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A meta de zero líquido de CO2 até 2050 é realista?

Gianna-Carina Grün | Rodrigo Menegat Schuinski
29 de novembro de 2023

Aumenta pressão sobre líderes presentes à COP28 para impedir que mudanças climáticas se acelerem ainda mais. Mas, mesmo com avanço das energias renováveis, fim do uso de combustíveis fósseis continua distante.

Painéis de energia fotovoltaica e turbina eólica em campo florido
Fontes renováveis de energia, como a solar e a eólica, avançam segura, mas lentamenteFoto: VRD - Fotolia

Para chegar ao zero líquido de emissões carbônicas e criar economias neutras em termos de CO2, os países precisam retirar da atmosfera uma quantidade de dióxido de carbono igual à que emitem. Ou, melhor ainda, não emitir nada. Porém, os progressos feitos nos últimos anos foram pequenos.

1. Quanto a humanidade depende de combustíveis fósseis?

Abandonar o carvão mineral, petróleo e gás natural seria um primeiro passo importante na direção da neutralidade carbônica. Contudo, a maior parte das economias ainda depende seriamente de combustíveis fósseis, e a quota das fontes renováveis na matriz energética só cresce lentamente.

Segundo a organização de empresas do setor energético Energy Institute, os atuais líderes regionais em consumo energético de fontes renováveis são a Noruega na Europa (72%), Brasil nas Américas (49%), Nova Zelândia na Ásia-Pacífico (43%), Marrocos na África (7%) e Israel no Oriente Médio (6%).

Enquanto isso, países como Arábia Saudita, Argélia, Trinidad e Tobago e Turquemenistão ainda dependem dos combustíveis fósseis para mais de 99% de sua energia. Com 91%, a Polônia apresenta a maior cota na Europa.

No entanto os maiores focos de usinas movidas a carvão mineral estão em outros locais: das 6.550 centrais em atividade, 3.115 se situam na China, 842 na Índia e 424 nos Estados Unidos. Essas posições no ranking não foram alteradas mesmo após esses três países terem, ao todo, desativado, aposentado e cancelado 3.850 usinas a carvão desde o ano 2000, de acordo como o Monitor Global de Energia, uma ONG que analisa dados do setor energético.

Para se ater ao Acordo de Paris, de 2015, o mundo precisa abandonar rapidamente o carvão. Segundo o think tank Climate Analytics, até o fim da década seria necessário reduzir os níveis de consumo em 80% em relação a 2020 – ou seja: de cerca de 9.300 terawatts/hora para 1.700 terawatts/hora.

2. De onde vem a energia para aquecimento e eletricidade?

O consumo total de energia apresentado acima se distribui por três setores: transportes, eletricidade e calefação. Uma análise da Agência Internacional de Energia (AIE) conclui que "prover aquecimento a lares, indústria e outras aplicações responde por cerca da metade do consumo total de energia".

Atualmente, aproximadamente 10% dessa energia é oriunda de fontes renováveis, cota que deverá dobrar até 2030, estima a AIE. Em edifícios compartilhados, com apartamentos alugados, não há sempre a possibilidade de escolher a forma de calefação, mas em geral os consumidores podem optar por sua fonte de eletricidade.

O Oriente Médio é atualmente a região com a menor percentagem de uso fontes renováveis para a eletricidade (3%). Outras, como a África (22%) e, em especial, a América Latina e Caribe (56%), tem um desempenho muito melhor, ainda mais se for considerado que as três produzem quantidades semelhantes de energia.

A geração de eletricidade é também importante para a transição do setor de transportes a um futuro de neutralidade carbônica. Os veículos elétricos continuarão sendo nocivos ao clima se a energia usada para carregá-los for gerada por combustíveis fósseis.

3. Como o setor de transportes está se transformando?

O progresso é lento. Embora em geral o número de automóveis vendidos esteja caindo, a grande maioria ainda tem motores a combustão: dos 74,8 milhões de veículos adquiridos em 2022, apenas 14,4% (quase 11 milhões) eram elétricos.

 

Para outros meios de transporte poluentes, como a aviação – responsável por 2,5% das emissões carbônicas totais –, ainda não existem alternativas dignas de nota. A Airbus anunciou que pretende desenvolver até 2035 uma aeronave movida a hidrogênio para viagens comerciais.

4. Como está a proteção dos ecossistemas?

A resposta curta é: não tão bem quanto deveria estar. Apesar das diversas iniciativas de expansão florestal, por todo o mundo, nas últimas décadas – culminando entre 2000 e 2010, quando se plantaram 10 milhões de hectares por ano –, o que está se acelerando é o desmatamento.

A alteração líquida da área florestal nas décadas passadas mostra que os esforços de plantar novas árvores na América do Sul e na África não têm bastado para compensar as abatidas.

O fato chama especialmente a atenção por essas duas regiões ostentarem a maior área de florestas em zonas protegidas – o que leva a questionar até que ponto essa proteção é eficaz.

5. Como evoluiu o investimento nas fontes renováveis de energia?

As energias renováveis estão em trajetória ascendente. Segundo a AIE, nos últimos anos elas atraíram mais investimentos do que os combustíveis fósseis ou a energia nuclear. Se em 2015 mais de metade de todos os investimentos foram em combustíveis fósseis, em 2023 estima-se que esse valor tenha caído para pouco mais de um terço.

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