Só um em cada cinco participantes do Fórum Econômico Mundial é mulher. Personalidades que sirvam de exemplo são necessárias para combater a desigualdade de gênero na política e na economia, apontam mulheres no evento.
Anúncio
Quando Marin Alsop fala sobre sua performance em Davos, ela fica visivelmente orgulhosa. A maestrina geralmente rege a Orquestra Sinfônica de Baltimore, mas na abertura do Fórum Econômico Mundial, em Davos, ela conduziu uma orquestra exclusivamente feminina – reunida especificamente para o evento e a pedido dela. "Foi fascinante. E você notou que havia três mulheres na seção de contrabaixo?", lembra ela, animada, em entrevista à DW.
Alsop tem feito lobby por mais mulheres em orquestras há muitos anos, enquanto a música clássica continua sendo um domínio masculino. Primeira regente feminina a liderar uma importante orquestra dos Estados Unidos, ela vem promovendo jovens maestrinas por meio de seu próprio programa de bolsas de estudos para dirigentes, chamado Taki Concordia Conducting Fellowship.
A igualdade de gênero é uma questão com que ela se preocupa profundamente. Alsop diz ser importante que mulheres jovens tenham modelos femininos em posições de liderança. Isso vale para a música, mas naturalmente para outras áreas também.
Em Davos, a regente foi homenageada com o Crystal Award, concedido a artistas e figuras culturais cuja liderança inspira mudanças inclusivas e sustentáveis.
Mas Alsop também observa que a diversidade ainda é um trabalho ao qual tem que ser dada continuidade na reunião das elites de Davos. O fórum ainda é dominado por homens, lembra ela. Atualmente, apenas um quinto dos participantes são mulheres, cujo número aumentou apenas 1% desde o ano passado. Ainda existe uma lacuna significativa entre o que se espera e a realidade.
"A questão é um reflexo da realidade", admitiu recentemente Alois Zwinggi, diretor-geral do Fórum Econômico Mundial, em uma entrevista. E, com isso, o evento reconhece que a maioria das posições de liderança, seja em negócios ou política, ainda é ocupada por homens.
Ann Cairns, vice-presidente da Mastercard, uma prestadora de serviços financeiros com mais de 11 mil funcionários, não está satisfeita com isso. "Queremos ver algumas personalidades visíveis que sirvam de modelo", diz ela, enfatizando que "igualdade de gênero não é uma coisa da moda".
Cairns é a mulher com mais alto posto da Mastercard e tem participado frequentemente do Fórum Econômico Mundial há muitos anos.
Ela afirma que a empresa tem feito um trabalho duro para redesenhar seu processo de contratação, para que este seja neutro em termos de gênero. "Queremos cobrir todo o espectro da diversidade", enfatiza Cairns. "Como conseguimos [contratar] mulheres, como podemos obter minorias ou a comunidade LGBT?" Ela diz que seria mais fácil recrutar mulheres para futuras posições de liderança se tais posições já estivessem visivelmente ocupadas por mulheres.
Essa também é a estratégia do Fórum Econômico Mundial. "Noventa e cinco por cento de todos os painéis com três ou mais palestrantes têm participantes do sexo masculino e feminino", diz Oliver Cann, do departamento de comunicação do evento. Isso é uma melhoria, porque há apenas alguns anos os painéis de discussões eram geralmente realizados exclusivamente por homens.
"A representação feminina no Fórum Econômico Mundial é extremamente importante como um sinal para o mundo dos negócios", concorda Julie Teigland, sócia-gerente da empresa de auditoria EY. "No entanto, acredito que isso é um processo e não pode acontecer da noite para o dia. Acho que forçar a participação de mulheres no fórum – e o mesmo vale para o âmbito dos negócios –não seria a coisa certa a se fazer agora."
Caminhos não oficiais
Algumas empresas e iniciativas adotam uma abordagem completamente diferente no encontro de Davos. Fora da ampla zona de segurança, eles organizam seus próprios eventos abordando a questão da igualdade de gênero.
O Equality Lounge é um lounge aconchegante, onde os principais palestrantes falam em frente a um público predominantemente feminino durante três dias do Fórum Econômico Mundial. O clima é alegre, as discussões são sérias. "Por que a diversidade deve ser uma meta de negócios", "Mulheres mudando a trajetória de confiança" e "Como estamos desafiando as normas de gênero" são alguns dos títulos das discussões, que poderiam ser destaques no programa oficial de Davos.
Julie Teigland, da EY, olha para além da mera proporção entre mulheres e homens. "Precisamos de uma liderança que reflita a diversidade de nossa sociedade. Sou otimista e acho que estamos no caminho certo em termos do que está sendo feito para dar às mulheres um lugar cada vez maior à mesa. Tenho esperança de que em poucos anos a igualdade de gênero não será mais um tópico de discussão aqui em Davos, mas uma questão do passado."
Do direito ao voto ao espaço na política: ao longo dos últimos cem anos as mulheres alemãs lutaram para derrubar leis e convenções que hoje soam impensáveis.
