeville começaram no mesmo dia em que os Jogos Olímpicos de Londres naquele ano.

Em 1960, a ideia de Guttmann resultou na primeira edição dos Jogos Paralímpicos, em Roma. Desde então, refugiados têm competido sob as bandeiras de seus países de asilo.

Ileana Rodriguez competiu pelos EUA nas Paralimpíadas de 2012 em LondresFoto: Mike Ehrmann/Getty Images

Em entrevista em vídeo, Ileana Rodriguez, coordenadora da equipe de refugiados, diz que o grupo espera honrar esse legado em Tóquio. "Nossos atletas podem influenciar a percepção de muitas pessoas que têm uma imagem negativa dos refugiados."

Rodriguez, que vive com uma lesão na medula espinhal, era adolescente quando fugiu de Cuba para Miami com sua família. Isolada, foi na piscina que ela conseguiu enxergar seu próprio potencial. A atleta participou dos Jogos Paralímpicos de Londres em 2012 e, mais tarde, se tornou representante dos atletas no comitê paralímpico dos EUA.

Como chefe da equipe de refugiados, Rodriguez organizou recentemente várias videoconferências com os atletas, em diferentes idiomas e fusos horários. "É preciso energia. Mas a conscientização nos Paralímpicos nos ajuda a defender os direitos das pessoas com deficiência."

"É importante olhar para questões estruturais"

Os atletas refugiados nas Paralimpíadas têm grande poder simbólico, mas a verdadeira extensão de sua influência ainda está por vir, afirma Ali Alssalami, ativista da inclusividade na iniciativa alemã Sozialhelden.

Alssalami, que vive em Colônia, pratica basquete em cadeira de rodas e é alpinista. Quando criança, ele e seus pais fugiram do Iraque, inicialmente para a Argélia e depois para a Alemanha.

"É importante olhar para questões estruturais, além dos grandes eventos", diz. "O alojamento dos refugiados na Alemanha é acessível? A quem as pessoas recorrem para obter apoio social? Onde elas podem praticar esportes? Procuro temas como esses na mídia, mas em vão."

Talvez os Jogos Paralímpicos possam ajudar a melhorar isso, pelo menos um pouco, espera Alssalami.

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