Foto: picture-alliance/akg-images
O direito ao voto
Em 1918, o Conselho dos Deputados da Alemanha proclamou: "Todas as eleições serão conduzidas sob o mesmo sufrágio secreto, direto e universal para todas as pessoas do sexo masculino e feminino com pelo menos 20 anos de idade". Logo depois, as mulheres puderam votar, pela primeira vez, nas eleições para a Assembleia Nacional alemã, em janeiro de 1919.
Foto: picture-alliance/akg-images
Lei de Proteção à Maternidade
A Lei entrou em vigor em 1952. Desde então, passou por várias alterações. O objetivo é assegurar a melhor proteção possível da saúde da mulher e do filho durante a gravidez, após o parto e durante a amamentação. Mulheres não podem sofrer desvantagens na vida profissional por causa da gravidez nem seu emprego pode ser ameaçado pela decisão de ser mãe.
Em 1971, Alice Schwarzer publicou na revista Stern um artigo no qual 374 mulheres confessaram ter interrompido a gravidez; entre elas, Romy Schneider. Após a publicação, dezenas de milhares de mulheres foram às ruas protestar a favor da maternidade autodeterminada. Em 1974, a coalizão social-liberal aprovou no Parlamento a descriminalização do aborto nos três primeiros meses da gestação.
Foto: Der Stern
Mais estudantes e professoras nas universidades
Em 1976, foi realizado em Berlim o evento "1° Universidade de Verão para as mulheres". Entre as exigências, as precursoras pediam o aumento da participação das mulheres entre estudantes e professoras, que era de 3 %. Em 1970, o percentual de estudantes passou para 9%. Hoje, ele chega a 48%. Em 1999, o número de professoras era de cerca de 4 mil. Hoje, elas são 11 mil em toda a Alemanha.
Foto: picture alliance/ZB/J. Kalaene
Livre da obrigação do serviço doméstico
Em 1977, entrou em vigor a nova lei de matrimônio. Até então, a esposa era "obrigada ao serviço doméstico". Ela só poderia trabalhar se não negligenciasse suas tarefas do lar e se o marido consentisse. Em 2014, 70% das mães trabalhavam fora; 30% em tempo integral e quase 40% em meio período. Entre os casais com crianças, a mulher alemã contribui com uma média de 22,6% da renda familiar.
Foto: picture-alliance/akg-images
Igualdade salarial
Em 1979, 29 funcionárias processaram o laboratório fotográfico Heinze, em Gelsenkirchen, pelo direito de ter a mesma remuneração por trabalhos iguais. Elas venceram: em 1980, o Parlamento alemão aprovou a lei sobre igualdade de tratamento de homens e mulheres no trabalho. Mas ainda há muito o que fazer: em , as mulheres ganharam 18% a menos por hora trabalhada do que os homens.
Foto: picture-alliance/chromorange
Pilotas da Lufthansa
Em 1986, a companhia aérea alemã Lufthansa permitiu, pela primeira vez, que duas mulheres completassem a formação de piloto. Elas são: Erika Lansmann e Nicola Lunemann (na foto). Hoje, nas diversas companhias aéreas do grupo, 417 mulheres trabalham como co-pilotas e 114 são comandantes.
Foto: Roland Fischer, Lufthansa
Trabalho noturno
Em 1992, o Tribunal Constitucional Federal revogou a proibição do trabalho noturno para mulheres. O Tribunal declarou que a alegada proteção estava associada com salários mais baixos e "desvantagens consideráveis". Na antiga Alemanha Oriental, as mulheres tinham sido autorizadas a praticar todas as profissões desde o início, a qualquer hora do dia ou da noite.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gerten
Sexo sem consentimento
Em 1997, a violação sexual no casamento passou a ser considerada crime. O Bundestag decidiu por uma maioria esmagadora que os maridos estupradores já não tinham direitos especiais. A ideia de que seria uma "ofensa menor de coerção" foi abolida. Todos os "atos sexuais" forçados passaram a ser punidos como estupro.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Kästle
Mulheres na política
Depois de conquistarem o direito ao voto na maior parte dos países, as mulheres tentam alcançar a mesma proporção de participação política que os homens. Em 1949, o percentual de alemãs no Bundestag era de 6,8%. Atualmente, elas são 35,3%. A primeira mulher a chefiar o governo foi Angela Merkel, em 2005. Em 2018, ela chegou ao quarto mandato como chanceler federal, cargo que exerceu até 2021.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Tarefas domésticas
Hoje as mulheres alemãs também lutam por direitos iguais em relação às tarefas domésticas e ao cuidado com familiares. Em 1965, elas exerciam esse trabalho durante, em média, quatro horas por dia; os homens, 17 minutos por dia. Atualmente as mulheres ainda gastam 43,8 pontos percentuais a mais de tempo com tarefas domésticas do que os homens: são quase 30 horas semanais, contra 20 dos homens.
Foto: Imago/O. Döring
O futuro
Para despertar o interesse das meninas em profissões antes consideradas masculinas, especialmente na indústria, desde 2001 empresas alemãs convidam meninas do 5º ano para o 'Girls day'. O dia das meninas é considerado o maior projeto de orientação profissional do mundo e, graças a ele, cada vez mais jovens mulheres decidem seguir carreira da área de ciências exatas na Alemanha.